Da periferia de Búzios ao bicampeão Olímpico Luiz Felipe de Azevedo, em Miguel Pereira
A diferença de montaria é muito grande, você só encosta a perna e o cavalo vira, é incrível
14/05/2021
Hipismo
Edição 345
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Percorrendo um
caminho longo e difícil, com poucos recursos e tendo que ajudar em casa,
Jéssica e Bárbara ganharam na mega-sena quando o bicampeão Olímpico Luiz
Felipe de Azevedo viu a reportagem das gêmeas de Búzios no RJTV. Com seu
olhar clínico, viu que as gêmeas têm postura, estatura, jeito e pernas longas,
que são ideais para o esporte e, sobretudo, elas têm amor e vontade de vencer
no hipismo, fator fundamental, porque é um esporte muito ingrato, disse o
bicampeão.
Bolsa no Centro Equestre
Luiz Felipe de Azevedo
Felipinho
gostou tanto do que viu que decidiu oferecer duas bolsas integrais,
proporcionando que as gêmeas, que estão hospedadas com a mãe no Centro Equestre,
treinem o dia todo, parando apenas para as refeições. "É um treinamento
intensivo, mas daqui a 15 dias elas vão ver a diferença de como chegaram e como
estarão", garantiu Felipe.
A dificuldade não desanimou
Não foi fácil,
as irmãs contaram que a paixão chegou mesmo quando o clube hípico de Búzios deu
uma chance para as duas fazerem aula, aprenderam postura, galope e posição das
rédeas. Elas trabalhavam para pagar as aulas, uma espécie de permuta que durou 5
meses.
"A gente
trabalhava fazendo de tudo, como limpando as baias dos cavalos, catando folhas e,
antes da prova que teve, trabalhamos lá pintando as baias até tarde também",
contam as irmãs.
Mas não foi
possível seguir com esse sistema adiante porque tinham que ajudar em casa e não
sobrava tempo, e esse dinheiro fazia falta no orçamento doméstico. Nesses cinco
meses, fizeram 3 provas e saíram após a última na Hípica de Búzios.
Treinando sozinhas
Depois,
passaram a treinar seus cavalos sozinhas em um terreno emprestado, sem professor, então uma montava enquanto a outra observava e orientava
o que elas achavam que precisava ser melhorado.
Jéssica
"O meu cavalo
era de corrida, ele só sabia correr. Para treinar ele para saltar, foi um pouco
difícil", conta Bárbara. "Eles não são cavalos de hipismo, são cavalos
que a gente comprou, cresceram com a gente e também estamos passando o esporte
pra eles", completou Jéssica.
Os obstáculos
para os treinos de salto, por exemplo, foram feitos por elas. As duas pregaram
as madeiras que possibilitaram que elas seguissem saltando até 70 centímetros
de altura - marco já conquistado em competições.
Terreno emprestado
Para elas, os
sonhos são maiores que o pequeno terreno no bairro Maria Joaquina, onde treinam
atualmente. "A gente sempre tenta mostrar para as pessoas que não é um
esporte muito caro, depende da sua força de vontade", conclui Bárbara.
Os novos cavalos
"A diferença
de montaria é muito grande, você só encosta a perna e o cavalo vira, é incrível.
O nosso é na rédea mesmo, a gente trabalha é com a mão para virar. Se a gente
cutucar com a perna, eles saem é correndo, nossos cavalos têm muito que
aprender".
Felipinho ensina
"Equitação é igual música, você tem que estar no ritmo, e cada cavalo
é um cavalo e o cavaleiro tem a tendência de trazer o cavalo para você - não é
assim. Você tem que procurar o equilíbrio do cavalo para que seja mais fácil
para ele, para que possa responder com mais facilidade, porque se você tiver
que ficar corrigindo defeito, corrigindo defeito, você vai criar tantos outros problemas
que, às vezes, não vale a pena. É melhor você desenvolver as qualidades porque,
nesse caso, você minimiza os defeitos - é o inverso. Aliás, acho que ninguém
deve corrigir defeitos e sim desenvolver qualidades, até nos seres humanos",
ensinou Luiz Felipe de Azevedo.