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Brasil, a potência verde do planeta

O Brasil está com tudo na mesa para produzir em escala mundial o hidrogênio verde, o etanol, o etanol de segunda geração, energia solar e eólica, mas existe ainda um custo de transição que precisa ser superado.

Edição: 400
Data da Publicação: 03/06/2022

O professor Paulo Gala - graduado em Economia pela FEA-USP, Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo - deu aula sobre o que o Brasil é e o que ele pode vir a ser, em muito pouco tempo, dependendo apenas de vontade política.

Segundo ele, a sustentabilidade é uma grande oportunidade de negócios para o Brasil. Hoje, mais de 10% de nossa energia elétrica já vem de parques eólicos do Nordeste, inclusive com produção de turbinas eólicas por empresas brasileiras. Produzimos mais energia elétrica em parques eólicos do que em Itaipu, que já era uma energia limpa. Isso é simbólico.

Temos polos relevantes e espalhados pelo país para produção de hidrogênio verde, etanol, biogás e outros tipos de biocombustíveis. Em energia solar, o Brasil é o 13º produtor do mundo, com produção de 15,3 GW, mas temos potencial de chegar a mais de 50 GW até 2026. O líder mundial atual é a China, com 306,4 GW de capacidade.

Há várias novas fronteiras em que o Brasil já está se reindustrializando. Há um incrível polo de hidrogênio verde sendo construído no Ceará, no complexo industrial do porto de Pecém. É um típico caso de industrialização verde com plantas capazes de produzir hidrogênio com energias limpas, que pode resultar até em amônia verde, insumo fundamental para nossa cadeia produtiva de fertilizantes. Em etanol, o Brasil é uma das referências mundiais; vale destacar, aqui, o etanol de segunda geração, feito com o bagaço da cana, e o etanol de milho, que é uma área de industrialização que avança no Centro-Oeste.

Estamos desenvolvendo parcerias com a África do Sul, por exemplo, em relação à tecnologia da cana-de-açúcar e do etanol. Temos muito a exportar e a ensinar ao mundo sobre tecnologias do etanol de primeira e de segunda geração. Os motores flex são um desenvolvimento incrível da indústria brasileira. Também começamos a caminhar em relação aos veículos elétricos, especialmente quanto aos ônibus elétricos totalmente brasileiros. Também avançamos em biogás e biometano, uma outra fronteira interessante de reindustrialização e de grande oportunidade para o Brasil.

Precisamos avançar nos desenhos de políticas públicas e marco regulatório para essa transição verde. Na parte do marco regulatório do hidrogênio verde, por exemplo, estamos atrás do Chile, considerado, hoje, a referência da América Latina. O Brasil está com tudo na mesa para produzir em escala mundial o hidrogênio verde, o etanol, o etanol de segunda geração, energia solar e eólica, mas existe ainda um custo de transição que precisa ser superado. Os parques eólicos do Nordeste, por exemplo, devem-se, em grande medida, ao risco que o BNDES assumiu lá atrás para fazer esse investimento. Tiveram enorme sucesso. O risco envolvido nos investimentos de transição energética não é baixo e, muitas vezes, o setor privado, sozinho, não abraça. Por isso, temos que pensar em soluções público-privadas criativas como já fizemos no passado.

Esse salto pode nos trazer enorme vantagem no cenário competitivo global. O ESG deveria ser visto como core business e atividade principal para empresas brasileiras e não apenas como uma questão de compliance. Temos uma oportunidade de ser um dos grandes líderes mundiais em tecnologias verdes. Hoje, somos vistos por estrangeiros como um paraíso das commodities, mas poderemos, no futuro, ocupar a posição de paraíso da energia verde. Não podemos perder essa janela de oportunidade.