Fazenda Sacco Velho (Vera Cruz)
Em 1840, o agrimensor Saldanha Marinho chegava do Rio de Janeiro para medir a Fazenda Sacco Velho, cujas terras interessavam a alguns membros da família Werneck, descendentes diretos do seu primeiro administrador capitão Inácio de Souza Werneck
22/07/2016
Historiador Sebastião Deister
Edição 95
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No ano de
1840, o agrimensor Urbano de Saldanha Marinho chegava do Rio de Janeiro para
medir oficialmente a Fazenda Sacco Velho, cujas terras interessavam a alguns
membros da família Werneck, descendentes diretos do seu primeiro administrador,
o Capitão Inácio de Souza Werneck, oriundo da Piedade de Vera Cruz. Por essa
época, já existiam na área pretendida (que hoje ainda abriga o Sítio Lírio do
Brejo, junto ao bairro Guararapes e a meio caminho entre Miguel Pereira e Paty
do Alferes) algumas florescentes propriedades sob a administração de Francisco
da Rocha Chaves, as quais faziam divisa com a pioneira Fazenda Monte Alegre, de
Francisco das Chagas Werneck, tio do 2º barão de Paty do Alferes (Francisco
Peixoto de Lacerda Werneck). Além de compartilhar divisas com a rica Monte
Alegre, as terras de Francisco limitavam-se com as fazendas de D. Antônia
Maria, ao norte, e de Felix de Azevedo Ramos, pelo sul. Para a direção oeste,
Sacco Velho alcançava as atuais terras do centro de Miguel Pereira, exatamente
onde agora se localiza a sua estação ferroviária, estabelecendo linhas de
contato com a Fazenda da Estiva, de Antônio da Silva Machado (o Machadinho).
Dali, a área voltada para o bairro Pantanal, mais ao norte, pertencia à família
do Dr. Antônio Botelho Peralta.
A família
Werneck tinha por norma sempre ampliar seu patrimônio territorial. Assim,
Francisco das Chagas Werneck mostrou-se disposto a comprar a Fazenda do Sacco
para, agregando-a a Monte Alegre, dominar uma área fantástica que vinha desde a
Fazenda da Manga Larga, em Paty, até o centro de Barreiros, com isso criando um
imenso latifúndio que aumentaria ainda mais o prestígio e a riqueza dos Werneck
no alto da Serra do Couto. Francisco era o sexto filho de Inácio de Souza Werneck
e, em 1846, senhor absoluto da Fazenda Monte Alegre, propriedade que, aliás,
venderia a seu sobrinho, o 2º Barão de Paty do Alferes, no ano de 1853.
Incansável
negociante, Francisco comprou, em 1846, 750 x 900 braças da Fazenda do Sacco (cerca de
150.000 m²), esta fazendo testada, como já mencionado, com a área de
D. Antônia Maria e fundos com os terrenos de Felix de Azevedo Ramos. Não
satisfeito, nos últimos meses daquele mesmo ano adquiriu mais 250 x 700 braças
(ou 38.000 m²) pertencentes a Francisco de Oliveira Duarte,
ampliando seu patrimônio e ganhando como vizinhos João René de Jesus, pelos
fundos, e Antônio Ribeiro Gomes Junior, pelo oeste. Por seu turno, João René de
Jesus, logo em seguida, vendeu a Francisco outro sítio vizinho ao Sacco,
chamado Buraco Fundo. Com isso, os Werneck aumentaram sensivelmente a testada de
sua fazenda e, anexando-a de imediato a Monte Alegre, colocaram-se na
consistente posição de donos de praticamente metade do incipiente povoado de
Barreiros.
Em 1847,
o restante de Sacco Velho foi desmembrado. As glebas resultantes de tal
retalhamento passaram a conhecer novos proprietários que, administrando seus
diversos sítios, estenderam um processo de ocupação que acabou por cobrir uma
considerável área nas atuais terras centrais de Miguel Pereira, facilitando
dessa maneira o aparecimento de residências e casas de comércio pelo lugarejo,
conforme podemos verificar pela resumida, porém importante relação a seguir:
- 1847 - O Dr. Luiz Peixoto de Lacerda Werneck, o primeiro
filho do Barão de Paty, e, portanto, sobrinho-neto de Francisco das Chagas
Werneck, vende ao tio-avô o chamado Sítio do Sacco e outra propriedade que
comprara de João René de Jesus.
- 1847 - O fazendeiro Manoel Sebastião de Almeida e sua
mulher vendem a Manoel Corrêa de Mattos um sítio denominado Palacete,
localizado dentro das terras do Sacco Velho.
- 1858 - Francisco da Silveira Duarte e sua mulher, D.
Fortunata Maria da Conceição, vendem ao Barão de Paty parte de uma área no
Sacco, ampliando os domínios dos Werneck no lugar.
- 1872 - O Dr. Joaquim Teixeira de Castro, o Visconde de Arcozelo, compra de
Manoel Corrêa de Mattos o chamado Sítio Palacete, dentro dos limites do Sacco.
Diversas
outras negociações, envolvendo as chamadas "terras do Sacco", foram
concretizadas até o apagar do século XIX. Os que as escrituras não citam, mas
podemos inferir, é que a Fazenda do Sacco não constituía simplesmente uma
propriedade dentro da qual se inseriu o Sítio Lírio do Brejo, até hoje
existente em Miguel Pereira. Lendo as descrições aqui fornecidas, é possível
que o leitor imagine uma área fracionada em várias chácaras diminutas, mas tal
situação não se mostrava verdadeira. Julgando-se todos os contratos de compra e
venda da época, podemos confirmar, através de registros cartoriais, que a
Fazenda do Sacco limitava-se com Monte Alegre a leste e com Pantanal a oeste,
compreendendo em sua área diversas propriedades menores para o norte, enquanto
para o sul, na direção das bandas da serra do Tinguá, apresentava linhas
divisórias junto à Fazenda de Nossa Senhora da Piedade de Vera Cruz (também da
família Werneck), isto é: embora assentada em terras do povoado de Barreiros, a
Fazenda do Sacco estendia seus domínios pelas colinas circundantes do povoado,
o que nos dá uma ideia mais clara de suas notáveis dimensões e de sua
importância na ocupação demográfica da Serra do Couto.
Na
segunda metade do século XX, a fazenda foi administrada por d. Astréia Mattos,
que a revendeu para a família do senhor Durval Amaral (filho do general
Ferreira do Amaral) cujos descendentes ainda detém a posse daquelas terras
centenárias, com exceção apenas do Sítio Lírio do Brejo, em mãos de outro
proprietário.
Na próxima edição: Fazenda do
Sacco