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MST: o maior produtor de arroz orgânico da América Latina
O MST foi muito além de mudar o sistema de distribuição da terra no Brasil. Ao longo desses anos, ele também mostrou que é possível fazer outra forma de agricultura
Edição: 442
Data da Publicação: 24/03/2023
Dia 17/3, a 20ª edição da Festa da Colheita do Arroz
Agroecológico celebrou não somente a expectativa de se colher cerca de 16
mil toneladas do grão, como também exaltou um modo de produzir que representa
uma visão de mundo oposta àquela que explora, cada vez mais, o ser humano e a
natureza, visando o lucro de poucos e a destruição de quase tudo.
Hoje, as cooperativas do MST são as maiores produtoras de arroz orgânico
da América Latina, com 3,2 mil hectares de plantação. Mas a lógica que guia as
352 famílias de 22 assentamentos do Rio Grande do Sul é a da cooperação e do
respeito ao meio ambiente e também à saúde de quem consome o produto, já que se
trata de um alimento livre de agrotóxicos.
"O MST gravou no território brasileiro uma luta para mudar o
sistema, para mudar a forma de distribuição da terra, o modelo fundiário. Mas,
ao longo desses anos, também mostrou que é possível fazer outra forma de
agricultura", resume o pesquisador Marthin Zang, assentado do Sepé
Tiaraju, ao Brasil de Fato. Ele, junto com outros assentados, falou a respeito
dessa experiência.
E a tarefa de produzir alimentos saudáveis em um país que licenciou no
governo Bolsonaro mais de 2 mil venenos agrícolas e que, só em 2022,
viu a contaminação por agrotóxicos crescer 161,3%, não é nada trivial.
Para quem está no campo, contudo, significa emancipação. E talvez por isso
outros tantos fiquem incomodados.
"A gente vê aqui a luta do povo. Ontem eu tive a oportunidade de
comer o arroz preto e o arroz vermelho. Eu enchi o meu prato e falei pros meus
companheiros que aquilo tinha sido produzido pela classe trabalhadora",
contou a ativista do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM),
Márcia de Carvalho, que esteve no Festival em Viamão.
Democratizar a alimentação saudável
A culinarista Bela Gil (filha de Gilberto Gil), especialista e ativista
da alimentação saudável, compareceu e lembrou que as pessoas nem sempre fazem a
conexão entre aquilo que consomem e o que foi feito para que aquela comida
chegasse até a mesa. Ressaltou ainda a questão do acesso ao alimento de boa qualidade
em um país no qual, segundo ela, 157 mil pessoas morrem por ano em função de
problemas relacionados diretamente ao consumo dos ultraprocessados.
"Temos que pensar sempre de onde vem a nossa comida. As pessoas
esquecem de onde a comida está vindo e vocês sabem muito bem que a comida vem
da terra. Não tem como pensar em democratizar a alimentação saudável, sem
veneno, agroecológica, sem pensar na reforma agrária, sem pensar na
distribuição da terra. A gente vive em um dos países com maior concentração de
terra. Esse problema precisa ser sanado. Tenho muita esperança que nesse
governo a gente consiga resolver isso."
Fonte BdF