Documentário vai contar a história de investidora brasileira e bilionária do século XIX
A vida de Eufrásia Teixeira Leite, investidora brasileira que ganhou bilhões em investimentos no século XIX, vai ser transformada em documentário pela produtora de Zelito Viana
05/11/2021
História
Edição 370
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Nascida em Vassouras, no Sul Fluminense, em 1850, Eufrásia quadruplicou
a herança dos pais em bolsas de valores na Europa, Rússia e Ásia. Aos 23 anos,
com a morte do pai, ela se mudou para Paris e fez fortuna, mesmo com a proibição
da presença de mulheres nos pregões.
Com filmagens em Vassouras e em Paris, capital
francesa, o longa vai destrinchar a história dessa mulher transgressora para a
época em que viveu, mas que ficou mais conhecida pelo relacionamento de 14 anos
com Joaquim Nabuco. O projeto tem direção da jornalista Luciana Savaget e deve
ser concluído no final de 2022.
Nascida em 15 de abril de 1850, em
Vassouras, Eufrásia Teixeira Leite era filha caçula do Dr. Joaquim José
Teixeira Leite e Ana Esméria e Castro, neta paterna do Barão de Itambé, neta
materna do Barão de Campo Belo (que possuía 300 escravos na Fazenda do
Secretário), sobrinha do Barão de Vassouras (que possuía 150 escravos na
Fazenda Cachoeira Grande) e sobrinha-neta do Barão de Aiuruoca. Tinha uma única
irmã, Francisca Bernardina Teixeira Leite, e um irmão que faleceu na infância.
O pai atuou na política imperial como
presidente da Câmara Municipal de Vassouras e deputado da Província do Rio de
Janeiro. Contudo, sua principal atividade era a Casa Comissionária de Café (o
equivalente a um banco hoje). Ganhava dinheiro com o café sem plantá-lo,
financiando os barões cafeeiros; não tinha fazenda, apenas uma chácara - hoje a
Casa da Hera (até hoje bem preservada) - e 5 escravos. Recebia o café dos
fazendeiros para ser vendido e exportado.
O dinheiro arrecadado era mantido em
crédito em uma conta do fazendeiro, da qual era debitado o valor dos
mantimentos e outros pedidos que garantiam novas plantações. Eram as Casas
Comissionárias que financiavam as lavouras de café. O poder e a fortuna estavam
nas mãos dos comissionários de café que controlavam o recurso financeiro para
poder investir e realizar o processo produtivo.
A residência da família era um dos
principais palcos por onde transitavam homens e mulheres ilustres da época. A
Casa da Hera, como ficou conhecida, foi cenário de festas e saraus e era onde
se fazia comércio e se discutia finanças e política.
Com a morte dos pais (a mãe em 1871 e o
pai em 1872), Eufrásia e sua irmã herdaram uma fortuna invejável em títulos
públicos, apólices do Banco do Brasil e créditos de dívidas a receber. Logo
depois, em 1873, morre a avó materna (Baronesa de Campo Belo) e as irmãs veem
seu patrimônio aumentado por uma soma considerável de dinheiro na forma de
títulos e escravos herdados da avó.
Jovens e solteiras, as irmãs,
contrariando os costumes da sociedade patriarcal da época, não se casaram e nem
deixaram aos tios a administração. O pai lhes havia ensinado matemática
financeira e as preparado para serem grandes capitalistas. Venderam as ações,
títulos e a casa do Rio de Janeiro, cobraram créditos, venderam os escravos,
fecharam a casa da Chácara, deixando 2 empregados incumbidos de sua conservação,
e partiram em 1873 para residir em Paris.
Na França, Eufrásia, independente, hábil
nos negócios e com um espírito empresarial de família, investiu sua fortuna e
de sua irmã em capital financeiro, sabendo administrá-lo e multiplicá-lo com
maestria no circuito mercantil internacional. Tornou-se acionista de diversas
empresas de diferentes países.
Comprou ações no Brasil, como do Banco
do Comércio e Indústria de São Paulo, do Banco Mercantil do Rio, Banco do
Brasil, Cia Docas de Santos, Cia Mogiana de Estradas de Ferro, Cia Paulista de
Estrada de Ferro, Estrada de Ferro Madeira-Mamoré etc. Para mais, consta ter
sido a primeira mulher a entrar no recinto da Bolsa de Valores de Paris.
Frequentou a aristocracia francesa, ganhou admiradores e se relacionou durante
alguns anos com um político pernambucano abolicionista, Joaquim Nabuco.
Francisca faleceu na França, em 1899,
sem ter se casado. Eufrásia herdou a fortuna da irmã e retornou definitivamente
para o Brasil em 1928, permanecendo uma temporada em Vassouras, na Casa da
Hera. Viveu seus últimos anos em um apartamento no Rio de Janeiro cercada de
empregados fiéis. Faleceu em 1930, aos 80 anos, sem nunca ter se casado e nem
deixado herdeiros.
Nos terrenos deixados por Eufrásia em
Vassouras, foram construídos o Instituto Feminino para moças pobres, o Colégio
Regina Coeli para moças, o Senai, o Fórum e outros prédios. O Hospital Eufrásia
Teixeira Leite foi construído com recursos deixados por ela.
Uma das cláusulas de seu testamento
pedia para conservar a chácara com tudo que nela existia, não podendo ocupar ou
ser ocupada por outros. Assim, a residência dos seus pais em Vassouras é hoje o
Museu Casa da Hera.
A Sinhazinha Eufrásia fugiu do
tradicional papel feminino da época em que a sociedade do século XIX impunha às
mulheres serem subjugadas aos pais, aos maridos e à própria sociedade. A
riqueza lhe garantiu emancipação econômica e sentimental. Era uma mulher
bonita, inteligente, intelectual, autoritária, culta, apaixonada e solitária.
Estima-se que Eufrásia acumulou no decorrer de
sua vida uma fortuna equivalente a 2 toneladas de ouro.