Igreja de Santo Antônio dos Pobres da Encruzilhada

As Igrejas Católicas na Ocupação do Vale do Paraíba - Paraíba do Sul

 21/07/2017     Historiador Sebastião Deister      Edição 147
Compartilhe:       

Em 1724, Bernardo Soares Proença rasgou, em terras paraibanas, um novo caminho que levou até à baixada fluminense, descendo a serra da Estrela. Estava assim aberta a Variante do Proença, que logo permitiu às primeiras tropas alcançarem o porto da Piedade de Anhum-Mirim, depois rebatizado como Vila da Estrela. Na bifurcação Fagundes-Encruzilhada do Lucas surgiu a vila de Santo Antônio da Encruzilhada, um dos mais antigos topônimos de Paraíba do Sul homenageando um ser humano.

De fato, no ano de 1836 uma devastadora epidemia de varíola assolou vários logradouros de Paraíba, tendo como primeira vítima um garoto extremamente pobre chamado Antônio. Não havendo local para sepultamento no arraial conhecido como Encruzilhada do Lucas, seus vizinhos resolveram transportar o corpo para o cemitério de Paraíba. Contudo, no instante em que o enterro se preparava para atravessar o rio na barca de passagem, os moradores da vila contestaram tal ideia, alegando a possibilidade de alastramento da doença no seio da população da vila que já crescia consideravelmente. Os acompanhantes do féretro, após protestos e discussões, decidiram seguir para a fazenda do Governo, a grande propriedade do senhor Dão Linhares, que também não concordou com a inumação em seu cemitério. Decididos então a seguir para a fazenda da Várzea, os responsáveis pelo enterro encontraram junto à encruzilhada o senhor Antônio Rodrigues de Andrade França que os alertou sobre a possibilidade de terem outra decepção na Várzea. Foi então levantada a ideia de enterrarem a criança ali mesmo, erguendo-se para tanto uma capela com cemitério dedicada a Santo Antônio dos Pobres em razão do nome do menino, cabendo ao mesmo Antônio Rodrigues a cessão do terreno para a obra sugerida. Até que a construção ficasse pronta, o pequenino corpo foi então sepultado do lado de baixo da estrada diante do atual cemitério. Depois de algumas divergências quanto ao exato local da obra, o vereador paraibano José Inocêncio de Andrade Vasconcelos comandou a colocação dos quatro primeiros esteios da obra em um Sábado de Aleluia do ano de 1837. Logo a lembrança do jovem Antônio voltou à mente dos moradores do lugar, que então escolheram o título de Santo Antônio dos Pobres da Encruzilhada para a capela, denominação de pronto consagrada e mantida até os dias atuais.

Torna-se relevante registrar que, em 1843, João de Farias Nazaré principiou, de fato, a capela, realizando ali uma primeira festa em 1847. Por conta das reduzidas dimensões do templo, outras subscrições foram solicitadas à população local objetivando sua ampliação. Liderando o movimento, o fazendeiro João de Oliveira, da fazenda da Várzea, logo ofereceu todo o madeiramento, enquanto vários alemães chegados de Petrópolis executaram os serviços de pedreiro e carpinteiro. Enfim, em 1852 concluiu-se a obra, restando tão-somente a colocação do assoalho e do forro da igreja, serviços custeados pelo barão de Diamantina (Francisco José de Vasconcelos Lessa), também responsável pela doação das terras destinadas ao patrimônio final da futura igreja. Por sua vez, Narciso José Soares, por meio de outras subscrições, mandou fazer o altar de Nossa Senhora da Conceição paralelamente à instalação do nicho dedicado a São José, trabalho executado por José Inocêncio de Andrade Vasconcelos, também doador dessa imagem.

Assim, após várias subscrições, doações e trabalhos realizados no interregno 1843 - 1852, a pequena ermida foi sendo erigida e aperfeiçoada, até que em 25 de outubro de 1855, pela Lei Provincial n° 830, criou-se ali um templo com a longa denominação de Freguesia do Glorioso Santo Antônio dos Pobres da Encruzilhada do Lucas, tendo seu território desmembrado das freguesias de São Pedro e São Paulo da Paraíba e de Santana de Sebollas. Seu primeiro vigário foi o padre Aureliano José de Carvalho e Andrade.

Importantes serviços de ampliação começaram em 1857, gastando-se ali quantias consideráveis, além de vinte contos de réis doados pelos cofres da Província do Rio de Janeiro graças aos esforços do deputado Marinho da Cunha. Essas obras terminaram apenas em 18 de agosto de 1861, data marcada pela entronização da imagem do Senhor Crucificado oferecida pelo barão de Piabanha (Hilário Joaquim de Andrade). Por seu turno, a imagem do Senhor dos Passos foi oferta de Maria Joaquina Vieira e a de Nossa Senhora da Soledade por parte do Dr. Jerônimo Macário Figueira de Melo.

Ressalte-se que o acervo do templo, desde os ícones do arco do altar até o conjunto de imagens ornamentais estrategicamente distribuídas pelas amplas paredes, é até hoje considerado como um dos mais belos e ricos de Paraíba do Sul. Quanto à arquitetura, a igreja se caracteriza por uma larga fachada de caráter bastante simplificado, sem grandes adornos decorativos e constituída de elementos retilíneos, apresentando quatro colunas em pedra de cantaria, uma porta principal arqueada, uma cruz encimando a torre central, sete janelas frontais e duas laterais que permitem a incidência de luz diretamente ao transepto da nave. Com um pé direito bem alto, o templo possui uma abóbada bastante elevada que confere ao conjunto um imponente ar de igreja de peregrinação e meditação.

Algumas obras de restauração e melhorais estruturais foram realizadas em 1997, sem, entretanto, alterar qualquer linha histórica ou arquitetônica deste belo patrimônio religioso, certamente um dos grandes orgulhos da comunidade católica de Paraíba do Sul.

 Avenida A. J. Miranda e Carvalho, s/n, Vila Salutaris