Capítulo 6 - As primeiras fazendas na área de Barreiros

A Trajetória Histórica do Município de Miguel Pereira

 10/09/2021     Historiador Sebastião Deister      Edição 362
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No ano de 1840, o agrimensor Urbano de Saldanha Marinho chegou do Rio de Janeiro para medir oficialmente a Fazenda do Sacco Velho, cujas terras interessavam a alguns membros da família Werneck. Por essa época, já existiam na área pretendida (que hoje corresponde ao Sítio Lírio do Brejo, junto ao bairro Guararapes e a meio caminho entre Miguel Pereira e Paty do Alferes) algumas florescentes propriedades que faziam divisa com a pioneira Fazenda do Sacco (a propriedade surgida junto ao Lago de Javary), então sob a posse de Francisco da Rocha Chaves, que a comprara dos herdeiros do seu fundador, Manuel de Azevedo Ramos. Além de compartilhar divisas com a grandiosa e rica Monte Alegre, de Francisco das Chagas Werneck - limítrofe ao Sacco, pelo lado Leste -, as terras de Francisco limitavam-se com as fazendas de D. Antônia Maria, ao Norte, e de Felix de Azevedo Ramos, pelo Sul.

Para a direção Oeste, a Fazenda do Sacco alcançava as atuais terras do centro de Miguel Pereira, exatamente onde agora se localiza a sua desativada estação ferroviária. Dali, a área voltada para o bairro Pantanal pertencia à fazenda do mesmo nome, que anos depois pertenceria ao Dr. Antônio Botelho Peralta.

Seguindo a norma de sua família, Francisco das Chagas Werneck pretendia comprar a Fazenda do Sacco para, agregando-a à Monte Alegre, abranger uma extensa área que vinha desde a Fazenda da Manga Larga, em Paty, até o centro de Barreiros, com isso criando um latifúndio imensurável que aumentaria ainda mais o prestígio e a riqueza dos Werneck no alto da Serra do Couto.

Francisco era o sexto filho de Inácio de Souza Werneck, nascido em 17 de janeiro de 1778 e casado com Ana Joaquim de São José, patriarca do tronco familiar Chagas Werneck na região Centro-Sul Fluminense. Em 1846, era o senhor absoluto da Fazenda Monte Alegre, propriedade que, aliás, vendeu a seu sobrinho Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, o 2º barão de Paty do Alferes, no ano de 1853. Vale lembrar que o barão era filho de Ana Matilde Werneck, esposa do Capitão Francisco Peixoto de Lacerda, e irmã de Francisco das Chagas.

Negociante bastante perspicaz e até mesmo ousado, Francisco comprou, em 1846, 3.028m2 da Fazenda do Sacco, área compondo uma testada com terras de D. Antônia Maria e fundos com os domínios de Felix de Azevedo Ramos. Não satisfeito, nos últimos meses daquele mesmo ano adquiriu mais 1.090 m2 pertencentes a Francisco de Oliveira Duarte, ampliando seu patrimônio e passando a ter como vizinhos João René de Jesus, pelos fundos, e Antônio Ribeiro Gomes Junior, pelo Oeste.

Logo em seguida, João René de Jesus vendeu a Francisco um sítio vizinho ao Sacco, chamado Buraco Fundo. Com isso, os Werneck aumentaram sensivelmente a testada da Fazenda do Sacco e, anexando-a de imediato a Monte Alegre, colocaram-se na consistente posição de donos de praticamente metade do incipiente povoado de Barreiros.

Em 1847, o restante da Fazenda do Sacco foi desmembrado e as glebas resultantes de tal retalhamento passaram a conhecer alguns novos proprietários que, administrando seus diversos sítios, estenderam um processo de ocupação que acabou por cobrir uma considerável área nas atuais terras centrais de Miguel Pereira, facilitando dessa maneira o aparecimento de residências e casas de comércio pelo lugarejo, conforme podemos verificar pela resumida, porém importante relação a seguir:

 

- 1847 - O Dr. Luiz Peixoto de Lacerda Werneck, o primeiro filho do barão de Paty, e portanto, sobrinho-neto de Francisco das Chagas Werneck, vende ao tio-avô o chamado Sítio do Sacco e outra propriedade que comprara de João René de Jesus.

 

- 1847 - O fazendeiro Manoel Sebastião de Almeida e sua mulher vendem a Manoel Corrêa de Mattos um sítio denominado Palacete, localizado dentro das terras do Sacco.

 

- 1858 - Francisco da Silveira Duarte e sua mulher, D. Fortunata Maria da Conceição, vendem ao barão de Paty parte de uma área no Sacco, ampliando os domínios dos Werneck no lugar.

 

- 1872 - O Dr. Joaquim Teixeira de Castro, o visconde de Arcozelo, compra de Manoel Corrêa de Mattos o chamado Sítio Palacete, dentro dos limites do Sacco.

 

Diversas outras negociações, envolvendo as chamadas "terras do Sacco", foram concretizadas até o apagar do século XIX. Os que as escrituras não citam, mas podemos inferir, é que a Fazenda do Sacco não constituía simplesmente uma propriedade dentro da qual se inseriu o Sítio Lírio do Brejo, até hoje existente em Miguel Pereira. Lendo as descrições aqui fornecidas, é possível ao leitor imaginar uma área fracionada em várias chácaras diminutas, mas tal situação não se mostrava verdadeira. Julgando-se todos os contratos de compra e venda da época, podemos confirmar, através de registros cartoriais, que a Fazenda do Sacco limitava-se com Monte Alegre a Leste e com Pantanal a Oeste, compreendendo em sua área diversas propriedades menores para o Norte, enquanto para o Sul, na direção das bandas da serra do Tinguá, apresentava linhas divisórias junto à Fazenda da Piedade de Vera Cruz, isto é: embora assentada em terras de Barreiros, a Fazenda do Sacco estendia seus domínios pelas colinas circundantes do povoado, o que nos dá uma ideia mais clara de suas notáveis dimensões.

Na segunda metade do século XX, a fazenda foi administrada por D. Astréia Mattos, que a revendeu para a família do senhor Durval Amaral (filho do general Antônio Ferreira do Amaral) cujos descendentes ainda detém a posse daquelas terras centenárias, com exceção apenas do Sítio Lírio do Brejo, em mãos de outro proprietário e hoje base de uma empresa voltada para a comercialização de materiais de construção.

 

Na próxima edição: A Fazenda São José das Rolinhas