"Um dia eu cheguei para o Lincoln e disse que assim não queria mais viver"...
Depois de 3 anos com dores em todo corpo, minha vida voltou ao normal com 4 gotas
03/01/2020
Cannabis medicinal
Edição 275
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"Um dia eu cheguei para o Lincoln e disse que assim não queria mais
viver"...
Professora Adriana
Monteiro Lima, da rede estadual Colégio Álvaro Alvim desde 1995, professora e
coordenadora da Escola do CEPE durante 15 anos, adquiriu a doença fibromialgia,
que a tirou das salas de aula e da coordenação de escola e a aposentou por
invalidez. As dores foram chegando: uma vez no ombro, outra no pulso, outra nas
costas. Às vezes, achava que era o excesso de trabalho; quando era no pulso,
atribuía ao excesso de escrita no quadro em sala de aula, quando a dor era de
cabeça, ela atribuía a muita leitura. Mas teve um dia que Adriana não levantou
da cama de tanta dor, e assim foi removida para o hospital e foi atendida por
um dos médicos que, meses atrás, presenciou seu marido enfartado e, "ele se lembrou
disso", disse ela. Adriana foi diagnosticada com fibromialgia que, segundo o
médico, poderia ser em função de uma situação pós-traumática (como o infarto
que o marido teve). "Você adquire essa dor, que pode ou não passar", disse o
médico. "Fiz uma bateria de exames, que estavam todos normais", disse Adriana,
que voltou ao médico.
JR - Como é a dor?
Adriana - A dor dura 24h, é sistêmica e pode
ser de vários tipos: dor aguda, dor imprensada, tem uma que lateja e tem outra
com intensidade muito alta, tipo câimbra, e ela vai piorando. Ela baixa sua
imunidade e traz a depressão; apesar de não ser uma pessoa chegada à depressão,
você fica deprimida porque não consegue fazer nada e, sentindo dor, ela vai aumentando.
JR - Quanto tempo ficou nessa situação?
A - Fiquei 3 anos sentindo dor da cabeça até à sola do pé.
JR - Fez exames?
A - Fiz exame
para ver se as dores eram de doenças reumáticas, e nada. Fiz exame para ver se
era doença chamada "fogo selvagem", e nada. E as dores aumentando...
JR - Aonde eram as dores?
A - Dores na
língua, nos olhos, nos dedos, nas costas, nos ombros, no couro cabeludo; não
podia pentear cabelo, não podia usar anel, brinco ou óculos, não podia usar
nada, até vento de ventilador incomodava, ardia feito fogo. Roupa somente de
tecido muito leve. Eu não sabia mais o que fazer.
JR - E a Santa Casa?
A - Então, me
indicaram um grupo de reumatologistas na Santa Casa, no Rio, e eu fui lá, fiz
exames e descobriram o lúpus, que também provoca esse tipo de dor. O lúpus é
uma doença inflamatória autoimune que pode afetar múltiplos órgãos
e tecidos, como pele, articulações, rins e cérebro, e ela inflama e dói.
JR - Sua medicação tinha substância extraído do ópio?
A - Usei
muita medicação. Usei o tramadol, que tem uma substância extraída do ópio,
assim como a morfina. Usei codeína, que é um analgésico oral usado para dor
aguda e crônica, inclusive em quadros pós-operatórios. Eram opióides (é um narcótico sintético), como a medicação
usada pelo Michel Jackson, além dos corticóides e imunossupressores.
Desespero
"Um dia eu cheguei para o Lincoln e disse que assim não queria mais
viver"
A - Um dia eu
cheguei para o Lincoln e disse que assim não queria mais viver. Eu não queria
mais, eu não conseguia fazer nada. Eu não melhorava, a dor só ia aumentando e
aumentava-se a medicação. Eu já tinha saído da Santa Casa e vim me tratar aqui
com o reumatologista do SUS.
JR - O que disse o reumatologista?
"Ele,
na verdade, não me enganou, foi muito gentil..."
A - Ele
melhorou muito minha condição de vida, principalmente as coisas que estavam
comprometidas, como a questão pulmonar e o fígado, ele resolveu. Ele, na
verdade, não me enganou, foi muito gentil, e disse assim: "você tem que ser forte, você já entende... a dor não vai passar
imediatamente, a gente vai tratar, melhorar e vamos ver como vai ficar sua
condição", ou seja, o lúpus não vai matar, mas você vai sentir essa dor
para sempre, e isso foi o que eu entendi.
