Família Corrêa (Correia)
Um pioneiro importante em Miguel Pereira foi Alberto Francisco Corrêa, comerciante responsável pela implantação do primeiro empório (armazém de secos e molhados) no centro da então Vila da Estiva, em 1911.
09/04/2021
Historiador Sebastião Deister
Edição 340
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O sobrenome Corrêa, assim como tantos outros, não surgiu no Brasil pelo
fato de o país ter sido colonizado e habitado primeiramente por estrangeiros.
Dessa forma, os sobrenomes vieram de outros países e acabaram ganhando
popularidade e ampla disseminação por todas as regiões brasileiras, visto que
os imigrantes fizeram de nossa terra sua nova e definitiva morada. Embora Portugal
e Espanha sejam países fronteiriços, não seria verdadeiro afirmar que o
sobrenome embrionou-se em um deles e depois se espalhou pelo outro, razão pela
qual muitos estudos genealógicos indicam raízes portuguesas e espanholas para
tal sobrenome. Mas dentro de seus primórdios portugueses, o termo é
classificado como um apelido toponímico, ou seja, de origem geográfica,
indicando uma área onde existem muitas corriolas,
corrijolas e correias (espécies
de plantas), dotadas de filamentos análogas às correias ou tiras de couro
usadas para sustentação de roupas, principalmente as calças masculinas, daí a
designação corrêa ou correia.
Em um documento grafado em latim do século XIII, Corrêa figura como
alcunha (apelido ou sobrenome) de Dominicus Menendi, clericus, dictus Corrigia (escriturário dos Correias). No Brasão
dos Correia há 6 correias, desenhadas, naturalmente, em função do nome. A
família Correia, de Portugal, procede de Paulo Ramiro, rico homem que se fixou
no reino junto ao Conde D. Henrique.
Podemos também lembrar que a família tem vinculação
direta com os Corrêa de Sá. Armas hereditárias vêm de D. Catarina Francisca
Corrêa de Sá e Aragão, esposa do Coronel Francisco Dias d'Ávila, Morgado da
Torre de Tatuapara, bisneta do Governador General Duarte Corrêa de Sá e bisavó
do Visconde da Torre de Garcia d'Ávila. Já a procedência espanhola
do nome indica que essa designação apontava para as atividades desenvolvidas
por pessoas que fabricavam e vendiam correias de couro, sendo assim possível
considerar tal definição bastante válida para esta nomenclatura. O sobrenome
Corrêa é uma variante genealógica muito conhecida de Correia, principalmente no
Brasil, até porque, em razão da grafia estabelecida em cartórios, o Brasil
possui numerosas famílias assinando ora Corrêa, ora Correia.
Em relação à imigração da família para o
Brasil, precisamos nos reportar à família Correia Ximenes, família de cristãos-novos (ex-judeus), que passou de Lisboa para o Rio de Janeiro em meados do século XVII. Seus mais antigos membros constituíram-se em
colonizadores do Rio de Janeiro, tendo sido listados
como integrantes de uma das mais antigas famílias cariocas. Foram senhores de
alguns dos primeiros engenhos do recôncavo carioca e alguns pioneiros tabelionatos
da cidade. No primeiro quartel do século XVIII, duramente perseguida pela Inquisição e por preconceitos religiosos, a
descendência da família (tanto em Portugal quanto no Brasil) acabou abandonando
seu antigo e tradicional sobrenome passando a assinar Corrêa. Na realidade, a
família procedia de Gaspar Ximenes
Sanches, espanhol, mercador de sedas em Lisboa, e de sua mulher Jerônima Correia. Entre outros filhos, o
casal gerou Antônio Correia Ximenes, José Correia
Ximenes e Isabel Correia Ximenes. Gaspar Ximenes Sanches e seu
filho Antônio foram contratadores da 3ª Parte do Contrato de Angola, no ano de 1636. Também mantinham relações comerciais com
o Rio
da Prata e com Havana. Não se tem notícia de que este filho Antônio
tenha migrado para o Brasil. O filho José também foi para Angola, e lá foi nomeado escrivão. Em 1654, foi enviado ao Rio de Janeiro para se tornar um dos primeiros donos de cartório no Brasil, estabelecendo-se definitivamente naquela
cidade. A filha Isabel também migrou para o Brasil, radicou-se no país e formou família no Rio de Janeiro ao se casar com Luiz Machado Homem.
