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Os desafios de Biden com seu pacote de 4 trilhões de dólares

Se isso acontecer, ou seja, se toda essa grana for para a produção, como trens de alta velocidade, cidades inteligentes etc., demandará uma mudança na forma do capitalismo americano, e isso envolve o poder político

Edição: 341
Data da Publicação: 16/04/2021

Em relação a esse novo "New Deal" que o presidente Biden está propondo, só dá para acreditar vendo ele funcionar de verdade. Esse sentimento não é por ideologia, mas por entender um pouco como os EUA funcionam.

Se isso acontecer, ou seja, se toda essa grana (quase 4 trilhões de dólares) for para a produção, trens de alta velocidade, cidades inteligentes etc., demandará uma mudança na forma do capitalismo americano, e isso envolve o poder político. Então, o Biden vai cortar a cabeça do rei para fazer as coisas funcionarem? Acho que não. Não sei se Biden ou os que o cercam têm força para enfrentar o poder de Wall Street (centro financeiro norte-americano).

No discurso de início de mandato, Biden detonou Wall Street, louvando os sindicatos e os trabalhadores; "esses são os que realmente construíram essa nação", disse Biden. Parece que ele está muito mais próximo de Bernie Sanders do que se imaginava, pois Biden está seguindo as ideias defendidas por Sanders durante a campanha de escolha do candidato à presidência do partido Democrata.

Olhando para a história norte-americana, é muito clara a disputa de poder entre os industrialistas e os financistas (banqueiros de Wall Street). Bradford DeLong (que atuou como secretário adjunto do Departamento do Tesouro dos EUA na administração Clinton) previu o fim do capitalismo, e ele mostra isso de forma clara em seu livro sobre conflitos econômicos. Ele demonstra que Wall Street assumiu o poder com Ronald Reagan no início dos anos 80/90, quando o capitalismo norte-americano passou a ser um capitalismo de Wall Street, ou seja, de resultados imediatíssimos. Esse é um capitalismo que virou as costas para as indústrias e a tecnologia e passou a ser um capitalismo rentista, muito contrário ao da política praticada por Roosevelt, que governou os EUA de 1933 até 1945, e por Eisenhower, de 1953 a 1961.

Biden seria hoje essa reencarnação, não porque ele é bonzinho ou porque colocou a mão na consciência, mas porque eles estão morrendo de medo da China. Basta dizer que Biden está aumentando o orçamento do Pentágono na máxima histórica, que hoje está em 780 bilhões de dólares/ano (e vai crescer mais) porque a China está obrigando os americanos a fazerem isso.

Não resta dúvida de que Wall Street vai fazer de tudo para derrubar o Biden, apesar dele ser um cara do establishment*. Mas, Biden representa um setor americano que diz que a batata deles está assando muito, porque eles já foram atropelados por países da Ásia, como China, Coreia do Sul, Taiwan, Vietnã e Índia. Ainda é possível que reste algum tempo para que eles reajam, ainda dá tempo para empatar o jogo, mas se eles ficarem mais 10 ou 15 anos dormindo, não pegam mais essa turma.

Isso tudo vide o caça supersônico que a Coreia do Sul apresentou ao mundo e os coreanos que já avisaram aos EUA que não embarcarão em nenhuma represália contra a China. Eles estão muito mais inclinados a se aliarem a Ji Xi Ping da China do que aos americanos. A China tem hoje uma classe média de 400 milhões de habitantes e ainda vai ter 700 milhões em menos de 15 anos, portanto não é um mercado para ser menosprezado. Enquanto isso, os EUA vivem fazendo guerra ao redor do mundo e esquecem de seu mercado interno. A China já tem o 5G e colocou mais um satélite para o 6G, enquanto os EUA ainda não têm nem o 5G e muito menos o 6G. A China também possui 500 vezes mais quilômetros de trens de alta velocidade do que os EUA - e a lista não acabaria por aqui.

Esse é o novo desenho da geopolítica que está colocado sobre a mesa e que está fazendo a ficha dos americanos cair.