Fiocruz realiza visita técnica em plantação de maconha medicinal em Paty

Sai a polícia e entra em campo a ciência

 07/05/2021     Cannabis medicinal      Edição 344
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A Apepi passou por um susto no dia 26/4, quando a força policial de Miguel Pereira, formada pela Guarda Municipal e Polícia Civil, chegou com 6 carros e cerca de 20 policiais para cumprimento de mandado judicial de busca e apreensão devido a crimes de tráfico ilícito e uso indevido de drogas. Porém, verificou-se que era uma plantação de cannabis (maconha) para uso medicinal autorizada pela justiça federal com a finalidade de fabricar o óleo CBD (canabidiol), que trata epilepsia, convulsões e fibromialgia dos associados da Apepi por R$ 150,00, enquanto nas farmácias o mesmo produto é comercializado a R$ 2.500,00.

 

A pesquisa

 

Em 2020, a Apepi assinou com a Fiocruz um Protocolo de Cooperação, sem transferências de recursos financeiros, em que as duas instituições se propõem a desenvolver um programa com mútua cooperação visando alinhar conceitos, traçar diretrizes e definir métodos para subsidiar futuras parcerias entre a Fiocruz e a Apepi para aprofundar e desenvolver estudos sobre a cannabis sativa. Esses estudos estão sendo desenvolvidos na fazenda da Apepi em Paty do Alferes.

 

Fiocruz realizou visita técnica

 

Em função desse Protocolo de Cooperação, a Fiocruz realizou uma visita técnica em fevereiro na sede campestre da Apepi, em Paty do Alferes, efetuada pelo engenheiro Agrônomo da Farmanguinhos (Fiocruz), com o objetivo de conhecer a equipe responsável pelas atividades da Associação.

O objetivo foi levantar informações quanto a infraestrutura atual (e em implantação) para, juntamente com os dados relativos à metodologia de produção, permitir a colaboração da Fiocruz com um conjunto de sugestões de ajustes técnicos e auxiliar no desenvolvimento de um programa de mútua cooperação, além de subsidiar a parceria para pesquisas no campo da cannabis medicinal, conforme definido no extrato de protocolo publicado em Diário Oficial de 29 de setembro de 2020.

 

Cultivo da cannabis (maconha)

 

Nessa visita, foi concluído que o processo que envolve o cultivo, manejo e melhoramento genético da espécie produzida no local apresenta um elevado nível de controle, eficiência e qualidade devido à capacidade técnica e experiência da equipe envolvida, conforme relatório feito pelo profissional.

 

Paty terá centro de pesquisas em parceria com a Fiocruz

 

"O projeto também prevê um centro de pesquisa sobre cannabis medicinal na Fazenda e para isso contamos com essa parceria da Fiocruz", diz a Margarete Brito, coordenadora executiva da Apepi, que vem lutando por mais pesquisas e respostas da ciência no campo da cannabis medicinal desde a fundação da Associação.

 

UNICAMP (SP) e IFRS (RS)

 

A Apepi está também em fase de planejamento junto com o INCQS (Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde), UNICAMP e IFRS, elaborando a realização do controle de qualidade dos medicamentos fornecidos aos associados com o intuito de cumprir todas as boas práticas previstas pela Anvisa.

 

Fiocruz afirma que a Apepi é uma parceira qualificada

 

Em entrevista para o Jornal O Globo, em 20/04/21, Valcler Rangel, assessor de Relações Institucionais da Fiocruz, diz que "A intenção é contribuir para a disseminação de informações seguras sobre as experiências com a cannabis (maconha) para uso medicinal", além de afirmar que a Apepi é uma parceira qualificada que se preocupa com a base científica do uso dos extratos da cannabis.

"A Fiocruz pode ajudar a quebrar preconceitos e estigmas, porque o uso medicinal da cannabis [maconha] foi muito prejudicado pela guerra às drogas. A legislação proibitiva dificultou muito a pesquisa" - afirma Rangel - "vamos trazer dados científicos".

Segundo o técnico Valério Francisco Morelli Amaral, do Centro de Inovação em Biodiversidade e Saúde (CIBS) e da Plataforma Agroecológica de Fitomedicamentos (PAF) da Fiocruz, "O processo que envolve a propagação, cultivo, manejo e melhoramento genético da espécie produzida no local [Paty] apresenta um elevado nível de controle, eficiência e qualidade devido à capacidade técnica e experiência da equipe envolvida. O processo de manipulação ou transformação da matéria-prima vegetal em produto acabado [óleo] ainda não foi iniciado no local, mas há previsão de que aconteça em breve".

 

"Segundo o neurocientista Sidarta Ribeiro, a maconha está para a medicina do século 21 como os antibióticos estiveram para a medicina do século 20"