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A classe média sempre quis parecer rica
Pelo professor Viaro
Edição: 305
Data da Publicação: 14/08/2020
A
classe média sempre quis parecer rica, e ninguém consegue parecer rico trancado
em casa. É preciso ostentar. É preciso ir ao shopping para não parecer igual
àqueles que nunca podem lançar mão da ostentação. A classe média tem o espaço
da rua, em oposição ao espaço da casa, como seu palco de acesso a uma espécie
de nível superior.
Ela
vive em intensa competição de presentes, almoços e jantares e de demonstração
de poder. Não importa se isso, muitas vezes, ocorre através de faturas e
boletos impagáveis, até porque, a conta ela não mostra. Mostra apenas o que
adquiriu.
A
classe média (que Cazuza tão bem definiu como a burguesia que fede e que quer
ficar rica) é um aglomerado de pessoas insuficientes que vivem para se dizer
elite - enquanto a elite, de fato, ri em sua cara. No fundo, o desespero do
consumo é a tentativa vã de ocupar um espaço que a demarque para longe da
pobreza.
Logo,
não ir às compras, é, para essa classe média, uma condenação ao opróbrio da
condição de pessoas comuns. Ela não admite viver na mesma condição daqueles que
ela despreza. A classe média é um conjunto de pessoas que vivem para ostentação
e demarcação de sua condição, por vezes frágil e sem sentido.
Os
filmes de zumbis dos anos 1980 e 1990 já demonstravam seres desprovidos de intelecto
(mortos-vivos) invadindo shoppings meio ao fim da civilização. E é isso que
essa falsa elite busca: a ostentação meio ao caos como forma de não perder o
espaço que sequer é seu de direito.
Aldous
Huxley chamaria de "Admirável Mundo Novo". E talvez a distopia
do escritor britânico, da primeira metade do século passado, seja, de fato, a
melhor forma de nos definir enquanto civilização, estupidez e barbárie.