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8 de março, feliz dia pra quem?
Entra ano sai ano e a gente continua vindo todo 8 de março falar sobre como mulheres ainda ganham menos que homens para exercer a mesmíssima função. A gente continua repetindo que mulheres são vítimas de diversos tipos de violência...
Edição: 440
Data da Publicação: 10/03/2023
Entra ano sai ano e a gente continua vindo todo 8
de março falar sobre como mulheres ainda ganham menos que homens para exercer a
mesmíssima função. A gente continua repetindo que mulheres são vítimas de
diversos tipos de violência. Continua insistindo no fato de que fazemos jornada
tripla, porque acumulamos trabalho fora, trabalho doméstico e trabalho de
cuidado, e questionando o que significa pra sociedade - quanto PIB a gente
gera! - nosso trabalho não remunerado. E lembrando que, embora sejamos minoria
na força de trabalho, somos maioria entre os desempregados, como mostra estudo
recente do Dieese que você pode ler clicando aqui.
Eu juro, não queria vir falar disso de novo, mas
infelizmente as novidades no assunto não melhoram muito a situação. Isso porque
a gente acaba tendo que se deparar com a informação de que o descaso
ultimamente era tão grande que o orçamento inteiro de políticas de
enfrentamento à violência e promoção da igualdade das mulheres previsto pelo governo
passado para 2023 era de míseros R$ 13 milhões, o menor valor dos últimos anos
de um orçamento que não parava de cair.
O dado está num levantamento feito pelo Instituto
de Estudos Socioeconômicos (Inesc), que mostrou, para a surpresa de zero
pessoas, que o governo de Jair Bolsonaro, com a hoje senadora Damares Alves
(Republicanos) à frente da pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos,
abriu mão de utilizar recursos de políticas para as mulheres.
Junto com isso, em 2020, mais de R$ 80 bilhões
deixaram de ser usados no enfrentamento às consequências da covid-19. O valor
pode não ser diretamente direcionado para políticas de proteção da mulher, mas
na prática a relação é evidente, porque metade desse recurso seria usado no
auxílio emergencial. "Assim, se 4,2 milhões de mulheres negras saíram da
extrema pobreza nos meses em que o auxílio foi pago, outras milhões de mulheres
poderiam ter sido atendidas caso o governo tivesse executado todo o recurso
autorizado", diz a nota do Inesc.
Também em 2020, quando muitas mulheres sofriam com
o aumento da violência doméstica ao se verem obrigadas a fazer isolamento junto
de seus agressores, 70% dos recursos voltados para o enfrentamento da violência
contra as mulheres não foram utilizados.
E eu nem vou entrar aqui nos direitos sexuais e
reprodutivos, porque é só lembrar dos casos de meninas impedidas, inclusive com
a ajuda da própria ministra, de acessar o aborto legal que já se vê o tamanho
da tragédia em que estávamos metidas.
Pra que lembrar disso tudo se o cenário agora é
outro, você pode me perguntar. De fato, mudou muita coisa. A tendência é que
agora tenhamos mais orçamento, pra começo de conversa. Mas a gente ainda está
tão, mas tão longe de garantir direitos para as mulheres no Brasil - ou sequer
de conseguir abordar determinados temas publicamente - que a gente não pode
nunca deixar de insistir no assunto nem de lembrar como foi que chegamos até
aqui, inclusive pra não correr o risco de repetir os erros do passado.
E também porque, mesmo recuperando políticas, ainda
temos muito pelo frente.
Obrigada e um
abraço,
Cris Rodrigues