Dr. Antônio Botelho Peralta e a Fazenda Pantanal
Português de nascimento, Antônio Botelho Peralta formou-se em medicina pela afamada Academia de Coimbra ainda bastante jovem
02/10/2015
Historiador Sebastião Deister
Edição 53
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Português
de nascimento, Antônio Botelho Peralta formou-se em medicina pela afamada
Academia de Coimbra ainda bastante jovem. No dia de sua formatura, viu-se atraído
pelo rosto da princesinha francesa Marie Adelaide de Burgos Chapuset Villet
que, de pé entre tantos outros convidados, também o fitava com interesse. Entretanto,
o incipiente namoro logo enfrentou os preconceitos das classes dominantes
europeias que não aceitavam aquele tipo de ligação afetiva. Não sendo detentor
de nenhum título nobiliárquico, o português recém-formado era por isso
considerado um plebeu, razão pela qual o relacionamento amoroso com aquela dama
aristocrata foi logo criticado pela nobreza e rejeitado pelos familiares da
princesa. Contudo, através de amigos, os dois mantiveram uma farta
correspondência representada por cartas e bilhetes, conservando um sentimento
que os anos posteriores, passados no Brasil, só fariam aumentar de intensidade.
Algum
tempo depois de sua formatura, Antônio Botelho Peralta foi trazido para o
Brasil pelo amigo Joaquim Teixeira de Castro, médico como ele e já titulado
visconde de Arcozelo, instalando-se de imediato na região de Paty do Alferes,
bem junto à Fazenda da Freguesia. Encorajado pelo visconde e graças a uma
procuração preparada por alguns advogados portugueses, Antônio e Marie Adelaide
casaram-se documentalmente em cartório, estando ele em Paty do Alferes e ela em
França, para assim garantir, por força de lei, a união que o preconceito
tentara destruir. Uma vez consumado o matrimônio - que as constituições
brasileira e portuguesa reconheciam como válido - não restou à família da
princesa senão autorizar sua pronta mudança para o Brasil a fim de se reunir ao
marido. Alguns meses depois de oficializados os trâmites da procuração de
núpcias, Marie Adelaide de Burgos Chapuset Villet desembarcava em Paty do
Alferes para, enfim, incorporar seu sobrenome à estirpe dos Peralta. Finalmente
livre de proibições e amarras, o casal celebrou seu casamento religioso na
Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Paty do Alferes, tendo a apadrinhá-lo
os fieis amigos Joaquim Teixeira de Castro e sua esposa Maria Isabel de Lacerda
Werneck, filha do já falecido barão de Paty.
Por essa
época, Antônio possuía parte da Fazenda Pantanal, cujo patrimônio ele ampliou em 1894 ao adquirir vastas extensões
de terras de D. Joanna Maria de São João, sua vizinha mais próxima. Com isso,
passava ele a ser dono de uma propriedade cujos limites confrontavam-se, por um
lado, com a estrada que conduzia a Ferreiros e Vassouras, e, por outro lado,
com o caminho que seguia para o centro do povoado de Barreiros. Mais para
Oeste, Pantanal tocava os terrenos de Francisco Apolinnário e as terras do Dr.
Luiz Gomes de Souza Telles, indo finalmente fazer limite com a Fazenda
Plante-Café.
Da
Pantanal, Antônio e Marie Adelaide desenvolveram diversos trabalhos de
urbanização, direcionando-os basicamente para o povoado de Barreiros. Também
ali, Antônio atendia seus pacientes e recepcionava os amigos, com isso
transformando a fazenda em um centro social muito apreciado e respeitado por
ricos e pobres.
Pantanal
serviu de abrigo para o nascimento dos filhos Laura, Maria, Luís; Francisco;
Etelvina; Valdomiro; Arlindo; Ernestina e Áurea, todos com o sobrenome Villet
Botelho Peralta.
Deve-se
registrar que a filha Laura e seu marido João deram a Antônio e Marie Adelaide
uma neta também batizada com o nome de Laura, desde criança tratada
carinhosamente em família como Laurita. Esta, anos depois, casar-se-ia com o
Dr. João Alberto Masô, e hoje, em homenagem àquela senhora, existe no bairro
Vila Suíça (assim cognominado em alusão à pátria de seu marido), em Miguel
Pereira, uma avenida denominada Laurita.
Por seu
turno, o filho Luís esposou Vera das Chagas Werneck, membro da tradicional
família Werneck, e com ela teve os filhos Francisco Peralta e Luís Peralta.
Enviuvando, Luís casou-se em nova oportunidade, dessa vez tomando como esposa a
cunhada Ivone Werneck, irmã da falecida Vera. D. Ivone não deu filhos ao
marido, mas assumiu a criação de Francisco e Luís, seus dois enteados e, ao
mesmo tempo, sobrinhos. D. Ivone Werneck Peralta, figura deveras conhecida e
respeitada em Miguel Pereira, trabalhou por muitos anos como agente dos
Correios na cidade, tendo sido também uma colaboradora bastante eficiente em
todas as atividades religiosas promovidas pela Igreja de Santo Antônio da
Estiva.
O quarto
filho de Antônio, como vimos, chamava-se Francisco. Formado em medicina, foi um
médico bastante estimado nos anos iniciais de consolidação da cidade de Miguel
Pereira, e em sua memória a Biblioteca Municipal de Miguel Pereira leva seu
nome. Os Peralta caracterizaram-se, na
região, como uma família de muitos médicos, tanto que hoje trabalha em Miguel
Pereira o Dr. Valdomiro Antônio Peralta, bisneto de Antônio e Marie Adelaide, o
qual mantém em nosso município a tradição desse sobrenome.
Como curiosidade,
podemos lembrar que foi o Dr. Antônio Botelho Peralta quem se encarregou de
atestar a morte do seu grande amigo, o visconde de Arcozelo, vitimado por febre
amarela em 1º de maio de 1891.
Católico
praticante, o Dr. Antônio Botelho Peralta, juntando-se à família Machado
Bitencourt nos albores do século XX, participou
com grande entusiasmo das obras de ampliação da Igreja de Santo Antônio, doando
para a mesma um belíssimo vitral até hoje conservado em uma das paredes
laterais daquele histórico templo, atualmente Centro Cultural de Miguel
Pereira.
Na próxima edição: Dr. João Alberto Masô