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As bandeiras dos liberais
Uma das bandeiras que os liberais defendem muito é que com a redução da carga tributária, o investimento privado vai aumentar, na proporção de sua redução, aumentando a taxa de investimento e geração de empregos
Edição: 420
Data da Publicação: 21/10/2022
Uma das bandeiras que os liberais
defendem muito é que com a redução da carga tributária, o investimento privado vai
aumentar, na proporção de sua redução, aumentando a taxa de investimento e
geração de empregos, e, assim, a economia vai girar melhor, ou seja, o estado
não "atrapalhando" já está bom, imposto é roubo etc. É assim que os liberais
falam.
Na prática, vários países têm feito
isso com muita força, sendo os EUA um exemplo, uma vez que reduziram
drasticamente sua carga tributária e os investimentos privados não aconteceram.
O que houve foi uma recomposição da taxa de lucro do setor privado. Vale
lembrar que a carga tributária norte-americana é muito maior do que a
brasileira e nem o sistema SUS eles têm. Lá, toda a saúde é privada, salvo
raras e poucas exceções no país.
No Brasil, isso também vem ocorrendo,
e, um clássico exemplo desse fato, foram as concessões que a presidente Dilma Rousseff
fez ao setor privado em 2013/2014, reduzindo a carga tributária, naquele Plano
Mais Brasil, em mais de meio trilhão de reais, esperando que o setor
privado respondesse à renúncia fiscal com investimentos produtivos. Isso não ocorreu,
já que os empresários fizeram "greve" de investimentos, embolsaram a
diferença e derrubaram o governo.
Os liberais brasileiros desejam que o
Brasil entre na OCDE - Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico -, organização com sede em Paris, na França,
ela é uma organização internacional composta por 38 países membros, reunindo as
economias mais avançadas do mundo, bem como alguns países emergentes, como a
Coreia do Sul, o Chile, o México e a Turquia.
Mas, antes que isso ocorra, é bom
lembrar que, entre os países da Organização, a carga tributária é muito alta.
Na França, por exemplo, é de 46%; o Brasil está na posição 36, com 33,1%. Os
países ricos reclamam dos impostos no Brasil, mas, em seus países de origem,
pagam mais do que aqui. No símbolo maior da liberdade econômica, nos EUA, a lei
sobre herança é de 40% de imposto e, no Brasil, é de 4%.
Os socialistas entendem que não será o
aumento da carga tributária que financiará o crescimento do Brasil, e sim a
partir do reequipamento do sistema estatal de intermediação financeira,
basicamente BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, saindo daí os
recursos necessários para a retomada do crescimento e da taxa de investimento
das empresas.
A esquerda defende a justiça social
com a criação do imposto sobre lucros e dividendos e sobre as grandes fortunas,
não por uma questão moral, porque são contra os ricos e a favor dos pobres,
isso é maniqueísmo. Não é por aí que passa a questão, mas é pela construção de
sociedade mais justa e menos desigual como a que temos até hoje.
A grande maioria dos liberais
brasileiros, por exemplo, também são reacionários, toleram e naturalizam a
desigualdade, diferente do liberal europeu como o francês e o alemão, que não
toleram isso e trabalham para transformar o pobre em consumidor. No caso do
Brasil, trata-se de uma herança escravocrata que trazemos, assumindo ainda um
discurso contra a pobreza - incrível.
As 500 maiores empresas brasileiras
estão tendo superlucros e a miséria e a pobreza só estão aumentando. Os EUA tiveram
um aumento significativo da produtividade do trabalho nos últimos 40 anos,
enquanto, no mesmo período, houve uma estagnação dos salários - e, hoje em dia,
isso dificulta alcançar o sonho americano. O acionista americano paga imposto
sobre o dividendo que ele recebe da lucratividade da Petrobrás, mas o
brasileiro não paga.
Temos que estar prontos para esse
nível de debate. Nós não queremos nada além do que existe nos países
capitalistas.
E, para terminar, só um detalhe, a China,
que é um país socialista, tem uma carga tributária de 15%, mas a grande diferença
é que, lá, o sistema financeiro é público, os bancos são públicos e o dinheiro
não tem dono e serve para desenvolver o país. Além disso, a China tem uma
soberania monetária impressionante capaz de fazer muitas coisas que nenhum país
capitalista é capaz de fazer, mas isso é outra história.