A Fazenda Pau Grande

Sítios Históricos do Sul Fluminense nº 10

 02/12/2016     Historiador Sebastião Deister      Edição 114
Compartilhe:       

Sabe-se que o embrião da austera e bela Fazenda do Pau Grande apareceu às margens do Caminho Novo - entre os roçados de Cavaru e do Alferes -, pelos idos de 1709-1712, e cremos ter sido ele plantado também por Garcia Rodrigues Paes. Por sinal, vale lembrar que a roça já era conhecida por muitos viajantes da época, até porque o próprio Antonil, ao descrever o Caminho Novo, frisava em 1713 que:

 

 "(...) Dos Pousos Frios se vai à primeira roça do Capitão Marcos da Costa; e dela, em duas jornadas, à segunda roça, que se chama do Alferes. Da Roça do Alferes, numa jornada se vai ao Pau Grande, roça que agora principia, e daí se vai pousar no mato ao pé de um morro que chamam Cabaru (...)."

 

De qualquer maneira, mesmo sendo um pouco mais antiga do que se imaginava, a Fazenda Pau Grande somente se desenvolveu de maneira significativa após 1712, alcançando grande renome pelo menos até as décadas finais do século XIX. Seu rossio foi a base de muitas famílias na ampla área encravada entre as terras ligadas à Roça do Alferes (Paty) e os terrenos hoje cobertos pelo distrito de Avelar desde que, em 1716, Francisco Gomes Ribeiro, chamado "O Moço", sobrinho de um sesmeiro da Manga Larga, lá obteve uma vasta gleba que ampliou em 1749 e aumentou ainda mais em 1758 com a anexação de uma nova propriedade na sobrequadra (fundos) da primeira, associando-se na ocasião ao imigrante português Manoel Gomes Ribeiro, da Freguesia de São Simão, da Vila de Cadaval - provavelmente seu primo -, e ligando-se ainda a Antônio da Costa Araújo. Todos esses pioneiros implementaram naquela área atividades capitalistas bem típicas e definidas, cujo objetivo primordial era atender o grande mercado exportador de açúcar do Rio de Janeiro.

De fato, Pau Grande abrigou um engenho que logrou grande êxito naquela época. Tanto isto é verdade que, percorrendo a área de Paty do Alferes no início do século XIX, Auguste de Saint-Hilaire visitou as instalações da fazenda e garantiu ser ele:

 

"(...) o engenho de açúcar mais importante que vi no Brasil, excetuando talvez os de Colégio, perto de São Salvador de Campos, construídos pelos jesuítas."

 

Em Pau Grande, lá pelos idos da década de 1770, já existiam alguns negócios agrícolas muito bem encaminhados por José Rodrigues da Cruz e seu sócio Luís Gomes Ribeiro de Avellar, especialmente aqueles representados pelas fecundas plantações de café que, lentamente, vinham cobrindo todas as terras adstritas ao Vale do Paraíba. Por outro lado, tal cultivo acabou por trazer sérios aborrecimentos a Rodrigues da Cruz, levando-o inclusive a abandonar a área de Pau Grande, trocando-a pelas terras mais distantes da Fazenda de Ubá, lá do outro lado do rio Paraíba, principalmente em função da perseguição aos índios locais. Rodrigues da Cruz já havia solicitado ao Vice-Rei que tomasse providências para coibir tal crime, tendo sido então enviado para região do Rio Preto o Sargento-Mor Inácio de Souza Werneck, o patriarca da família Werneck radicado na Fazenda da Piedade, em Vera Cruz. Mesmo com o aldeamento dos índios em reservas próprias daquela área - na chamada Conservatória - os fazendeiros não desistiram do desprezível propósito de eliminá-los de vez do vale do Paraíba. Por conseguinte, exaurido por aquela inútil batalha, José Rodrigues da Cruz vendeu sua parte na Fazenda do Pau Grande e partiu para Ubá, lá amparando seus índios famintos ou doentes, dando-lhes abrigo e comida e sendo reverenciado pelo chefe Bocamã como "o Grande Capitão". Por sua vez, seu filho Antônio, proprietário então da Fazenda da Sucupira, continuou a administrar suas terras pelos grotões de Cavaru, tendo sido o responsável pela construção do cemitério deste arraial em 1843.

Com a partida de Gomes da Cruz, a administração de Pau Grande passou diretamente às mãos do lisboeta Luís Gomes Ribeiro de Avellar, um grande senhor de engenho e tio de Antônio Ribeiro de Avellar, pai do Barão de Capivary (Joaquim Ribeiro de Avellar).

Em "Fastos Vassourenses", de Jorge Pinto, encontramos o seguinte parágrafo relativo a Pau Grande, que nos parece interessante reproduzir:

 

"Francisco Gomes Ribeiro, o Moço (...) aparece em 1716, obtendo em 13 de fevereiro a concessão de uma sesmaria de uma légua em quadra, no mesmo caminho, situando a terra pedida entre a data que fora de Marcos de Costa e a Rocinha do Governo."


Após cruzar todo o século XIX na qualidade de produtivo latifúndio (além de servir como referência a muitos viajantes de então), a Fazenda do Pau Grande teve como proprietários, na primeira década do século XX, o Coronel Lemgruber e sua esposa Ondina Lemgruber. Amigo de Joaquim Ribeiro de Avellar - indicado como primeiro prefeito oficial de Vassouras em 1921 - e do Capitão Artur de Toledo Dodsworth (um dos filhos do Barão de Javary), o Coronel Lemgruber promoveu em Pau Grande, no ano de 1903, uma monumental festa para comemorar o batizado do seu filho Oswaldo Lemgruber.

A propriedade hoje está sob a administração do senhor Walter Ribas, apresentando ótimo estado de conservação e mantendo seu admirável ar de testemunha da História que permeou as terras da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Serra Acima da Roça do Paty do Alferes.

 

Na próxima edição: Fazenda da Freguesia (Aldeia de Arcozelo)