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O veneno das tarifas de ônibus

Enquanto o expurgo da propina não for feito, fica a pergunta: o que houve com a "caixinha dos empresários"? Ela foi incorporada ao lucro dos empresários ou está seguindo por outra estrada, outro endereço, outra direção?

Edição: 249
Data da Publicação: 05/07/2019

Enquanto os deputados estaduais continuam presos, inclusive o ex-presidente da Alerj, Jorge Picciani, por causa da "caixinha dos empresários de ônibus" que se cotizavam para ter melhores tarifas e melhores linhas, o preço das tarifas de ônibus das linhas estaduais ainda continua sem ser recalculado. Por mais difícil que seja, é necessário o expurgo de anos e anos da "caixinha" dos empresários. Não é só a população que está pagando caro por um serviço péssimo de péssima qualidade, ultrapassado e arcaico que os empresários vêm prestando, mas todos os empregadores que pagam, praticamente sozinhos, o Vale Transporte dos seus funcionários. É a sociedade arcando e bancando essa baderna.

O efeito cascata

Os municípios "copiam e colam" os reajustes

Mais do que isso, no rastro dos reajustes estaduais dos aumentos de tarifas, estão a dos municípios pequenos que têm pouca estrutura e muita preguiça para fazerem o cálculo de suas tarifas e acabam sucumbindo a "aceitar", ilegalmente, os percentuais autorizados pelo governo estadual, como se as linhas estaduais e as dos municípios tivessem a mesma realidade, tivessem uma metodologia planificada de interesse dos empresários. Cada linha tem sua realidade e isso não é levado em consideração.

O governo estadual ainda utiliza a fórmula "GEIPOT" para calcular os reajustes. O GEIPOT era um órgão do Ministério dos Transportes que calculava os reajustes das linhas de ônibus federais, que são aquelas que vão de um estado a outro, como a linha Rio - São Paulo. Entretanto, o GEIPOT não existe há mais de 10 anos, e provavelmente, se existisse, já teria mudado essa fórmula.

Miguel Pereira entendeu e luta por um reajuste justo

Dentro desse quadro caótico e desse submundo que se tornou as tarifas de ônibus, especialmente no Rio de Janeiro, o município de Miguel Pereira tem tido uma outra postura. Na verdade, o governo municipal tem sido altivo, independente e soberano. Ele não se curvou ao poder dos empresários de ônibus e decidiu não comer no mesmo cocho. No primeiro momento, reduziu a tarifa das linhas municipais e, do ano seguinte em diante, tem negado as solicitações de aumento das tarifas das linhas municipais, como por exemplo Portela x Praça da Ponte, Miguel Pereira x Marco da Costa etc.

Essa negativa fez com que o empresário local (LINAVE) levasse o problema para que a justiça decidisse sobre os reajustes, coisa que ainda não ocorreu. O judiciário sabe que embaixo desse angu tem caroço, mesmo porque as atuais linhas municipais foram licitadas, homologadas e contratadas a dois dias do novo prefeito assumir o mandato. Fato obscuro que certamente manchou a biografia do ex-prefeito.

Enquanto o expurgo da propina não for feito, fica a pergunta: o que houve com a "caixinha dos empresários"? Ela foi incorporada ao lucro dos empresários ou está seguindo por outra estrada, outro endereço, outra direção? São perguntas que o Ministério Público deve investigar.