Voltar
O que a história nos ensina sobre anistiar golpistas
Alguns casos, de JK até hoje, para fazer pensar
Edição: 516
Data da Publicação: 20/12/2024
Contra o presidente Juscelino
Kubistchek houve duas tentativas de golpe. Na primeira, Juscelino anistiou o
líder do golpe. Anistiado, ele foi um dos líderes do segundo golpe contra o presidente
junto com o capitão Burnier. Ao final de seu governo, Juscelino ficou
impossibilitado de anistiar os militares do segundo golpe, mas, com a posse do
novo presidente, Jânio Quadros anistiou o então capitão Burnier, da Aeronáutica.
Burnier voltou para o Brasil e
foi um dos artífices do golpe militar de 1º de abril de 1964. Ele foi um dos
principais e mais abjetos torturadores da ditadura militar de 64, tendo
comandado a prisão, tortura, morte e ocultação do cadáver do deputado Rubens
Paiva. Foi Burnier o responsável por transformar as instalações da Aeronáutica
em um dos principais centros de tortura da ditadura militar na base Aérea do
Galeão, RJ, onde o jovem Stuart foi torturado brutalmente até a morte.
Com a perda do filho Stuart, surgiu
uma das maiores heroínas do século, a estilista famosa Zuzu Angel, que correu o
mundo denunciando a ditadura militar, como fez em Nova York através de sua
coleção de roupas. Zuzu foi assassinada em um acidente forjado na saída do
túnel (que, inclusive, leva seu nome) em São Conrado. Há fotos em que aparece o
torturado Paulo Perdigão olhando o corpo de Zuzu morta.
Outro caso de Juscelino
Chega à mesa do presidente
Juscelino a lista de coronéis a serem promovidos a general, e, se um coronel
não é promovido no momento certo, precisa passar para a reserva. Nessa lista,
está o nome do coronel Castelo Branco.
Um militar assistente de Juscelino
avisou: - presidente"- Presidente, esse militar é contra o senhor e dizem que
ele apoiou a tentativa de golpe......". Juscelino, então, perguntou se Castelo
Branco era um bom militar, e a resposta foi positiva, sendo considerado um
militar exemplar, mas reafirmou que ele não gostava do presidente. Então
Juscelino respondeu: "- Ele não precisa ser a meu favor, ele precisa apenas
ser a favor da democracia.", e promoveu o Castelo Branco a general.
Com o golpe militar, Castelo
Branco tornou-se o primeiro presidente da República na ditadura militar e, em
sua mesa, chegou a lista de políticos a serem cassados, sendo Juscelino um dos primeiros.
Castelo Branco, que deveu sua carreira a
JK, não teve um segundo de hesitação. Cassou, exilou e perseguiu Juscelino
Kubistchek de Oliveira. Anos depois, o ex-presidente teve um acidente de carro
muito mal explicado na rodovia presidente Dutra.
Lei da anistia de 1979
A Lei da anistia de 15/08/1979,
sancionada pelo presidente general João Batista Figueiredo, é a matriz dos
problemas que, hoje, nós temos com os militares. Ela tem duas aberrações. A
primeira foi o marco temporal que deveria anistiar os crimes políticos
ocorridos de 01/04/1964 (data do golpe) até 15/08/1979 (data da sanção da lei).
A Lei da anistia, porém, começou a fazer efeito bem antes, de 02/09/1961 a
15/08/1979. O motivo foi que, após a renúncia de Jânio Quadros no dia
25/08/1961, as Forças Armadas Brasileiras começaram a conspirar para não
permitir que João Goulart voltasse ao Brasil. Cogitaram, ainda, bombardear o
avião do ex-presidente (Operação Mosquito), sendo, portanto, necessário que o
avião entrasse no Brasil a pouquíssima altitude, correndo o risco de queda, para
não ser detectado pelos radares das forças armadas.
Quando não temos memória
histórica, o pior pode acontecer, e é isso que ocorre quando se anistia um
golpista: ele volta mais forte e volta sem limites. Essas são apenas duas
razões para que não se aceite a proposta de uma nova lei de anistia que estão
querendo que seja votada pelo Congresso Nacional. Ao invés dela, os golpistas
devem ser julgados com o mais amplo direito de defesa, e, se forem condenados,
devem cumprir suas penas.
A prisão de um general full
(quatro estrelas) demonstra que as Forças Armadas evoluíram, amadureceram e não
se imiscuíram em uma banda podre e deletéria - para estes, um julgamento justo.