Em 3 de
abril de 1654, no Rio de Janeiro, José Correia Ximenes
casou-se com Maria de Marins, filha de João Varela e de Bárbara de
Amim. Mais adiante, um irmão de Maria, Manoel Marins de Brito, casar-se-ia
com a sobrinha de José, Jerônima Correia Ximenes, iniciando-se assim a
costumeira endogamia no seio da família Correia Ximenes
no Brasil, repetida muitas vezes até o século
XIX. Do casamento de José
com Maria de Marins foram gerados cinco filhos: João Correia Ximenes, Antônio Correia Ximenes, Isabel Correia
Ximenes e Tomás Correia Ximenes. Em 1661, José Correia Ximenes, pai,
foi nomeado tabelião do 1º Ofício de Notas do Rio de Janeiro, onde teve exercício na serventia de 1661 a 1666. Em 1666, recebeu a propriedade do 4º Ofício de Notas, por renúncia feita em seu
favor pelo capitão Domingos
da Gama Pereira, por carta de 17 de maio. Em 1671, por motivo de doença, licenciou-se,
renunciando à propriedade em favor de seu filho mais velho, João Correia Ximenes, ainda menor de idade naquela ocasião.
Conservou-se na propriedade do cartório do 4º Ofício de Notas até 1676, quando, finalmente, seu filho João foi
encartado no ofício. No entanto, ainda em 1683, seria foi provido à serventia do Ofício de Índios, encerrando, logo em
seguida, sua carreira pública.
Em Miguel Pereira
Um pioneiro importante em Miguel Pereira foi Alberto
Francisco Corrêa, comerciante responsável pela implantação do primeiro empório
(armazém de secos e molhados) no centro da então Vila da Estiva, em 1911.
Alberto construiu um espaçoso prédio de dois pavimentos em um estratégico
terreno de frente para os trilhos que cortavam o centro da vila. No térreo,
funcionou por longos anos o seu armazém, e as salas superiores, nos anos
cinquenta, iriam abrigar os consultórios do Dr. Manoel Vieira Muniz e do
cunhado deste, o dentista Dr. José "Zezé" Ferreira Gomes Filho. Tempos
depois, em um terreno nos fundos de seu armazém, Alberto Corrêa levantou sua
residência definitiva, nela criando, ao lado da esposa Elydia de Lima Corrêa,
toda a sua família formada por cinco filhas (Sebastiana, Adélia, Hercília,
Antonieta e Luiza "Zinha") e dois filhos (Álvaro e Lincoln). Alguns
descendentes de Alberto Corrêa ainda vivem em Miguel Pereira, sendo que um dos
seus netos - Eduardo Paulo Corrêa, filho de Álvaro com Dagmar - ocupa a cadeira
de presidente da Câmara de Vereadores do município. Particularmente entre 1911
e 1923, o Armazém do Corrêa converteu-se num ponto de referência muito famoso
em Miguel Pereira. Bem localizado junto à linha férrea, amplo e sortido, o
empório vendia de tudo, desde pregos, arames, dobradiças, cobertores e toalhas
a açúcar, sal, farinha, fubá e carne-seca. Somente depois do aparecimento do
armazém de Calmério "Juju" Rodrigues Ferreira, na Rua da Igreja (agora
Calçadão do Viô), e do empório de Avelino Lopes Ribeiro, no outro lado dos trilhos,
o estabelecimento de Alberto Corrêa passou a enfrentar uma concorrência mais
expressiva na Vila. Nos anos cinquenta, seus descendentes repassaram o ponto
para o senhor Irineu Pinto, que o administrou por largo tempo, até que, nos
últimos anos da década de setenta, todas as suas instalações foram demolidas
para que, naquele terreno privilegiado, fosse erguido um prédio destinado a receber
a agência do Banco BANERJ (hoje Banco Itaú) no térreo e um Posto de Atendimento
da Coletoria Federal em Miguel Pereira no segundo pavimento.
Brasões de Armas da Família Corrêa (Correia)
Existem dois brasões
pertencentes a este estirpe, a saber:
1º - CORREIA: Apresenta escudo de ouro com faixas vermelhas cruzandas. Em
seu timbre podemos ver dois braços que saem do escudo e mostram as mãos atadas
por uma correia vermelha.
2º - CORRÊA: O escudo possui uma ave negra com o desenho do primeiro
brasão em seu interior, posta em outro escudo de vermelho. Em seu TIMBRE
encontra-se a mesma ave do escudo com pequeno escudete em seu interior e uma
correia vermelha que sai de seu bico.