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Brasil x Coreia do Sul, quem está certo?
A Coreia do Sul fez reformas similares a essas que o Brasil fez. Em 2017, o presidente Moon Jae-in ganha as eleições com a principal plataforma de campanha sobre a retomada dos direitos trabalhistas.
Edição: 368
Data da Publicação: 22/10/2021
Em 2015 e
2016, o Brasil teve queda do PIB de mais de 7% negativo. Em 2017 e 2018, a
grande mídia passou a chamar o pibinho de 1,5%, 1,8% de recuperação do
crescimento, o que não recupera nem a metade dos 2 anos de taxas negativas do
crescimento. Logo depois vem o impacto da pandemia e, se não fosse o Congresso
Nacional ter imposto ao governo federal um auxílio emergencial maior e durante
um tempo maior, a tragédia teria sido muito pior. Se somar 2015, 2016 e 2020,
dá mais de 10 pontos negativos de crescimento do PIB.
A reforma trabalhista de Henrique Meirelles completou 4
anos e tinha prometido 6 milhões de empregos. Hoje, o mercado de trabalho
brasileiro tem mais de 14 milhões de pessoas desempregadas, desocupadas e que
procuram emprego e não conseguem encontrar. Temos mais 5% de desalentos, 30% de
subocupação e com renda em queda e não há nenhum indício de recuperação do
mercado de trabalho, muito pelo contrário, há um empobrecimento da classe
trabalhadora e sem nenhum interesse de investimento externo. O que o investidor
internacional vê para investir nesse ou naquele país é o mercado consumidor.
Por isso, os investimentos estrangeiros não chegam e os nacionais estão indo
embora, como a Ford, que deixou de fabricar no Brasil e atuará como importadora, gerando empregos lá fora, uma vez que vai comercializar
produtos originários de Argentina, Uruguai, China e Estados Unidos.
Com a pandemia e o desabastecimento de
peças no Brasil, 6 montadoras de veículos decidiram suspender a produção:
Toyota, Nissan, Volkswagen, Mercedes-Benz, Volvo e Scania.
O Brasil vem
destruindo sua classe média consumidora, que foi construída com o aumento real
do salário-mínimo, em que tínhamos chegado a 4,5% de desemprego com todas as
regras e os direitos trabalhistas em pleno vigor, mas estes foram retirados dos
trabalhadores nas reformas de Temer e Bolsonaro. Paulo Guedes queria tirar mais
ainda, prometendo mais 2 milhões de empregos. Na década de 2010, o salário-mínimo
nacional chegou a cerca de 254 dólares, o que corresponderia hoje a mais ou
menos 1.400 reais.
Segundo o
economista Paulo Gala, a lógica da reforma trabalhista é que quanto mais barato
for o custo do trabalho, maior será a contratação, e isso é uma perspectiva
anti-keynesiana, que diz que o que gera emprego é a demanda por trabalho e não
o corte do salário. Se cortarmos em 50% os salários, isso não vai gerar
emprego. Por exemplo, se levar a proposta para um empresário que tem 15
funcionários e dizer que daqui por diante ele só vai pagar 50% dos salários,
ele vai gostar, seus lucros serão maiores, mas ele não vai empregar nenhum
funcionário a mais e o comércio da região sentirá a falta de dinheiro na praça.
Ele só vai
contratar mais funcionários se ele vender mais, e vender mais significa a
economia se expandir, então nós precisamos é de demanda, como explicou o Keynes
em 1936.
A Coreia do Sul
A Coreia do
Sul fez reformas similares a essas que o Brasil fez. Em 2017, o presidente Moon Jae-in ganha
as eleições com a principal plataforma de campanha sobre a retomada dos
direitos trabalhistas, reduzir a jornada de trabalho (para gerar mais
empregos), ampliar a proteção aos trabalhadores e implantar uma política
agressiva de valorização dos salários. Segundo o economista Ualace Moreira,
pós-graduado e mestre, boa parte da miséria e do empobrecimento da Coreia do
Sul foi resultado dessas políticas no período de 1993 a 1998. A diferença entre
Brasil e Coreia do Sul é que o Brasil tem uma economia que não aprende. A
Coreia aprendeu que essa agenda gera desemprego e perda de competitividade e
não gera inovação. Eles retomam a aliança entre Estado e setor privado e
retomam a inovação. Hoje, a taxa de desemprego na Coreia é de 3,2%, com aumento
do salário-mínimo acima da média da OCDE e acima da média da União Europeia.
Quem está
certo?