Sant'Anna de Sebollas
O arraial de Sant'Anna de Sebollas tem suas origens calcadas em 1723
30/09/2016
Historiador Sebastião Deister
Edição 105
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O arraial de Sant'Anna de Sebollas
tem suas origens calcadas em 1723, ano em que o reinol Francisco Fagundes do
Amaral e sua mulher Águeda Gomes de Proença receberam uma freguesia junto ao
rio que logo depois foi batizado como Fagundes em homenagem àquele desbravador.
Entretanto, o local já era conhecido por esse curioso topônimo, uma corruptela
da palavra "Sipollas" que, na língua provençal do Sudeste da França, na
Idade Média, significava "região de lendária beleza e fertilidade, habitada
por gente feliz".
A lenda corrente na época dá
conta de que alguns aventureiros, após passar por aquele local, acharam-no tão
belo que o consideraram um verdadeiro eldorado em meio àquele sertão inóspito, consagrando-o
então como Sant'Anna de Sipollas.
Lenda ou não, o fato é que a
freguesia incorporou essa inusitada denominação, e pela ligação de descendentes
de Francisco e Águeda com os imigrantes Leandro Barbosa de Mattos (chegado de
São João de Meriti) e Francisco Gonçalves Teixeira (vindo do Minho, Portugal),
formaram-se ali os troncos das três famílias fundadoras do arraial. Importante
ainda a registrar é que a irmã de Leandro Barbosa de Mattos - D. Mariana
Barbosa de Mattos - vinha a ser esposa de Francisco Gonçalves Teixeira, e esse
casal aglutinou seu nome, em definitivo, ao crescimento daquela pequena vila.
Posteriormente, pelo
casamento do sertanista José Antônio Barbosa Teixeira com a viúva do imigrante
mineiro Antônio Barroso Pereira - ali estabelecido no ano de 1780 - fundiram-se
de vez as famílias que tiveram o privilégio de criar um dos maiores latifúndios
da região paraibana.
1ª Capela em 1769
A primeira capela de Sebollas
foi construída por Provisão de 1º de setembro de 1769, graças a um requerimento
enviado por Caetano Borges da Costa e Francisco Gonçalves Teixeira ao Governo
da Província, ganhando assim a imediata condição de Curato. Pelo Decreto-Lei nº
153, de 7 de maio de 1839, o Governo Provincial elevou Sebollas à categoria de freguesia,
anexando-a como Capela Filial do Milagroso Santuário do Senhor Bom Jesus de
Matosinhos, de Sardoal.
Por seu turno, a Lei nº 2.999,
datada de 3 de dezembro de 1869, mudava o nome de Santana de Sebollas para
Santana de Tiradentes, concorrendo para tanto os trabalhos legislativos
desenvolvidos pelo vereador Dr. Leopoldo Teixeira Leite e pelos deputados
Diocleciano Alves de Souza e Sebastião Modesto.
Alferes Joaquim José da
Silva Xavier
Todavia, o termo Sebollas
não seria apagado da memória dos moradores locais. Apesar de todos os
movimentos legislativos buscarem fixar a designação de Santana de Tiradentes
para aquele logradouro, ele continuou a ser chamado de Sebollas, muito embora
toda a população paraibana reconhecesse o mérito de ali se perpetuar o nome de
um brasileiro tão conhecido quanto o Alferes Joaquim José da Silva Xavier.
Tempos depois, o Decreto estadual nº 641, de 15 de dezembro de 1938, mudava o
quadro territorial a vigorar no quinquênio 1939-1943, alterando ao mesmo tempo
o topônimo do lugar. Com isso, o Distrito de Santana de Tiradentes era
consagrado então com a designação de Distrito de Inconfidência, arrolado na
Prefeitura Municipal como 3º Distrito do Município de Paraíba do Sul.
Fagundes faleceu em 1732,
sendo sepultado no cemitério do adro da capela de Nossa Senhora da Conceição,
na Ilha, em Paraíba - esta, por sua vez, levantada no ano de 1715. Por sua vez,
sua esposa Águeda veio a falecer em 1740, tendo sido seu corpo inumado no
cemitério da Fazenda de Sebollas, o mesmo que, em 1792, receberia parte do
corpo de Tiradentes.
Tiradentes costumava
hospedar-se
Em tempo, devemos registrar
que Tiradentes costumava hospedar-se no sobrado de Sebollas, de propriedade de
D. Mariana Barbosa de Mattos, quando de suas andanças em serviço de patrulha
por aqueles históricos caminhos. Após a morte do Alferes, seus despojos foram
distribuídos, em mórbida exposição, junto aos pontos mais importantes e visíveis
do Caminho Novo de Minas, para assim desestimular futuros conspiradores. Coube
a um tosco mastro de madeira, cravado próximo à antiga Capela de Santana de
Sebollas alocada no interior do cemitério do arraial, receber uma perna do
Mártir da Inconfidência, para ali enviada pelo próprio vice-Rei D. Luiz de
Vasconcelos. Transcorridos vários dias, e estando o membro em avançado estado
de decomposição, os filhos de D. Mariana, em altas horas da noite, fizeram-no
descer do poste de onde pendia e de pronto sepultaram-no dentro da capela, com
as exéquias sendo proferidas pelo padre Manuel Barbosa, irmão de D. Mariana.
Museu Sacro-Histórico do
Distrito de Inconfidência
Hoje, tantos os restos
mortais de Tiradentes quanto uma coroa e um cetro que ele pretendia doar como
voto de fé ao Divino Espírito Santo encontram-se sob a guarda do Museu
Sacro-Histórico do Distrito de Inconfidência, inaugurado em 21 de abril de 1972
por Raymundo Padilha, então governador do estado do Rio de Janeiro, e pelo
senhor Nelson Aguiar, prefeito de Paraíba do Sul, como parte das comemorações
do sesquicentenário da Independência do Brasil. O Museu Histórico de
Inconfidência
inclui hoje
a Igreja de Nossa Senhora de Sant'Anna de Sebollas, o marco erigido pelo
Exército em homenagem a Tiradentes, a placa comemorativa dos 150 anos de
Independência e o Museu Histórico propriamente dito.