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Tesla na China e Ford no Brasil: qual a diferença?
O presidente Xi Jinping trabalha para transformar a China na Meca de produção de veículos elétricos do mundo. As vendas de 1,2 milhão em 2020 fizeram a China estar com 40% das vendas mundiais, e de longe é a líder mundial.
Edição: 329
Data da Publicação: 22/01/2021
O
presidente Xi Jinping trabalha para transformar a China na Meca de produção de
veículos elétricos do mundo. As vendas de 1,2 milhão em 2020 fizeram a China estar
com 40% das vendas mundiais, e de longe é a líder mundial.
O patrimônio
pessoal de U$180 bilhões de Elon Musk (homem mais rico do mundo) também se deve
a seus investimentos em solo chinês. A mega fábrica da Tesla perto de Shanghai
ficou pronta em pouco mais de um ano e jorra carros elétricos para abastecer o
mercado interno do país. Ela tem capacidade de produzir 500 mil carros por ano.
A China é
hoje o mercado mais importante para a Tesla fora dos EUA. O modelo 3 da Tesla é
um dos carros mais vendidos no país. As relações de Xi Jinping e Elon Musk vão
muito bem. Por quê? Xi tem a meta clara de transformar a China na potência
mundial de veículos elétricos e para isso estimulou inúmeras empresas de
capital nacional com subsídios, tarifas e empréstimos para que se tornem
grandes players nesse mercado.
BYD
A empresa
chinesa BYD (Beyond Your Dream) - que em uma tradução livre significa "além
do sonho" - já atingiu esse status, e a Geely e BAIC também. Com auxílio de
compras públicas, a BYD se tornou não só a maior empresa de veículos elétricos da
China, mas a maior do mundo.
Shenzhen
tem hoje uma frota de 15.500 veículos - só para ter uma ideia, São Paulo tem
14.500 veículos. Ela foi a primeira cidade no mundo a transformar suas frotas
de ônibus e táxis em 100% elétricas. Uma carga correspondente a um tanque de
diesel custa o equivalente a R$120,00 com autonomia de 300 km, o que é 70% mais
barato do que encher um tanque de combustível com diesel. Essa troca dos ônibus
movidos a diesel para elétricos foi feita em menos que cinco anos.
Shenzhen
agora incentiva os carros particulares a serem trocados por veículos elétricos.
"Hoje a sustentabilidade não é mais só uma agenda ambiental, é uma agenda
econômica", disse o brasileiro Adalberto Maluf, diretor de Marketing e
Sustentabilidade da BYD.
Segundo
Adalberto, o setor elétrico passa por enormes transformações. Exemplo disso é
que quando o consumidor chegar em casa, para não pagar uma tarifa elevada de
energia, o carro elétrico vai abastecer a casa e mais tarde, quando o preço da
energia elétrica for mais barato, a casa carrega o carro.
Há 25
anos, Shenzhen era uma vila de pescadores, mas hoje é a terceira maior cidade da
China. Ela foi a primeira ZEE - Zona Econômica Especial criada pelo governo chinês
, atraindo investidores do mundo inteiro e da própria China.
Tesla
A vinda
da Tesla para o ecossistema de veículos elétricos chineses é um sinal claro da
estratégia do partido comunista. Existe hoje na China mais de 30 grandes
empresas ligadas à cadeia automotiva elétrica, todas elas de capital 100%
nacional ou com joint ventures estrangeiras. Joint venture é um tipo de associação
em que duas entidades se juntam sem que cada uma delas perca a identidade
própria. A Tesla será a primeira empresa na
China autorizada a ter 100% de capital próprio sem sócio chinês. Todas as outras
multinacionais são obrigadas a fazer joint ventures com
sócios locais.
BMW
A BMW foi
espontaneamente à China graças ao ecossistema de inovação que existe lá. Nossa
brasileira WEG, talvez a empresa mais complexa do Brasil (um orgulho nacional),
já foi para lá produzir motores elétricos. Algo parecido aconteceu no mercado
de smartphones. A transferência da produção da Apple para a China em
busca de menores custos acabou por criar gigantes chineses que produzem esses
aparelhos, como a Oppo, a Vivo e hoje a Huawei, que já produz mais smartphones
do que a própria Apple.
Ford Brasil
E a Ford?
A Ford veio mamar nas tetas de nossa guerra fiscal. Fez muito pouco
investimento em P&D local. Comprou a Troller, mas também não fez nada com
isso. Apanhou da concorrência mundial e saiu do país com a implosão de nosso
mercado interno. Os governos brasileiros, sem visão estratégica, nada fizeram.
Deram milhões de subsídios para multinacionais produzirem carros obsoletos por
aqui com altos lucros. Acorda, Brasil, olha para a China!
Fonte: economista Paulo Gala e o
advogado Ronaldo Lemos