Estudo detecta "pandemia dos não vacinados" no Brasil, como aconteceu nos EUA e em Israel
Enquanto Bolsonaro reafirma que não vai se vacinar, novos dados mostram que não imunizados são maioria de casos e mortes
22/10/2021
Covid-19
Edição 368
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A maior parte das internações e mortes por covid-19 registradas
atualmente ocorrem entre pessoas que não tomaram a vacina. A constatação vem
sendo corroborada por entidades da saúde e da ciência do mundo todo. Na semana
que se encerra neste sábado (16), mais um estudo - dessa vez no Brasil -
endossou a percepção.
De acordo com dados reunidos pelo Instituto de Infectologia Emílio
Ribas, em São Paulo, nove entre cada dez pacientes em internação por
covid nos últimos meses não receberam o imunizante. As pessoas não
vacinadas têm 14 vezes mais chances de morrer por causa da doença.
Israel e Estados Unidos
Não é a primeira vez que conclusões semelhantes são apresentadas. Os
governos de Israel e Estados Unidos (EUA), por exemplo, vêm alertando há meses
sobre a chamada "pandemia de não vacinados". Em algumas
regiões quase todos os casos de internação registrados são de pessoas que não
passaram pela imunização.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA divulgou uma pesquisa de grandes proporções, em que 600 mil pessoas
foram acompanhadas. Os resultados indicam que quem não tomou a vacina tem dez
vezes mais possibilidade de precisar de internação.
96% dos casos de internados não tinham o esquema vacinal em dia
Em agosto, uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), por meio da plataforma InfoTracker, indicava que 96% dos
casos de internados e internadas ocorreram entre pessoas que não tinham o
esquema vacinal em dia.
A médica Fernanda Americano Freitas Silva, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que o
controle da pandemia esbarra no número de pessoas que ainda não tomaram a
vacina.
Ela lembra que a Fundação Oswaldo Cruz, por meio do boletim Infogripe,
relata que é preciso vacinar pelo menos 80% de toda a população brasileira para
controlar a pandemia. "Por mais que estejamos em um momento melhor,
ainda temos um caminho a trilhar", pontua a médica.
Segundo Fernanda, os números diários atuais no Brasil ainda devem
preocupar "Eles demonstram a permanência da transmissão e a
incidência de casos graves, que exigem cuidados intensivos e ainda podem gerar
milhares de mortes nos próximos meses", alerta.
Bolsonaro do contra
A preocupação com o controle da pandemia por meio do avanço da vacinação
foi o principal tema do novo relatório conjunto da
Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Comissão Econômica para a
América Latina e o Caribe (CEPAL).
Divulgado na última quinta-feira (14), o documento faz um apelo aos
governos da região para que acelerem a imunização. Esse é um dos focos
considerados prioritários para controlar a crise de saúde no curto prazo.
"Junto com as fragilidades estruturais dos sistemas de saúde para
enfrentar a pandemia, o prolongamento da crise sanitária está intimamente
relacionado ao lento e desigual andamento dos processos de vacinação na região
e às dificuldades dos países em manter as medidas sociais e de saúde pública
nos níveis adequados", diz o relatório.
No Brasil, dias antes, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou
que não pretende se vacinar. Em entrevista a uma emissora de rádio apoiadora do
governo ele mentiu ao dizer que não precisa da vacina porque já foi infectado
pelo coronavírus.
Pessoas que já foram contaminadas não estão protegidas contra a doença,
o que já é comprovado por estudos científicos no mundo todo. A proteção
oferecida pela vacina é a única forma de controle da pandemia.
As declarações de Bolsonaro foram feitas dias antes de o Brasil chegar
à marca de mais de 600 mil óbitos por covid. A médica Fernanda
Americano considera a postura do presidente "lamentável".
Segundo ela, o chefe de Estado presta "mais uma vez um desserviço"
à população brasileira com a postura.
"É difícil aceitar que a nossa maior autoridade política
descredibiliza o que temos de mais concreto no combate à pandemia, que é a
vacinação em massa. Bolsonaro deveria ser exemplo, mas como vimos desde o
início, ele segue no discurso do caos e da morte", finaliza
Fernanda.
Fonte Brasil de Fato/Nara Lacerda