Voltar
O Brasil precisa do Agro
Mas também precisa da Indústria. É lá que estão os bons empregos e os melhores salários. O debate é outro, o debate é duro.
Edição: 525
Data da Publicação: 10/10/2025
Ninguém em sã consciência discute a importância do agronegócio brasileiro. Ele é eficiente, competitivo e responsável por alimentar parte significativa do mundo, mas lembre-se de que ele só é desse tamanho porque tem uma Embrapa, sua tecnologia avançada e financiamento altamente subsidiados.
Mas o debate essencial é outro: por que, apesar de sua força, o setor agropecuário continua a ser amplamente subsidiado, enquanto outros segmentos produtivos ? especialmente a indústria ? enfrentam custos elevados, burocracia e carência de políticas de apoio? O verdadeiro desafio está em equilibrar os incentivos para que o país não se torne apenas um grande exportador de commodities agrícolas e um importador de bens manufaturados.
A realidade é que o agro brasileiro, embora robusto, só existe porque há uma ampla base industrial sustentando-o: fábricas de tratores, implementos agrícolas, rações, sistemas de irrigação, silagem, fertilizantes, embalagens, alimentos industrializados, caminhões, caminhonetes, motos, usinas de etanol, estufas, sombrites, tubos e conexões. Todos esses setores fazem parte de um ecossistema produtivo que depende de inovação tecnológica, engenharia e capital humano qualificado ? pilares tipicamente industriais. Quando o país desvaloriza sua indústria, enfraquece também a espinha dorsal do próprio agronegócio.
Distorção fiscal
Os números mostram um desequilíbrio gritante. A indústria responde, hoje, por apenas 12% do PIB brasileiro, mas paga cerca de 30% dos tributos do país. Já o agronegócio, com 7% do PIB, contribui com apenas 5% da carga tributária. Essa distorção fiscal revela não apenas um problema de justiça tributária, mas também uma escolha de prioridades: o Brasil premia quem exporta produtos de baixo valor agregado e penaliza quem tenta inovar, empregar mais e gerar tecnologia dentro de casa.
O resultado dessa estratégia já está visível na balança comercial. Enquanto o agro exibe um superávit de cerca de US$ 150 bilhões, a indústria de transformação acumula um déficit da mesma ordem. Em outras palavras, vendemos soja, milho e carne, mas compramos máquinas, eletrônicos, remédios e semicondutores. Essa dinâmica empobrece o país no longo prazo, pois o valor agregado e os bons empregos estão concentrados justamente nos setores industriais e tecnológicos, e não no agro.
Um projeto nacional de desenvolvimento precisa entender que o agro e a indústria não são adversários, mas aliados. O agronegócio precisa da indústria para continuar se modernizando, e a indústria precisa do agro como mercado e como parceiro na criação de novas tecnologias sustentáveis. O futuro do Brasil depende de integrar esses dois mundos ? valorizando a produção de conhecimento, inovação e tecnologia que multiplica o valor daquilo que a terra nos dá.
Uma reflexão
E, para concluir, fica aqui uma dica para refletir. Qualquer país exporta soja, milho e minério de ferro, mas poucos projetam e fabricam aviões de combate. O Brasil entrou nesse clube seleto ao lado de potências como Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China. Hoje, a Embraer exporta o equivalente a todo Agro brasileiro, mas é nela que estão os melhores e maiores salários da cadeia produtiva.
Fonte Paulo Gala