100 anos da atriz Eva Todor
Toda 6ª feira Eva estava chegando a Miguel Pereira, sua grande paixão depois do teatro
07/08/2020
Cultura
Edição 304
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Era em Miguel Pereira que a atriz Eva Todor descansava
e recarregava suas baterias da extensa agenda cultural que tinha no Brasil, e
era para onde trazia amigos e colegas de palco e televisão. Segundo o caseiro Cícero, que está há mais de 15 anos na casa, "dona
Eva subia toda 6ª feira com o motorista Marcos e a Maria, sua secretária. Todo final de
ano, ela não esquecia da gente, e quando não vinha, mandava nossas lembranças.
Tinha fim de semana que ela não queria almoçar em casa, então gostava de comer
no restaurante Maria Fumaça (antigo). Aos
domingos, ela voltava para o Rio por volta das 15h, foi muito bom trabalhar com dona Eva", disse Cícero. Nessa época, o restaurante Maria Fumaça era da Dida e da irmã Cau, esta casada
com João Luiz da Cachaça Magnífica; e a Dida era a responsável pelo fantástico
cardápio baseado na cozinha francesa. O antigo restaurante Maria Fumaça
funcionava onde hoje é o restaurante Estação Grill, em frente à estação de
trem.
Para o
colecionador e amigo Marcelo Del Cima, "Eva Todor é uma figura ilustre não
só no país, mas afetuosamente para Miguel Pereira, local onde ela escolheu para
veranear, passar fins de semana e levar os amigos. Ela gostava muito da cidade".
Na década de 60, Eva
construiu sua casa no
Jardim Ramada. A casa é espaçosa, com lareira, suíte,
três quartos, uma grande e funda piscina de pedra, casa de
hóspedes e uma
área fantástica cercada por muitas árvores de
flores e frutíferas, necessárias
para atrair pássaros e outros pequenos animais que Eva
Todor gostava de ter a sua volta.
Da Hungria para o Brasil
Eva Todor era húngara e nasceu em 9 de novembro em Budapeste. Sua mãe
era designer de moda e seu pai era comerciante de tecidos finos. Todos eram muito
ligados à arte, e, por isso, matricularam a menina, ainda com 4 anos, na Ópera
Real da Hungria, onde ela aprendeu a dançar balé clássico.
A família migrou para o Brasil, fugindo das dificuldades pelas quais
passava a Europa no pós-guerra. Aqui, Eva continuou as aulas de balé e aos 9 anos
já havia se apresentado em espetáculo de dança solo, acompanhada de um
pianista, no Teatro Municipal de São Paulo.
Centenário de Eva Todor
Em 9 de novembro foi o centenário de nascimento de Eva Todor, e, por
isso, uma reportagem especial sobre nossa maior atriz.
"Eu dançava
muito bem e fiz alguns bailados, por isso, quando nos mudamos para o Brasil,
cheguei com um repertório de dança, apesar de minha pouca idade", disse Eva ao historiador Marcelo Del
Cima.
Quando tinha 8 anos, Eva e sua família passaram a residir no Brasil,
primeiramente em São Paulo, para, logo em seguida, estabelecerem-se no Rio de
Janeiro. Durante aproximadamente 6 anos, Eva se apresentou em diversas festas e
espetáculos como menina-prodígio. O apoio irrestrito dos pais propiciou o
aperfeiçoamento da jovem artista, levando-a a estudar na Escola de Bailados do
Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a orientação da lendária Maria
Olenewa.
Aos 14 anos, Eva Todor pisava pela primeira vez num palco como atriz.
Superando a barreira do idioma, a adolescente viveu um dos principais papéis do
espetáculo "Há uma Forte
Corrente..."
(1934), revista musical encenada no Teatro Recreio (RJ). No papel de "Folia", Eva Todor se tornou a grande atração da montagem produzida por
um dos maiores empresários do gênero na ocasião: o português Manoel Pinto.
Durante 5 anos, Eva dedicou-se à revista, acumulando mais de 80 espetáculos no
currículo - a maioria deles com a companhia do Recreio, mas também juntamente
com a trupe de Jardel Jércolis, principal concorrente dos espetáculos de Manoel
Pinto.
Aos 90 anos,
Eva achou melhor diminuir o ritmo
Após toda uma vida devotada às artes cênicas, Eva Todor diminuiu o ritmo
de suas atividades ao ultrapassar a idade de 90 anos, com 80 anos de carreira. Seus
95 anos de vida foram celebrados em grande estilo em uma inesquecível noite de
2014, no Teatro Leblon, Sala Fernanda
Montenegro.
A última abertura da cortina
Prestigiada por centenas de amigos e artistas, a atriz viu pela última
vez as cortinas de um teatro se abrirem para ela. A homenagem foi organizada
pelo produtor Hermes Frederico e contou com a colaboração da historiadora Tania
Brandão, do colecionador e amigo pessoal Marcelo Del Cima e do pesquisador Daniel Marano. As atrizes e amigas Aracy Cardoso e Theresa Amayo
discursaram e
a cantora e atriz Bel Lima a brindou com uma bela interpretação da música
"Eva Querida".
Fim
Aos 98 anos de idade, Eva Todor faleceu em sua residência no bairro do
Flamengo no Rio de Janeiro.
Fotos crédito Marcelo Del Cima