JR - Como você chegou no canabidiol?
A - E sem
nenhuma melhora, falei para o Lincoln (marido) que eu não queria mais viver, pois
assim eu não queria mais. "Não posso trabalhar, não posso fazer nada, não
deixo você fazer". Ele ouviu e saiu, foi fazer algumas coisas na rua e foi
ao supermercado, e lá ele encontrou um amigo nosso, o também professor Tiago
Madruga, que chamou o Lincoln. Ele sabia que eu tinha me afastado de tudo, e o Lincoln
disse que eu não tinha tido nenhuma melhora e que não queria mais continuar
assim. Então o professor Madruga disse que tinha que me encontrar. Ele veio
aqui e me deu um pouquinho do óleo extraído da Cannabis, que é o canabidiol, para
experimentar, disse que era muito forte e era para eu tomar uma gota por dia: "vai
vendo, aumentando devagar". Eu tomei uma gota por dia, e no 4º dia eu
não tinha mais dor alguma, nenhuma, zero, nada! E eu tomei quatro gotas! No 4º
dia eu nem tinha percebido que estava sem dor, voltei a fazer de tudo, só não
voltei ao trabalho porque já teria tempo para me aposentar e, mesmo assim, não
saberia como ficaria com o tratamento. Eu tinha que fazer uma cirurgia tem uns
três anos, mas com o fígado comprometido, não dava para fazer, por causa da
medicação que eu usava.
"Minha vida voltou ao normal com 4
gotas"
JR - E toda medicação que você usava?
A - Não tomo mais medicação alguma, nada! Só o canabidiol e
uma gota por dia.
JR - Você refez os exames? E o lúpus?
A - Refiz
todos os exames. A taxa do lúpus (no sangue) está zerada, não aparece mais, ele
entrou em remissão; a gente fala de brincadeira que o lúpus "dormiu". Não tenho nenhuma parte do
corpo comprometida, acabei de fazer um check-up
geral e não tenho absolutamente nada. Agora vou fazer a cirurgia que não pude
fazer por causa do comprometimento do fígado.
JR - Tem sido fácil encontrar o canabidiol?
A - Não tem
sido fácil e nem barato. Os meios ainda são muito difíceis. Você só tem acesso
pela justiça, o Brasil não produz e você tem que importar. Eu consegui outro
caminho, pois tenho amigos que, quando vão ao exterior, trazem para mim. E para
importar eu tenho que ir a um médico que receite, tenho que ter um laudo
dizendo que a única coisa que resolve meu problema é o canabidiol, que é a
maconha (Cannabis) medicinal. Marginalizar a planta e atribuir a ela o uso que
as pessoas fazem não faz sentido. São inúmeras as suas propriedades
curativas! A própria homeopatia não é
reconhecida até hoje...
JR - Que doenças o canabidiol pode tratar?
A - O canabidiol é usado para Alzheimer, Parkinson, Autismo,
Lúpus e Epilepsia, dentre outras. Há muito o que se pesquisar. Infelizmente o
preconceito é uma grande barreira contra os avanços das pesquisas e da
popularização do medicamento. Eu tive um filho que faleceu aos 7 anos porque
tinha epilepsia resistente em virtude da Paralisia Cerebral; ele tinha até 70
crises em um só dia. Ninguém aguenta, o corpo não aguenta. Se tivesse conhecido
esse remédio, provavelmente ele teria sobrevivido. O autista, com o canabidiol,
consegue ter uma vida social, que é o maior problema da doença.
JR - Fale sobre o Alzheimer e o canabidiol:
A - Eu tenho um amigo que o pai dele tem Alzheimer. Ele era
agressivo com quem cuidava dele, não reconhecia ninguém e depois da aplicação
do canabidiol, ele passou a comer sozinho, reconhece as pessoas. O que se sabia
até agora que o que se perdia não recuperava mais e o canabidiol provou que
essa teoria está errada, ele recuperou a memória.
