Autora da novela Jesus, da TV Record, guarda preciosas lembranças de férias passadas em Miguel Pereira!
Paula conheceu Miguel Pereira quando seus tios se mudaram para a cidade no final dos anos setenta
12/01/2024
Entrevista
Edição 483
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Paula Richard é autora-roteirista, tendo participado de diversas novelas
e séries na TV Record, e seu primeiro trabalho na emissora foi a novela "Vidas
Opostas". Ela assinou a autoria da novela "O Rico e Lázaro", que foi
vendida para o mercado latino nos EUA e exibida com estrondoso sucesso. Em
seguida, adaptou a história de Jesus à telinha. A novela "Jesus" foi
exibida na TV Record e vendida para diversos países, sendo vista por milhões de
pessoas.
Paula contou com a colaboração de uma talentosa equipe de roteiristas em
suas novelas: Camilo Pellegrini, Joaquim Assis, Natalia Piserni, Natalia
Sambrini, Vitor de Oliveira e Rodrigo Ribeiro. Rodrigo também tem uma história
com Miguel Pereira e Paty do Alferes: seus pais moram na cidade, onde ele
decidiu residir ao final dos trabalhos.
Paula conheceu Miguel Pereira quando seus tios se mudaram para a cidade no
final dos anos setenta. Beatriz Valle,
irmã gêmea de sua mãe, casada com Afonso Valle, tem cinco filhos, sendo quatro
meninas e um menino. Como se não houvesse criança demais em casa, ainda recebem
a sobrinha nas férias de verão!
Paula guarda com carinho as lembranças das corridas de motocross
realizadas na época, o pique-lata brincado na rua, os passeios em cavalos
alugados, as mobiletes e cinquentinhas que circulavam, as brincadeiras e a
garotada que se reunia na calçada em frente à casa da Tia Bá, como chama
carinhosamente sua segunda mãe. Suas primas e primo: Maria Helena, Ana Lúcia, Nísia,
Ângela e Maninho são como irmãos para Paula e seus grandes companheiros de
infância.
Segundo sua prima Nísia, fonoaudióloga em Miguel Pereira, Paula tinha
gênio forte - disputando o posto de teimosia com sua irmã Ângela - o que não impedia
que brincassem juntas e até decidissem inundar a laje da casa para fazer uma "piscina"...
Beatriz Valle, moradora do bairro São Judas Tadeu, ou a Tia Bá, lembra
que não era fácil lidar com essa turma, mas tem saudades desse tempo. Paula
lembra que Tia Bá costurava para as filhas e ela ganhava a mesma peça,
desfilando iguais pelas ruas de Miguel Pereira, felizes da vida! Numa esquina,
Paula comprava a melhor paçoca que provou na vida, nunca tendo encontrado outra
igual. Talvez mais pelo tempo feliz do que pelo sabor da paçoca...
Do Miguel Pereira Atlético Clube, Paula lembra um tombo de bicicleta com
seu primo Maninho na garupa, em frente à turminha da cidade. O freio falhou...
nenhum ferido a não ser o orgulho próprio!
Os anos passaram, os tios saíram de Miguel Pereira, moraram em outras
cidades, até que, aposentado, Afonso decide retornar. Paula morou anos na
França, teve três filhos e, em seu primeiro retorno ao Brasil, fez questão de
levá-los a Miguel Pereira ver sua família!
Escrevendo novela, trabalhando cerca de 12 horas por dia, as lembranças
de Paula das férias em Miguel Pereira são um precioso tesouro que a lembram do
que é real e verdadeiro para ser guardado no coração.
Sobre o trabalho na TV ela conta que é extenuante, mas, como ama o que
faz, encontra um imenso prazer em escrever. Sobre a adaptação da história de
Jesus, relata que fez um exaustivo trabalho de pesquisa e estudos bíblicos e
históricos antes de começar a escrever. A grande responsabilidade de falar de Jesus
exigiu muito cuidado e respeito.
Mais informações:
1 - Como você recebeu a informação sobre o sucesso da novela Jesus, na
Argentina?
Com muita alegria e orgulho, claro! Rs Sou grande admiradora do cinema
argentino e fiquei feliz em saber que a novela foi tão bem recebida por lá. É
bacana ver um produto que envolve tantos profissionais dedicados e talentosos
ter seu valor reconhecido pelo público argentino, repetindo o sucesso que
obteve no canal de língua hispânica dos EUA, assim como em outros países. O
sentimento é de alegria, orgulho e gratidão!
2 - Quais fatores colaboram para esse desempenho de audiências na sua
opinião?
A mensagem de Jesus é atemporal e está no fundamento da moral e ética do
mundo ocidental judaico-cristão. Você não precisa ser religioso para se
emocionar com os milagres ou com as coisas que Jesus diz. Pela primeira vez
essa história foi contada em sua íntegra, permitindo que desenvolvêssemos
personagens com mais profundidade. Quando você conhece os dramas e conflitos
que aquela pessoa viveu até chegar a seu momento bíblico icônico, ela fica mais
próxima de você. Assim, não temos apenas um cego de nascença que foi curado,
mas toda uma história antes e depois dele viver esse momento. Além disso, a
novela é linda! A direção, produção, luz, figurino, maquiagem, cenografia,
edição, som... Tudo de extrema qualidade, talento e cuidado. Sem contar com o
elenco, maravilhoso, é claro!
Entre vários eventos, temos uma corrida de bigas que não deixa
absolutamente nada a dever a produções hollywoodianas! Parte da via crucis e a
crucificação gravadas no Marrocos, enfim, uma grande produção
Record-Casablanca.
