Companhia Força e Luz Vera Cruz 90 anos (29.06.1927 - 29.06.2017)

Até a década de vinte do século passado, Paty do Alferes e Miguel Pereira não dispunham de energia elétrica, havendo por casas e ruas tão-somente os incômodos lampiões de carbureto ou querosene.

 30/06/2017     Historiador Sebastião Deister      Edição 144
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Até a década de vinte do século passado, Paty do Alferes e Miguel Pereira não dispunham de energia elétrica, havendo por casas e ruas tão-somente os incômodos lampiões de carbureto ou querosene. O aparecimento de eletricidade em nossa região ocorreu a partir de 29 de junho de 1927 graças à fundação, em Paty do Alferes, da empresa BERNARDES, LAGROTTA & CIA. (criada pelo Dr. Ângelo Lagrotta e por Edmundo Peralta Bernardes) batizada como Sociedade Anônima Força e Luz Vera Cruz, Concessionária da Iluminação Pública e Particular em Governador Portela, Professor Miguel Pereira, Paty do Alferes e Avellar e Administradora da Usina Hidrelétrica de Vera Cruz, na Linha Auxiliar.

A ambiência para a construção da usina recaiu sobre a Cachoeira da Manga Larga de Cima, em Paty do Alferes. Para o Dr. Lagrotta, o local dispunha de um fluxo de água pesado e constante capaz de criar uma força mecânica suficiente para a movimentação de seus dínamos e geradores. Após a inauguração da Manga Larga, os resolutos empresários seguiram para Vera Cruz, ali levantando duas novas obras voltadas para a produção de eletricidade na Serra: as Usinas de Vera Cruz de Baixo e Vera Cruz de Cima, tendo como base a esplêndida corrente do Rio Santana. Além de atender Miguel Pereira e Paty, a companhia estendeu linhas para Governador Portela, Arcádia, Santa Branca, Sertão (hoje Conrado), Paes Leme e até Vila de Cava, na Baixada Fluminense.

Contudo, a devastadora enchente de 26 de março de 1945 reduziu a escombros todas as instalações de Paty e Vera Cruz. Por questões operacionais e financeiras, a Usina de Manga Larga de Cima não mais seria reconstruída. Lenta, mas firmemente, a companhia reergueu-se do desastre. Com o tempo, as duas usinas em Vera Cruz entraram em funcionamento, e de pronto a companhia novamente estabeleceu suas conexões com Miguel Pereira e Paty do Alferes através de linhas e posteações que mais uma vez desbravaram matas e colinas a partir das cercanias da Igreja de Nossa Senhora da Piedade até alcançar o topo da serra.

A despeito de múltiplos problemas de logística, a Sociedade Anônima Força e Luz Vera Cruz transformou-se num pólo irradiador de energia elétrica para diversas outras localidades serranas. Entretanto, seus transtornos e suas dificuldades foram eliminados em 25 de julho de 1953, ano em que a Light passou a comprar a energia produzida pela empresa. O sistema colaborativo entre as duas companhias perdurou até 1967, quando a Light encampou de vez a pioneira usina patiense, desativando-a e trazendo para a Serra do Tinguá a corrente mais constante e confiável gerada pela usina de Ribeirão de Lajes.

Além do Dr. Ângelo Lagrotta e de Edmundo Peralta Bernardes (vide imagem), não podemos omitir outros colaboradores que deram sua expressiva parcela de trabalho para o desenvolvimento daquela pioneira empresa, dentre eles o Dr. Machado Bitencourt (na presidência da Companhia); Clemente José Monteiro e Luís Vianna (na Gerência da Usina de Vera Cruz); Abílio Casa Nova (na Chefia dos Serviços Técnicos); Lauro de Barros e Antônio Ramos da Silva, o Antoniquinho (na Administração dos Escritórios de Miguel Pereira); Ernesto e Dario (respectivamente Chefe de Operações e Auxiliar de Serviços Gerais na Usina de Vera Cruz); Henrique d'Ávila, Cecílio e Humberto "Corcunda" (responsáveis diretos pela manutenção das linhas aéreas), além de dezenas de outros zelosos funcionários como Nelson, Geninho, Gervásio, Wilson Brasil, Benjamim, Lígia Bernardes, Osmarina, Geny e Mello, este o cobrador das contas de casa em casa.