O que você vai ser quando crescer?

Como a quarta revolução industrial afetará os empregos do futuro

 29/04/2017     Planeta Colabora   
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Quando eu era criança, lá pelos idos dos anos 70, responder à pergunta “o que você quer ser quando crescer” era relativamente fácil. Eu seria bailarina, enfermeira e, por fim, jornalista. As mais ousadas ainda respondiam: “astronauta!”. E as opções paravam mais ou menos por aí. Quando crescerem, nossos filhos terão diante de seus horizontes um leque de opções que irá desde “agente de memes” ou “administrador de morte digital” a “mentor de mindfulness” (sim, alguém que, profissionalmente, ajudará seus clientes a encontrar a felicidade!).

“Calcula-se que em 2020, mais de um terço das habilidades hoje consideradas fundamentais para um bom profissional não serão mais consideradas cruciais para os empregos do futuro”

Estimativas apontam que 65% das crianças que hoje estão na escola, no ensino fundamental, irão trabalhar em empregos que ainda não existem. Outro dado, divulgado no livro “Creative Destruction: Why Companies That Are de Richard Foster e Sarah Kaplan, aponta que, em 2020, mais de 75% das Built to Last Under perform the Market”, 500 maiores empresas do mundo serão empresas que ainda não conhecemos!

E não se trata apenas de quais profissões nossos filhos escolherão, mas também de ONDE nossos filhos exercerão estas profissões. A Google está construindo uma nova sede (que a empresa chama de “campus”) no Vale do Silício. Esta nova sede incluirá um projeto de comunidade a ser estruturada em torno da empresa. Uma das ideias é que os colaboradores não apenas trabalhem ali, mas residam ali, com suas famílias.  “Este projeto pretende fazer mais pela comunidade local”, diz David Radcliffe, chefe global de setor imobiliário da empresa, explicando que o campus incluirá ciclovias, lojas e restaurantes para o comércio local. O projeto prevê menos tempo de deslocamento para o trabalho, aumento de qualidade de vida, maior integração entre colaboradores, enfim, uma experiência mais intensa na empresa.

Focado em espaços abertos e verdes, tanto nos interiores dos prédios quanto em volta deles, o novo campus nos sugere que aquele será um lugar onde famílias poderão viver e trabalhar. Nunca o slogan do Android da Google (“Be  together, not the same”, algo como: “Estejam juntos, não iguais”) será tão literalmente colocado em prática como neste novo ambiente. Se o ritmo continuar este, nos restará visitar nossos netos em unidades como estas.

Um estudo do World Economic Forum, divulgado em Janeiro de 2016 e intitulado “The future of Jobs – Employment, Skills and Work force strategy for the fourth Industrial Revolution”, nos conta que, no acender das luzes da quarta revolução industrial, uma tempestade perfeita está se formando. A quarta onda influenciará outros fatores sócio-econômicos e demográficos, caindo feito um temporal sobre o atual modelo de negócio de todas as indústrias, provocando mudanças radicais no mercado de trabalho.

“Pesquisa do World Economic Forum estima o surgimento de dois milhões de empregos nas áreas relacionadas a computação, matemática, arquitetura e engenharia.”

Segundo o estudo, a força de trabalho mundial passará por uma transformação significativa entre modelos de empregos e funções. Nos países onde a pesquisa foi aplicada, a expectativa é de que, entre 2015 e 2020, cerca de 7,1 milhões de empregos no mundo sejam impactados por estas mudanças. Deste total, 5,1 milhões de posições seriam extintas. Detalhe: a maioria destas posições corresponde a cargos exercidos em escritórios: executivos e administrativos.  Mas nem tudo são más notícias: a mesma pesquisa apontou para uma estimativa de surgimento de dois milhões de empregos nas áreas relacionadas a computação, matemática, arquitetura e engenharia.

Um mundo em líquida transformação: calcula-se que em 2020, mais de um terço das habilidades hoje consideradas fundamentais para um bom profissional não serão mais consideradas cruciais para os empregos do futuro. No futuro, habilidades sociais como persuasão, inteligência emocional e capacidade de ensinar, por exemplo, serão mais importantes do que algumas capacitações meramente técnicas, como programação ou capacidade de operar equipamentos.

Tudo em movimento, tudo dançando diante de nossos olhos voltados para o futuro, feito aquele meu sonho de ser jornalista quando crescesse. Por outro lado, pensando bem, se alguém dissesse àquela menina que sonhava em ser jornalista que ela passaria boa parte do dia coordenando algo chamado “redes sociais”, ela também não acreditaria. Tudo soaria como mais um imperdível episódio dos Jetsons. Se conseguimos nos reinventar e sobreviver a tanta tecnologia, provavelmente nossos filhos, nativos da era digital, também conseguirão. Talvez não precisemos nos preocupar tanto. Mas não custa estarmos atentos.