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A China vai para a guerra!

O mercado americano é imediatista, tudo pra ontem. Já o mercado chinês tem visão de longo prazo com seus planos quinquenais

Edição: 335
Data da Publicação: 05/03/2021

A estratégia da "dupla circulação" a ser ratificada nas duas sessões do legislativo chinês, que começou quinta-feira (4/3), não é somente uma nova referência de acumulação a ser adotada pela China, é postura de guerra. A ideia é fortalecer o mercado interno, mantendo-o como ponte de apoio em relação ao mercado internacional.

Uma leitura mais atenta deste processo demanda sair da dicotomia entre mercado interno e externo. É preciso saber o que está em jogo. O economista Ualace Moreira (@moreira_uallace) tem chamado a atenção para o grande ativo chinês diante da tentativa de cancelamento da China, por parte dos EUA, do mercado de semicondutores.

1978

O mercado interno chinês é chamado a jogar o mesmo papel político que jogou em 1978. A China parte para a guerra com uma estratégia, somente na aparência, defensiva. Com investimentos da ordem de US$ 1,5 trilhão, tentará reduzir sua distância dos EUA em tecnologias sensíveis. Nessa guerra, vale tudo, inclusive a compra de cérebros japoneses. Com salários médios crescendo acima da soma do PIB + inflação, a tendência é ampliar o mercado interno chinês de 400 para 700 milhões de consumidores.

Enquanto isso, os EUA continuam agindo com a mesma "inteligência" dos generais que foram derrotados no Vietnã. Montar um círculo de países formando uma divisão internacional do trabalho por EUA, Japão e Coreia do Sul não é inteligente. A não ser que os EUA decidam esticar a fronteira tecnológica adiante, obrigando os chineses a se virarem, literalmente.

Empresas no capitalismo nem sempre obedecem a estratégias de governos, principalmente no caso dos EUA. Coreia de Sul e Japão dependem do mercado chinês como receptor de seus produtos. Dependem pouco dos EUA. A pergunta é a seguinte: que empresa americana vai abrir mão das possibilidades de um mercado interno potencial de 700 milhões de pessoas? Somente um país com empresas de ponta e operando fora do sistema de preços pode abrir mão disso. Não é caso dos EUA.

Os chineses vão trazer o imperialismo ao seu campo de combate. Era essa a ideia de Lênin em 1919 e que Deng Xiaoping executou a partir de 1978. A estratégia do 14ª Plano Quinquenal é um "comunismo de guerra" às avessas. O inimigo tem aversão ao longo prazo. O empresário norte-americano é como um adicto: tudo é para ontem. Ao final do 14º Plano Quinquenal, as empresas dos EUA se estapearão pelo mercado chinês. É assim que funciona a "guerra tecnológica" à chinesa.

Elias Jabbour