Fazenda do Retiro - Antigas Fazendas de Miguel Pereira - VIII

Fazenda do Retiro/Venda Velha teria pertencido primeiramente a Joaquim Pinheiro de Souza que, em meados de 1864, administrava glebas da Fazenda da Estiva

 29/08/2016     Historiador Sebastião Deister      Edição 100
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     De acordo com os registros do livro 14, folhas 104 e 138 do Cartório de Registro de Imóveis de Paty do Alferes, a Fazenda do Retiro/Venda Velha teria pertencido primeiramente a Joaquim Pinheiro de Souza que, em meados de 1864, administrava glebas da Fazenda da Estiva, adquiridas do sesmeiro Antônio da Silva Machado, morador do povoado de Barreiros. Torna-se relevante registrar que Joaquim vinha ser o primeiro filho de Ana Maria Werneck (a primogênita de Inácio de Souza Werneck, da Piedade de Vera Cruz) e do Tenente José Pinheiro de Souza. Dono também de muitas extensões de terra em Barreiros, Joaquim resolveu desmembrar parte da Fazenda do Retiro em 1890, concluindo várias transações com os senhores José Joaquim da Fonseca, Antônio José Soares de Souza, Capitão José Narciso de Lima (fazendeiros recém-chegados à serra) e com seu próprio filho, o Major Manoel Pinheiro de Souza Sobrinho, razão pela qual grande parte das terras daquela propriedade permaneceram em mãos da família Pinheiro de Souza.

     Durante as negociações, ficou estabelecido que a Manoel Pinheiro de Souza Sobrinho seria repassado um terreno inserido no território administrado pela Freguesia de Ferreiros, à direita da Estrada do Comércio. Mais uma vez é preciso lembrar que, embora pareça estranho mencionar a Freguesia de Ferreiros como administradora de áreas situadas no âmago do povoado de Barreiros - no espaço hoje circunscrito pelo loteamento Retiro das Palmeiras -, tais terras, na época, encontravam-se sob Jurisdição Eclesiástica daquela Paróquia. 

     Acresce ainda o fato de que, na ocasião de tais ajustes imobiliários - 1890 -, toda a região pertencia ao Município de Vassouras, com a Paróquia de São Sebastião de Ferreiros estendendo-se até os limites de Paty e cingindo em seus domínios todo o incipiente arraial de Barreiros. Devemos também atentar para o fato de a escritura mencionar "(...) à direita da Estrada do Comércio (...)", o que nos permite concluir que as terras do Retiro derramavam-se até as linhas divisórias da Fazenda do Pantanal, do Dr. Antônio Botelho Peralta, muito provavelmente seguindo um caminho que hoje corresponde à rua Cipriano Gonçalves no chamado bairro Buraco dos Burros em direção à estrada da Vargem do Manejo.

    Também é preciso lembrar que a Estrada do Comércio aqui mencionada configurava uma variante da vereda da serra que subia de Vera Cruz para Javary a partir das fazendas de Nossa Senhora da Piedade e Monte Líbano, assim chamada na época por ser um caminho vicinal que tinha como eixo a verdadeira Estrada do Comércio do Alto da Serra que se iniciava em Iguassú Velho, atravessava a mata do Tinguá e seguia para Valença via Morro Azul e Vassouras. 

     Em 1892, o Capitão José Narciso de Lima renegociou um alqueire de sua propriedade para o Major Manoel Pinheiro de Souza Sobrinho, vindo esse militar a possuir praticamente todas as terras da Fazenda do Retiro. Os demais lotes teriam como donos, por volta desse mesmo ano, Francisco José da Silva e José Ferreira de Oliveira.

     No segundo semestre de 1892, grande parte do Retiro foi repassada para Manoel Francisco Bernardes, então Coronel da Guarda-Nacional de Paty do Alferes. Vários descendentes da família desse importante militar e político patiense nasceram e foram criados naquela fazenda, destacando-se entre eles a estirpe de seu quarto filho, de nome Antão Bernardes, casado com D. Luiza Pinheiro. O casal deu ao Coronel Manoel Francisco Bernardes os seguintes netos, todos migrados para Paty do Alferes e, particularmente, para a Fazenda Quindins: Antão Pinheiro Bernardes Filho; Eurico Pinheiro Bernardes; Hilda Pinheiro Bernardes; Carmem Pinheiro Bernardes; Lauro Pinheiro Bernardes e Rubem Pinheiro Bernardes.

     Com a mudança da família para a Fazenda Quindins (então transformada em um hotel que marcaria época em Paty do Alferes), as terras da Fazenda do Retiro mergulharam em ostracismo por um longo período, até serem compradas pelo Dr. Paulo Milliet, marido de Dulce Bitencourt, filha do Dr. Raul Machado Bitencourt, então proprietário do Sítio Remanso, cujas linhas de domínio tocavam as bordas da Fazenda do Retiro. Lá pelo último quartel do século XX, um grupo de empresários - entre eles a senhora Lourdes Rezende e os senhores José Tertuliano Gomes e Afonso Celso do Valle - estabeleceram ali um loteamento que manteve a denominação Retiro das Palmeiras, hoje coberto por uma dezena de belas casas de campo.

     Infelizmente, as belas e centenárias palmeiras que ao longo do tempo caracterizaram tanto a fazenda quanto o loteamento não existem mais naquele simpático cenário. A única lembrança do imóvel existe sob a forma de um desenho produzido em época não conhecida pelo pintor W. Elias, de Paty do Alferes.

Na próxima edição: Fazenda Sant'anna do Tinguá