Professor Doutor Miguel Pereira da Silva 1

Estudo Biográfico 3

 11/09/2015     Historiador Sebastião Deister      Edição 50
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Filho do Coronel Virgílio da Silva Pereira e de D. Porcina Magalhães Pereira, Miguel da Silva Pereira nasceu no dia 2 de julho de 1871 na Fazenda do Campinho, em terras paulistas do Município de São José do Barreiro. Até os 12 anos de idade, o garoto permaneceu na fazenda, recebendo uma alfabetização básica ministrada pela mãe, sendo levado posteriormente para exames preparatórios no Colégio D. Pedro II, no Rio de Janeiro, ali conseguindo uma vaga de maneira brilhante. Estudioso e dedicado, com apenas 20 anos Miguel Pereira já ingressava na histórica Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, após obter distinção em todos os exames prestados.        

          No decurso dos anos seguintes, Miguel Pereira provou ter nascido para o exercício médico, tanto que em 23 de dezembro de 1897 - com apenas 26 anos - já se via indicado como Membro Honorário da Academia de Medicina. Contudo, para ele "viver era aprender e ensinar sempre", e por essa razão o jovem médico voltou-se de corpo e alma para o magistério.

          Segundo relatos de muitos colegas e professores da época, o jovem médico tinha no sangue a fibra de um grande mestre, tanto que o professor Miguel Ozório de Almeida afirmou certa vez a seu respeito que "(...) Miguel Pereira educou-se para ser professor. Suas faculdades se apuram neste sentido e ele pode chegar a um alto grau de perfeição, só comparável com o completo domínio sobre sua própria atividade intelectual."

          No dia 4 de outubro de 1907, Miguel Pereira foi nomeado como Professor Substituto da 6ª Seção de Clínica Médica. Em 1908, recebeu, com honras, a indicação para ocupar a Cadeira de Patologia Médica, e logo em 1909 a Congregação da Faculdade designava-o para reger a 1ª Cadeira de Clínica Médica, cátedra em que permaneceu até o dia de sua morte.             

          O vitorioso professor tinha apenas 44 anos de idade quando uma incurável doença o atacou. Entretanto, Miguel Pereira não se deixou abater e propôs-se a trabalhar até o fim. Ironicamente, foi nessa infausta ocasião que ele descobriu a Vila da Estiva. Na mesma Faculdade de Medicina havia um colega seu - o Dr. Henrique de Toledo Dodsworth, filho do barão de Javary -, que não se cansava de convidá-lo para conhecer a fazenda, o lago e a pacata vila serrana. Curioso, otimista, esperançoso e certamente encorajado pelo colega acadêmico, Miguel Pereira viajou então pela primeira vez até o logradouro de Belém (Japeri), ali embarcando num comboio puxado por uma prosaica Maria Fumaça, logo subindo as colinas em busca da Estiva.

          Começava então um novo caso de amor em sua vida. Comovido pelo ar das montanhas e tocado pelas delícias do interior verdejante que lembrava sua fazenda de infância, o médico famoso fixou-se em definitivo naquela área intocada, nela adquirindo a propriedade rural que acabou por se confundir posteriormente com o seu próprio nome: a Vila Maria Clara (nome de sua esposa), de onde passou a proclamar para o país os atributos ímpares de seu clima "(...) como sendo provavelmente o terceiro melhor do Mundo!" Corria o ano de 1915 e ninguém podia supor que ele aproveitaria por pouco tempo as delícias oferecidas pela nova terra que elegera como sua última morada.

          No ano de 1918, quando Miguel Ozório de Almeida viera conviver com seu mestre no Sítio Maria Clara, agravou-se de forma inexorável a doença que o mataria. Contudo, nada no semblante daquele homem sereno, trabalhador, sorridente e alegre deixava perceber as agruras do mal que o consumia lentamente. Em finais de maio de 1918, contudo, intensificaram-se os sintomas de sua moléstia incurável. Esta não chegou a ser formalmente diagnosticada, mas de acordo com o professor Almeida Prado, Miguel Pereira apresentava uma compressão típica de mediastino provocada, ao que tudo indicava, por um extenso e letal tumor de acústico, muito embora até o fim tenham permanecido dúvidas a respeito de tal definição médica.

          Constatando a injúria daquela devastadora enfermidade, Miguel Pereira subiu em definitivo para o seu adorado sítio na Estiva, vindo conviver no conforto doméstico proporcionado pelo amor da esposa Maria Clara e dos filhos Helena, Vera Lúcia, Lúcia Vera, Maria Clara (Mancala), Miguel Filho e Virgílio Mauro, este o filho caçula destinado a ser médico como o pai.

          No dia 23 de dezembro de 1918, perto da hora final e numa inequívoca prova de seu amor pela Estiva, Miguel Pereira afastou seu sofrimento por alguns minutos para formular um único e singelo pedido: que sobre seu túmulo fosse espalhado um pouco da terra recolhida no jardim do seu adorado sítio serrano.

          Em 1920, a Prefeitura de Vassouras (então cabeça de município) homologou de vez o título Vila de Miguel Pereira em substituição ao antigo topônimo Vila da Estiva.

 

Na próxima edição: Dr. Antônio Botelho Peralta