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Correio Aéreo, Integração Nacional e a Missão pública da Embraer

Um pouco de história para aqueles que gostam de defender o Estado mínimo e que tudo deve ser feito pela iniciativa privada.

Edição: 524
Data da Publicação: 26/09/2025

A Embraer nasceu de uma visão estratégica do Estado brasileiro: conectar um país de dimensões continentais, reduzindo distâncias e promovendo integração econômica, política e social. Desde os anos 1930, o Correio Aéreo Nacional foi um símbolo desse esforço. Criado para levar cartas, medicamentos e notícias às regiões mais distantes, o serviço foi mais do que logística - foi um projeto de construção de nação. A aviação tornou-se ferramenta de soberania, presença do Estado e coesão territorial.

Durante décadas, nenhuma empresa privada no Brasil se dispôs a assumir essa missão de forma sistemática. O risco era alto, a infraestrutura era precária e o retorno econômico incerto. Não se tratava de uma "falha de mercado" clássica, mas de uma missão pioneira que só o Estado poderia liderar. Foi nesse contexto que, em 1969, nasceu a Embraer, criada para transformar o conhecimento acumulado no Centro Tecnológico Aeroespacial (CTA) e no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) em produtos concretos - aviões capazes de cumprir esse papel estratégico.
O Embraer EMB-110 Bandeirante, primeiro avião produzido em série pela empresa, materializou essa ambição. Projetado por Ozires Silva e sua equipe, o Bandeirante foi concebido para operar em pistas curtas, suportar condições adversas e ligar pequenas cidades ao restante do país. Com capacidade para cerca de 15 a 21 passageiros, o avião tornou-se a espinha dorsal da aviação regional brasileira nos anos 1970 e 1980, permitindo que empresas aéreas regionais florescessem e que o transporte aéreo se popularizasse em regiões que antes dependiam de dias de viagem por estrada ou barco.

O Bandeirante não foi apenas um avião, foi uma peça de engenharia social e econômica. Ele consolidou a Embraer como um ator central na indústria aeronáutica mundial, abriu caminho para os futuros jatos da empresa e mostrou como uma política industrial bem articulada pode criar mercados e transformar a estrutura produtiva de um país.

A história do Correio Aéreo e do Bandeirante revela que o desenvolvimento tecnológico e industrial não nasce espontaneamente, mas de decisões estratégicas que criam demanda, incentivam a inovação e mobilizam recursos públicos e privados para atender a uma necessidade coletiva. A Embraer é, portanto, um exemplo de missão nacional bem-sucedida, capaz de gerar valor econômico e fortalecer a presença do Estado no território.

Para concluir, hoje, só a Embraer fatura mais do que todo o agronegócio junto. Você prefere um país agrícola com poucos empregos, problemas ambientais, vasta extensão de terras ou um país industrial como a Embraer e seus empregos altamente tecnológicos e de remuneração alta? Fica a dica.

Fonte: economista Paulo Gala