JR - Fale sobre o câncer e o canabidiol:
A - Tem uma pesquisa muito interessante que mostra que o
tratamento com o canabidiol corta o fluxo sanguíneo para a célula cancerosa e
ela morre de "fome". As pessoas precisam saber que dá para viver com essas
doenças que nos condenaram.
"Quero fazer meu remédio em
casa!"
A - Algumas Associações de Apoiadores e Usuários do
Canabidiol promovem cursos que ensinam a fazer o óleo em casa, mas é preciso
autorização judicial, e a associação dá esse suporte jurídico. O problema é a
indústria farmacêutica que é muito poderosa. Hoje as exigências para se fazer o
remédio são tão absurdas que só uma indústria grande pode cumprir, mas uma
autorização judicial resolve. Eu posso usar a codeína, que é um opióide, mas
não posso usar o canabidiol que é a base da cannabis popularmente conhecida
como maconha? Não faz sentido.
ABRACE
A ABRACE é uma Associação reconhecida e autorizada pela
Justiça Federal a apoiar os pacientes e a cultivar e distribuir o Cannabidiol,
é preciso receita médica, laudo, para se associar e receber o medicamento.
"Eu posso
usar a codeína, que é a base do ópio, mas não posso usar o canabidiol, que é a
base da canabis, popularmente conhecida como maconha? Isso não faz sentido".
Lúpus desde a infância
A - Uma das coisas que me motivou muito foi um vídeo que vi do
depoimento de uma mulher que tinha lúpus desde a infância. Por causa da doença
e das dores, ela não conseguiu estudar e trabalhar. Ela já tinha 18 anos e não
tinha conseguido terminar o ensino fundamental. E ela conheceu um namoradinho,
que usava maconha recreativa, e ela começou a usar com ele. O médico não
entendeu a remissão da doença. O namorado se mudou e passaram a se ver nos fins
de semana. Então, durante a semana, as dores voltaram, e nos fins de semana,
elas desapareciam. Eles resolveram morar juntos e as dores desapareceram. Ela
achou estranho e resolveu parar para ver o que acontecia e as dores voltaram.
Hoje ela tem 38 anos e não sente nada. Ela faz uso recreativo da maconha, que
acabou sendo medicinal, e hoje tem uma vida normal. O uso recreativo é um outro
debate que tem que ser feito.
Neurocientista Sidarta Ribeiro
"a maconha está para o século XXI como a penicilina e os antibióticos
estão para o século XX"
A - O Dr. Sidarta Ribeiro, neurocientista, diz que a maconha
está para o século XXI, como a penicilina e os antibióticos estão para o século
XX. No Brasil não era proibido o uso e a pesquisa com a canabis (maconha). A
partir de 1937 é que tudo foi proibido. Hoje estão fazendo, mas com autorização
da justiça.
Canabidiol sem o THC
A - O canabidiol que eu uso é sem o THC, que é o alucinógeno
da maconha. O Canabidiol (CBD), componente não psicoativo e presente em maior
quantidade na planta. O Tetraidrocanabinol (THC), é o composto que,
efetivamente, confere a característica psicoativa da Cannabis.
Nota da redação
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou
no dia 03/12/19 o registro e a venda de remédios a base de maconha para uso
medicinal no Brasil. Na prática, isso significa que medicamentos com
componentes extraídos da Cannabis sativa - como o CBD (canabidiol) e o THC
(tetra-hidrocanabidiol) - poderão ser prescritos por médicos e comprados por
pacientes em farmácias, desde que apresentem receita. A decisão só entra em
vigor em 90 dias.
Associações e pessoas que fazem um importante trabalho em prol
do uso do Canabidiol
ABRACE
https://abraceesperanca.org.br/home
Abrace Esperança - Home
Com sua ajuda vamos melhorar nossas instalações com
equipamentos técnicos para ampliar nossa capacidade de cultivo e produção.
Acreditamos que mesmo você estando longe pode ser um de nossos voluntários
doando qualquer quantia, sua ajuda vai ser direcionada para compra de
equipamentos para nosso laboratório e montagem de duas estufas indoor. abraceesperanca.org.br
Apepi. Apoio á pesquisa e Pacientes de cannabis Medicinal
https://apepi.org
Por Luiza Baratz Reed (luiza@apepi.org). No início de outubro,
a Folha de São Paulo publicou uma série.
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https://www.facebook.com/maragabrilli/Mara Gabrilli