Podemos discorrer sobre os diversos fatores que colaboram para o sucesso
de uma novela, mas o desempenho da audiência está sempre nas mãos do público.
Escrevemos para ele e, quando gostam, é porque deu tudo certo!
3 - Como deixar interessante uma história que "todo
mundo" já conhece?
Podemos conhecer uma história, mas é o modo como ela é contada que faz a
diferença. Todos conhecem a história de Jesus de forma geral, mas dessa vez ela
foi mostrada em sua íntegra, algo que nunca foi feito antes. Muitas passagens
de Jesus eram desconhecidas do público em geral.
Além disso, tivemos a oportunidade de desenvolver personagens que só
eram mostrados em seus momentos icônicos, sem saber quem eram realmente, o que
viveram até aquele momento, de que forma foram tocados por Jesus.
A cena da crucificação não é a mesma quando você conhece a vida e a
trajetória dos personagens que a presenciaram. Através dos olhos desses
personagens, uma cena tantas vezes vista, toma outra dimensão.
4 - Quais outros desafios existiram na hora de fazer
"Jesus" para a Record?
O grande desafio foi justamente contar a saga de Jesus em sua íntegra,
com todos os personagens históricos e bíblicos que fazem parte dela, numa linha
de tempo dramatúrgica possível. Foram muitos personagens, muitas tramas
paralelas periódicas (como de pessoas que receberam milagres), o que exigiu uma
estrutura extremamente complicada. Manter personagens e tramas fixos ativos e
desenvolver paralelas com início meio e fim é uma tarefa complexa. A Bíblia
fala da mensagem, dos ensinamentos, de Jesus, sem compromisso com uma linha de
tempo de uma narrativa dramatúrgica. A estrutura foi o grande desafio. Além
disso, claro, estudar e compreender as passagens bíblicas para passá-las da
melhor forma para o público.
5 - Você acompanha a repercussão da novela entre os
espectadores? Já mudou algo nos roteiros por conta disso (o quê)?
Sempre acompanho a repercussão da novela entre os
espectadores. O público é o grande especialista, é para ele que escrevemos.
Como escrevo com grande adianto de texto, fica difícil mudar algo. Mas
certamente fico atenta aos comentários e ajeito o que for possível.
6 - No começo da novela, lembro que foi muito mencionada a
diferença na retratação de Maria Madalena, pelo fato de ela ser prostituta na
Bíblia. Por que você optou por fazer alterações de uma "história
original"? Quais outras mudanças você pode citar? Como isso foi recebido?
Volta e meia me perguntam: que Bíblia você usou? É
verdade que existem muitas traduções, versões, mas todas do mesmo texto. Claro
que, de acordo com a religião, as interpretações podem variar. Mas variam em
cima do mesmo texto. O que há de preciso no texto bíblico sobre Maria Madalena
é que ela era atormentada por sete demônios, foi curada e passou a seguir
Jesus, estando presente em sua crucificação e ressuscitação.
O que causou essa "fama" é que durante muito tempo ela
foi identificada como sendo a mulher prostituta que lava os pés de Jesus,
também chamada Maria, um nome extremamente comum na época. Mas, em 1969, o
próprio Vaticano retificou esse engano. Claro que, a essa altura, a imagem da
Madalena arrependida, prostituta, já estava no imaginário coletivo. Sendo
assim, eu não mudei a "história original", mas retornei a ela. Rs
7 - Qual a sensação de finalizar o ciclo de mais uma
novela? Conseguiu atingir as suas expectativas?
Terminar uma novela é um alívio imenso! Escrever uma
história de cerca de 150 capítulos é um desafio absurdo! Além do alívio, sinto
imensa gratidão por todos que ajudaram a contar essa saga. Minha equipe,
direção, elenco, e tantas pessoas que estão envolvidas num projeto desse
tamanho. A novela ficou linda graças ao talento e trabalho de todos envolvidos!
De minha parte, sei que poderia ter feito uma ou outra coisa melhor, mas fiquei
muito feliz com o resultado!
8 - Como foi as cenas da crucificação, ressurreição de
Cristo e da ida Dele para o Céu? Tem outra sequência de impacto?
Todos já viram essas cenas retratadas em filmes ou seriados, mas dessa
vez conhecemos a vida e a trajetória dos personagens que presenciaram esses
momentos, que conheceram Jesus, que foram tocados por Ele e tiveram suas vidas
transformadas. Através dos olhos desses personagens, cenas tantas vezes vistas,
tomam outra dimensão. São capítulos fortes, com muita emoção. Mesmo conhecendo
a história, foi difícil escrever a Via Crucis e Crucificação. É algo que
realmente mexe com você. Felizmente não
é o fim e Jesus ressuscita! Seguimos um pouco além da Ascenção de Jesus para
mostrar que Sua história continua através dos Apóstolos e daqueles que seguiram
lutando para que Seus ensinamentos fossem perpetuados. Apenas uma pincelada,
até o apedrejamento de Estevão, o primeiro mártir cristão.
9
- Acompanhando a novela vi que as personagens femininas têm um espaço muito
grande embora algumas não sejam retratadas tão detalhadamente na Bíblia. Foi
uma bandeira que você quis levantar?
De
modo geral, a Bíblia não detalha os personagens femininos e temos que
desenvolvê-los segundo as informações bíblicas e históricas. Não foi o caso de
levantar uma bandeira, mas simplesmente de mostrar a importância dessas
mulheres na história de Jesus, que já estava assinalada na Bíblia, mas não era
detalhada. São elas que estão aos pés da Cruz, é para elas que Jesus aparece
depois de crucificado. Se alguém levantou essa bandeira foi Jesus, que não
discriminava mulheres e aceitava todos que estivessem dispostos a ouvi-Lo!