Voltar

Brasil consome 500.000 toneladas de agrotóxico por ano

O Brasil, sozinho, consome 20% de todo agrotóxico produzido no mundo. Desde 2008, ocupamos o primeiro lugar como o maior consumidor mundial. A cada 2,5 dias, uma pessoa morre por contaminação por agrotóxico, é uma Brumadinho por ano - é um escândalo.

Edição: 239
Data da Publicação: 26/04/2019

O Brasil permite 5.000 vezes mais glifosato na água potável que a União Europeia. Isso é um escândalo, uma tragédia. O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos, uma tragédia ambiental e humana, cotidiana e silenciosa.

Glifosato é o agrotóxico mais usado no Brasil. Ele é aplicado por aeronaves, por isso contamina pessoas, animais, solo, água e subsolo, onde já foi constatado a contaminação do lençol freático.

Em uma pesquisa feita pelo pesquisador francês Séralini com ratos alimentados com milho transgênico e com água contendo resíduo de glifosato, ocorreu um aumento de tumores mamários nas fêmeas e nos machos ocorreu o aumento de tumores no sistema gastrointestinal.

Outra pesquisa importante foi com coelhos brancos machos mantidos com uma dieta de glifosato, onde foi encontrada disfunção hormonal masculina apresentando diminuição do peso corporal, diminuição da libido, diminuição do número de ejaculações, diminuição do número de espermatozoides e aumento de espermatozoides anormais e mortos. Desde 2015, a Organização Mundial da Saúde admite que o glifosato é causador de câncer. Na França, o glifosato foi proibido.

No Brasil, quando a indústria apresenta um produto, como o glifosato, ela apresenta um estudo de três meses, período que esses resultados ainda não aparecem. Mas quando o mesmo método é utilizado em um prazo maior, como de pelo menos 2 anos, os resultados são esses mostrados, são nefastos para a saúde. Portanto, o glifosato não é apenas carcinogênico, mas tem outras disfunções, como a hormonal.

Os números do agrobusiness e o sucesso nas exportações brasileiras são festejados enquanto ocultamos o preço em saúde e vidas. Na verdade, o Brasil vem exportando a saúde dos brasileiros. O agronegócio fica com a dinheirama, o governo com a conta da saúde pública e os brasileiros com as doenças e as mortes.

O Brasil tem 2.123 produtos licenciados, e só nos primeiros meses de governo Bolsonaro foram autorizadas mais 54 novas marcas de veneno.

Não é só na água que o Brasil é tolerante 5.000 vezes mais que na União Europeia. No feijão, por exemplo, o Brasil permite que o nível de resíduo do malationa seja 400 vezes mais que na União Europeia. O malationa é o inseticida, larvicida utilizado no combate das campanhas de saúde pública aos vetores da dengue, chicungunha, zika etc. Ela é uma substância neurotóxica.

No Brasil, 30% de todos os agrotóxicos permitidos são proibidos na União Europeia. Dentre os 10 mais vendidos, 2 são proibidos na UE há mais de 15 anos, como o acefato e a atrazina, que são usados na laranja, cana, abacaxi, soja etc.

No Brasil, são encontrados 20kg de agrotóxico por hectare, enquanto na União Europeia a escala varia em torno de zero a 500gr por hectare, e em alguns casos no máximo 2kg.

O Brasil, sozinho, consome 20% de todo agrotóxico produzido no mundo. Desde 2008, ocupamos o 1º lugar como o maior consumidor mundial. A cada 2,5 dias, uma pessoa morre por contaminação por agrotóxico, é uma Brumadinho por ano - é um escândalo. Em números oficiais, que chegaram ao Ministério da Saúde, de 2007 a 2014, cerca de 25.000 pessoas foram intoxicadas por agrotóxico. Entretanto, o Ministério da Saúde admite que para cada caso notificado, outros 50 não são informados e, nesse caso, a estimativa sobe para 1.250.000 pessoas contaminadas.

Mas nem tudo está perdido. No Ceará, por exemplo, o deputado estadual Renato Roseno aprovou uma lei na Assembleia Legislativa proibindo a pulverização aérea de agrotóxicos no estado.

Em Santa Catarina, o Ministério Público Estadual tem importante trabalho através do técnico Renato e da promotora Greice Malheiros, que foi a responsável por requisitar as diversas análises em cerca de 98 municípios do estado, onde 22% apresentaram contaminação da água, mesmo depois de tratada. A importância dessa pesquisa é que ela mostra que a contaminação não está restrita ao campo, ao meio rural, mas já chegou à zona urbana através do lençol freático.

E, nesse sentido, no município de Balneário Camboriú, que tem 70% de sua bacia hidrográfica preservada, que tem cobertura florestal, foi encontrado resíduo de 24D, que é um herbicida desfolhante químico conhecido como agente laranja na água de abastecimento da população. Isso significa uma contaminação ambiental ampliada. Mesmo com uma bacia hidrográfica preservada, a população está exposta e precisa acordar. Aliás, até na Reserva Indígena do Xingu, que é uma ilha, uma das áreas mais preservadas do Brasil, foi encontrado agrotóxico também. Mas a reserva está cercada por plantações de soja.

Não adianta comprar água mineral, todos nós estamos expostos. Não tem classe social, comemos e bebemos da mesma forma. Por incrível que pareça, é mais "saudável" gestar uma criança na capital de São Paulo do que em Ribeirão Preto, por exemplo.

Segundo a pesquisadora Silvia Regina Brandalise, "o problema do agrotóxico é que ele lesa o DNA, quer seja do pai, da mãe ou da criança, e quando você quebra o gene, você altera a célula, ela se multiplica diferente e é o primeiro passo para aparecer o câncer. A sociedade precisa se organizar para saber os riscos que está correndo quando nós respiramos inseticida, bebemos inseticida e comemos inseticida", disse a pesquisadora.

E, para concluir, o Brasil tem isenção de impostos para agrotóxicos.

Esse foi o estudo transformado em livro Atlas feito pela professora da USP Larissa Mies Bombardi, formada, com mestrado e doutorado pela USP, pós-doutorado pela UFF e pós-doutorado pela universidade de Glasgow, na Escócia.