Capítulo 12 - A Fazenda Cabral e a Família Fraga

A Trajetória Histórica do Município de Miguel Pereira

 22/10/2021     Historiador Sebastião Deister      Edição 368
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Fraga é um sobrenome toponímico português, com origem direta no latim fragum, termo que indicava um local específico ou um terreno escarpado no interior do país. O antropônimo mais antigo ligado a tal linhagem é o de João da Fraga, Juiz das Sizas e Direitos Reais (campo do direito patrimonial cujas regras tratam do poder dos homens sobre as coisas apropriáveis) em 1481, quando do reinado de D. Afonso V (1432-81).

Várias fontes bibliográficas e registros documentais confirmam a presença da Família Fraga em acontecimentos históricos. Parece que esta família é originária da Província da Beira. Entrementes, desconhecem-se as gerações anteriores a João da Fraga. Descendentes dos Fraga apareceram na Comarca da Guarda, passando dali para Viseu a também para as Ilhas dos Açores.

Os Fraga, na metade inicial do século XX, constituíram uma família influente em Miguel Pereira, não apenas pelo muito que amealharam de terras no lugar como também em virtude sua intensa participação em várias atividades sociais, comerciais e esportivas que marcaram a passagem dos anos trinta e cinquenta em nossa cidade, especialmente pelas atividades familiares desenvolvidas na Fazenda Cabral.

 

Bairro Alegria

 

As origens desta propriedade, localizada na periferia do bairro Alegria e base da família dentro do território miguelense, remontam ao distante ano de 1882, quando Honório José Fernandes comprou a propriedade do Dr. Luiz Gomes de Souza Telles, o mesmo latifundiário que administrava várias porções de terra desmembradas da Fazenda Pantanal. Posteriormente, a propriedade seria repassada para Geraldino Caetano da Fraga Filho e mais tarde para o filho de mesmo nome. Curiosamente, a sede da fazenda se caracteriza pela sua horizontalidade, não apresentando porão ou segundo pavimento familiar, detalhes que sempre foram típicos das propriedades surgidas ao longo do século XIX. Isto explica o fato de que as dependências destinadas a escravizados e demais serviçais da família foram levantadas ao lado do prédio principal, por sinal uma centenária estrutura existente até os dias atuais.

Eram os Fraga oriundos do Sítio Barro Branco, propriedade adstrita às terras de Arcozelo, em Paty do Alferes. Graças ao casamento de Geraldino Caetano da Fraga Filho com Laura Fernandes - filha de Honório Fernandes, acima citado - a centenária linhagem dos Fraga patienses deitou suas raízes na incipiente Vila da Estiva na década final do século XIX. Graças a ela, uma área até então pouco explorada ao norte da vila ganhou um ótimo impulso urbanístico e demográfico.

 

Antiga Fazenda Cabral

 

As terras da antiga Fazenda Cabral - mais conhecida em Miguel Pereira como Fazenda do Dino Fraga - foram repartidas pelos seus vários herdeiros e hoje formam um amplo loteamento no bairro Alegria, nele residindo, a propósito, muitos dos descendentes dos primeiros Fraga. Na sede da antiga fazenda, ainda reside Ismênia, filha de D. Helena Fraga de Mattos (falecida), esposa do também falecido Dr. Darcy Jacob de Mattos, professor e advogado que tanto militou nas áreas do magistério e do direito em Miguel Pereira.

O patriarca da família - Geraldino Caetano da Fraga - casou-se em Paty com D. Emília Pereira de Souza, gerando com ela 14 filhos, a saber: José (casado com Francisca, porém sem filhos); Madalena (morta solteira e sem filhos); Dagmar (esposa de Domiciando e mãe de Adelaide, Domiciano Filho, Nair, Ercília e Sílvia); Orcênia (solteira e sem filhos); Florisbela (casada com Camargo e mãe de Emília, José, Geraldino, Querubina, Edite e Carolina); Geraldino Filho (marido de Laura e pai de Waldemar, Eurico, Maria, Geraldino Neto, Helena e Diva); Maria (casada com Alício e mãe de Maria Emília, Edson, Alício Filho, Elza, Carmem e Aydée); Querubina (esposa de Tacredo e mãe de Nilza e Clóvis); Manoel (marido de Clemires e pai de Moacir, Lucy, Walter, Dulce e Maria Emília); Felisberta (casada com Adriano Vieira e mãe de Adriano Filho e Maria de Lourdes); Luísa (casada com Joaquim da Conceição e mãe de Isa e Ivo); Antônio (marido de Maria e pai de Nilton, Emília, Ivan, Alcir, Ema, Edite, Antônio Filho, Ezilda e Eunice); Francisco (casado com Nadyr Brügger e pai de Geraldino, Wanda, Yedda, Francisco Filho, Yone, Carlos, Maria José) e Deolinda (casada com Gaspar, sem filhos).  Além disso, ao lado dos amigos Raul Machado Bitencourt e Bruno Lucci, Geraldino trabalhou ativamente pela implantação de água encanada em Miguel Pereira, cujas nascentes principais, a propósito, localizavam-se na área da Fazenda Cabral.

Por sua vez, Geraldino Caetano da Fraga Filho gerou seis filhos com D. Laura Fernandes, a saber Waldemar (casado com Teresa e pai de Waldemar Filho, Walter, Therezinha e Heitor); Eurico  casado com Alba e pai de Márcia, Ricardo, Elizabeth e Celina); Maria (solteira e sem filhos); Geraldino Neto (Dininho, casado com Lucy e pai de Marília, Solange e Isabel Cristina); Helena, casada (com o professor Darcy Jacob de Mattos e mãe de Ismênia e Celso) e Diva (casada com Osmar, gerando os filhos Rosane e Fernando).

Foram estes seis últimos descendentes que mais participaram das atividades da antiga Miguel Pereira, uma vez que a maioria acabou por se estabelecer nas proximidades da sede da fazenda, urbanizando assim o atual bairro Alegria. É notório o fato de que Dininho foi um ativo comerciante de Miguel Pereira na área de comercialização de materiais de construção, sendo até hoje muito lembrada a Casa Fraga localizada à Rua Machado Bitencourt (agora desativada) cujos espaços encontram-se ocupados pelo escritório local da Unimed Marquês de Valença e da clínica Evolução.

Dino Fraga foi um dos fundadores, em 4 de setembro de 1928, do Estiva Futebol Clube - anos depois rebatizado como Estrela Futebol Clube -, ao lado de importantes miguelenses como Aurélio Barile, Nagib Ahouage, Rigoletto Cristofaro, Manoel Bernardes Sobrinho (Manduca) e, especialmente, Bonifácio de Macedo Portella, o ativo farmacêutico que, nos anos trinta, seria indicado para dois mandatos como prefeito de Vassouras.

Interessante ainda a registrar o fato de que muitos dos antigos móveis, quadros e demais objetos de decoração da Fazenda Cabral são ainda utilizados pelos seus atuais moradores, o que não apenas valoriza aquela aconchegante propriedade como também lhe confere um delicioso ar de saudade e de história. O velho pátio dos fundos da fazenda guarda muito da nostalgia dos tempos de Dino Fraga. Ali, até hoje frutificam as centenárias jabuticabeiras que assistiram ao nascimento de todos os descendentes daquele pioneiro em terras de Miguel Pereira.

 

Na próxima edição: A Escravidão em terras de Barreiros