Família Moraes (Morais)

Famílias Pioneiras e seus Brasões de Armas - 11

 16/07/2021     Historiador Sebastião Deister      Edição 354
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A existência da aldeia que serviu de palco para o aparecimento dos Morais está diretamente relacionada com a chegada à região do Rio D'Ouro (em linhas divisórias entre Portugal e Espanha) de uma linhagem de sangue azul pertencente ao Reino de Aragão, cujo expoente principal teria sido Estêvão Peres del Moral. Segundo notas da época, pelos anos iniciais do século XII (cerca de 1107), o patriarca mencionado seria alcaide ou governador de uma torre chamada del Moral, designação dada pelos moradores vizinhos pelo fato de, em seu interior, crescer uma grande amoreira. A torre erguia-se na antiga área de Sória que, à época, fora tomada pelo sultão almorávida Yusuf ibn Thoshonfin, Rei Mouro de Toledo. Na verdade, Sória foi o embrião de uma cidade e de um município da Espanha, na chamada Província de Castela e Leão, da qual é capital, situando-se no centro-norte do país, nas margens do Rio D'Ouro. Durante o século XI, Sória tornou-se um importante enclave geográfico pela sua situação estratégica junto ao D'Ouro, estabelecendo o limite entre os domínios cristãos e muçulmanos na denominada Marca do D'Ouro ou Linha do D'Ouro. Consta, então, que Estêvão Peres del Moral, demonstrando bravura e coragem, teria defendido sua propriedade durante os quatro longos e difíceis meses  em que Yusuf o sitiou, alimentando-se, tanto ele quanto seus familiares e súditos, tão-somente com os frutos da amoreira, o que explica o fato de moradores da região darem o nome Del Moral à torre tão bravamente defendida.

Cerca de doze anos depois (em 1119), o título acabou sendo referendado por D. Afonso I de Aragão, chamado O Batalhador, que conseguiu reconquistar a região. Verificando as condições geográficas ideais da região de Sória, resolveu deslocar para ali onze linhagens de nobres fidalgos para se juntar à estirpe dos Morais. Por outro lado, membros da família defendem que a sua ascendência repousa no Conde Gonçalves Fernandes (filho do Conde de CastelaFernão Gonçalves) e de sua segunda mulher, D. Sancha Abarca (filha de D. Sancho Abarca, Rei de Navarra).

O pioneiro que povoou e batizou Lugar de Morais foi, segundo muitos genealogistas, Gonçalo Rodrigues de Morais, filho de D. Rodrigo Garcês e neto do Conde D. Garcia Garcês, casado com Maria Fortunes, filha de Fortum Lopes, Senhor de Sória da família de Morais de Espanha (Del Morales). Na verdade, segundo os apontamentos portugueses conhecidos como Memórias V e VI, a Casa dos Morais (grafada nos tempos mais hodiernos como Moraes) pertence a uma das famílias mais importantes, nobres e antigas da Europa multiplicada no Termo de Bragança, dali procedendo as casas das principais nobrezas de Trás-os-Montes.

Assim, tem-se como certo que a centenária freguesia administrada pela linhagem Morais foi gerada por Gonçalo Rodrigues de Morais (o primeiro titular conhecido de tal sobrenome) casado, em Bragança, com Constança Soares. Com efeito, o nome de Gonçalo aparece em fontes documentais registradas por volta do ano de 1217.

De acordo com registros desse mesmo ano, apostos no volume VI intitulado: Os Fidalgos, pesquisadores portugueses afirmam que o Solar da família Morais, também chamado à época de O Lugar de Morais, encontrava-se geograficamente encaixado no Distrito de Bragança. De fato, escavações arqueológicas encontraram ruínas de uma torre com vestígios arquitetônicos e alicerces longos e firmes que remetem a um edifício de grandes proporções, razão pela qual eles acreditam ser a herança concreta do Solar dos Morais. Tradições orais ainda muito vivas no lugar, e passadas de geração em geração, garantem que na torre residiam os senhores do Solar, mostrando também uma planície extensa e plana, denominada corredoura, ao longo da qual os fidalgos da época exercitavam os seus cavalos.

Registros históricos garantem que das linhagens aparecidas em Trás-os-Montes derivaram muitas casas de primeira grandeza tanto em Portugal quanto em Castela e Navarra. Entre os solares régios destacou-se aquele administrado por D. Leonor, filha de D. Pedro de Toledo, Vice-Rei de Nápoles e de D. Maria Pimentel, 3ª Marquesa de Villa Franca (filha de D. Luiz Pimentel e de D. Constanza Rodrigues de Morais, filha do Alcaide-Mor de Bragança  e patriarca dos Morais). D. Leonor esposou Cosme, 1º Grão Duque de Toscana, procedendo desse casal nobres fidalgos ligados a várias famílias reais francesas, inglesas e espanholas, além de familiares dos duques de Lorena, Saboya, Baviera, Parma e Mântua.

 

No Brasil

 

No Brasil, um pioneiro da família foi Manoel Francisco de Moraes, filho de Jerônymo Francisco de Moraes e Rosa de Miranda Paschoal, em finais do século XIX. O casal morava em Freguesia de Messias, Concelho de Cantanhedes, Coimbra, Portugal. Veio para o Brasil na última década dos anos oitocentos, mas logo depois retornou a Portugal. Entretanto, no início da centúria XX voltaram em definitivo para o Brasil, recebendo o visto de permanência definitiva em 20 de outubro de 1908 no Rio de Janeiro. Manoel Francisco, então, tornou-se empreiteiro de obras na construção de ferrovias.

De acordo com a norma ortográfica vigente, a grafia correta é Morais. No Brasil, todavia, a forma antiga Moraes é, talvez, mais frequente que a primeira. Já em terras espanholas utiliza-se o sobrenome Morales, conforme vimos em parágrafos anteriores.

 

Miguel Pereira

 

Algumas famílias miguelenses carregam o centenário sobrenome Moraes. À época de crescimento da cidade na metade do século XX, destacou-se Wilson Moraes, apelidado Nenco, comerciante casado com D. Fantina Cristófaro de Moraes e pai de Ana Maria e Itália, além de Luís Cláudio, falecido ainda muito criança. Proprietário de um movimentado bar na esquina das ruas Machado Bitencourt e Francisco Machado, Nenco foi uma das figura mais populares de Miguel Pereira, tendo se destacado, ainda, nos movimentos sociais de criação do Hospital da Fundação, atual Hospital Luiz Gonzaga. Ele e a esposa também mantiveram, por um par de anos, uma pensão familiar à Rua Machado Bitencourt.


Brasão de Armas da Família Moraes (Morais)

 

Escudo partido: o primeiro campo de vermelho, com uma torre de prata, aberta iluminada e lavrada de negro, assente sobre um rio: no segundo, de prata, com uma amoreira arrancada de verde.