Paróquia de Nossa Senhora da Glória - Portela

As Igrejas Católicas na Ocupação do Vale do Paraíba

 12/05/2017     Historiador Sebastião Deister      Edição 137
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O 2º Distrito do Município de Miguel Pereira - Governador Portela - tem em Nossa Senhora da Glória a sua padroeira oficial. Entretanto, durante um longo período a igreja desta cidade esteve sob a jurisdição eclesiástica de São Sebastião dos Ferreiros, que perdeu tal condição de domínio quando Vassouras se tornou um município independente e passou a ter, na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, o centro de direção religiosa do lugar.

Embora seja hoje uma célula territorial miguelense, Portela não tem seu templo dirigido pela Paróquia de Santo Antônio da Estiva, em função de as Dioceses Católicas seguirem uma divisão patrimonial e administrativa diferenciada daquela adotada pelos governos municipais brasileiros. Assim, quando em 1953 Miguel Pereira desmembrou-se eclesiasticamente de Paty do Alferes, ganhando a Paróquia de Santo Antônio da Estiva, a mesma decisão emanada pela Diocese de Valença não abarcou Portela, que, por conseguinte, permaneceu sob a alçada religiosa de Paty, tendo suas atividades litúrgicas totalmente independentes de Miguel Pereira. Isso explica a razão pela qual os padres que assistem aquela Igreja até hoje serem enviados diretamente pela Paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Paty do Alferes e não pela de Santo Antônio da Estiva.

A Igreja de Nossa da Glória não apresenta um estilo arquitetônico sofisticado ou pelo menos bem definido. Em função de várias ampliações laterais, especialmente para a melhoria de seu Consistório, e outras restaurações ali efetuadas nos últimos anos, o prédio viu-se contemplado com um aspecto mais moderno e absolutamente diferente dos demais templos da região serrana, perfil de maneirismo arquitetônico que define as linhas estruturais seguidas por engenheiros e projetistas na metade dos anos de 1930, ou seja, uma nave de linhas pós-clássicas, mais modernizantes e destituídas de colunas e arquitraves centrais.

Seu espaço de acolhimento dos religiosos, em vista da multiplicação do número de fiéis na cidade, infelizmente já se mostra muito modesto em dias de cultos mais expressivos, embora continue razoavelmente confortável. De fato, sua ambiência é bastante agradável e tranquila, até porque permite ao fiel postar-se bem junto à abside em arco que abriga a imagem da padroeira Nossa Senhora da Glória.

O acervo iconográfico não é numeroso, mas todas suas imagens apresentam-se em excelente estado de conservação e muito bem distribuídas pelas paredes da Igreja, em arranjos decorativos, aliás, muito bem equacionados pelos seus administradores.

A frontaria do templo ostenta uma pequena varanda de acesso, surgindo sobre ela um óculo em forma de rosácea. Do teto desse alpendre ergue-se a torre de sustentação do sino, sobre a qual se destaca a Cruz que caracteriza todas as igrejas católicas. Por sua vez, a abside que resguarda o trono da Santa Padroeira também não exibe luxos ou grandiosidades excessivas. Com efeito, a beleza rústica do altar de pedras e dos ícones que escoltam a padroeira compensa, de maneira satisfatória, a ausência de maior riqueza material, detalhe que longe de ser considerado sinal de indigência da igreja, torna-se desprezível se levarmos em consideração que o mais importante fator de fé pode ser encontrado na Matriz de Governador Portela: paz absoluta e grande riqueza espiritual.

Em homenagem à santa, a comunidade portelense, no dia 15 de agosto, realiza uma grandiosa festa popular que ocupa todos os espaços fronteiriços à Praça da Matriz e ruas adjacentes, ocasiões em que as mais típicas atrações gastronômicas do interior são comercializadas nas barraquinhas coloridas e decoradas com uma profusão de bandeirinhas: churrasquinhos, cocadas, quebra-queixos, quentão, caldo verde, churros, empadas e outras guloseimas, além de atraentes espetáculos musicais dos mais variados estilos.

É ainda digno de registro que tanto a construção da Igreja de Portela quanto as várias reformas e ampliações nela introduzidas ao longo dos anos surgiram por conta da generosidade e do profundo senso religioso de inúmeras famílias do lugar, que sempre colaboraram ativamente com os padres que ali paroquiaram, jamais dependendo das benesses de autoridades constituídas ou de verbas mais substanciais enviadas pela Diocese por ela responsável.

Importante lembrar que as obras de ampliação da primeira capela portelense tiveram início em finais da década de dez do século XX, sendo concluídas no inicio dos anos trinta. Delas participaram, tanto como trabalhadores quanto como patrocinadores, importantes e conhecidas famílias de Governador Portela, como Ávila, Monsores, Almeida, Aguiar, Leal, Vieira da Rosa, Portela, Amaral, Silva, Queiroz, Bitencourt, Valente, Soares Dias e outras. 

Na próxima edição: Igreja de Conrado