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13 de maio: a história contada pelos vencedores
Abolicionismo foi o primeiro movimento de massas. Movimentos abolicionistas cresciam em todo país.
Edição: 521
Data da Publicação: 16/05/2025
Você provavelmente aprendeu na
escola que, em 13 de Maio de 1888, foi assinada a Lei Áurea pela princesa
Isabel que aboliu a escravidão no Brasil. Apesar do marco histórico, a data não
é vista por parte da população negra como símbolo da luta por liberdade. É
importante que se diga que a Lei Áurea libertou, mas não trouxe igualdade.
Vamos, porém, fazer uma reflexão
dos últimos momentos pouco contada e mostrar o clima daquele momento. Em 8 de
maio, a proposta do Império foi enviada ao Legislativo pelo então ministro da
Agricultura, Rodrigo Augusto da Silva, em um texto ainda mais simples do que o
aprovado. Na Câmara, recebeu uma única emenda que acrescentou ao texto as
palavras "desde a data desta Lei".
Depois de anos engavetada, a proposta anda rápido
Já no dia 11/5, o projeto chegou
ao Senado. Uma Comissão Especial foi montada, o parecer saiu no mesmo dia! Classificava
a iniciativa de providência urgente e falava em justos e grandes
interesses de ordem econômica e de civilização. No domingo, 13 de maio, o fim
da escravidão era aprovado pelos senadores e colocou em liberdade cerca de 600.000
escravizados conforme registros da época.
Abolicionismo como primeiro movimento de massas
Segundo o doutor em história,
Marco Antônio Villa, "na década de 1880, tivemos o abolicionismo como primeiro
movimento de massas da história do Brasil, e foi uma revolução social que alterou
radicalmente as relações de produção, abolindo aquilo que marcou tragicamente a
história do Brasil nos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX."
Movimentos abolicionistas cresciam em todo país.
Na votação do projeto, os debates
foram intensos, defensores da ideia criticavam o que consideravam obscurantismo
e desconhecimento dos direitos da civilização, do cristianismo e da liberdade.
Já a oposição conservadora alegava direito à propriedade e citava riscos para a
economia.
O Vaticano com o Papa Leão XIII
As pressões vinham até do
Vaticano. Em uma encíclica de 5 de maio de 1888 dirigida aos bispos do Brasil,
o então Papa Leão XIII citou que "a grande maioria do povo brasileiro deseja
ver a crueldade da escravidão terminada".
Para muitos críticos, no entanto,
a liberdade era apenas o primeiro passo, faltaram outros artigos na Lei Áurea.
Marco Antônio Villa conta que "Rebouças e Joaquim Nabuco defendiam o
abolicionismo, mas, com a reforma agrária, com essa defesa da propriedade da
terra você só é cidadão se for livre e se tem propriedade. Isso coloca um nó no
conservadorismo brasileiro de então, porque não era só a libertação dos
escravos, era necessário alterar o regime de propriedade da terra", coisa
que não ocorreu, muito pelo contrário.
Reflexão
Se a história da escravidão fosse
contada pelos vencidos, a História ensinada nas escolas teria sido outra, nem
princesa branca teria. O ponto de vista seria dos que lutaram, dos que se
rebelaram mesmo acorrentados, seria o pai que quebrou a corrente e correu para
arrebentar a corrente do filho, a da mãe, o quilombola que construiu reinos de
liberdade em plena guerra. Esses sim libertaram o povo preto com coragem, com suor,
sangue e com inteligência, como foi, por exemplo, com Manoel Congo e Mariana
Crioula, que libertaram mais de 300 escravizados.
Enquanto isso, a história oficial,
aquela das escolas, tenta limpar a culpa dos donos de fazendas e dos bancos.
Tentam colocar medalhas no opressor e esconder o nome dos verdadeiros heróis.
A gente está aqui para recontar
essa história, para lembrar que a liberdade não foi dada, não foi um favor, ela
foi tomada. A resistência preta existe desde o primeiro navio que chegou, e que
o fim da escravidão começou muito antes da assinatura da Lei Áurea, aquela dos
livros. Ela começou com a primeira rebelião, com o primeiro passo em direção ao
mato, com cada quilombo erguido com suor e dignidade.