120 Anos da chegada da Estrada de Ferro
Pelo professor e historiador Sebastião Deister
30/03/2018
Historiador Sebastião Deister
Edição 183
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A
Linha Auxiliar surgiu após contratos assinados no Rio de Janeiro em 15 de março
de 1882 entre o Governo da Província Fluminense e a direção da Estrada de Ferro
Melhoramentos do Brasil, graças a uma determinação direta do Imperador D. Pedro
II. A linha deveria seguir o curso do rio Santana, galgar as serras da Viúva e
do Couto, ultrapassar as vilas de Portela e da Estiva, atravessar a Freguesia
de Paty do Alferes e daí continuar para Paraíba do Sul e Entre-Rios. Para sua
concretização, foi fundada, em 17 de maio de 1890, a Estrada de Ferro
Melhoramentos do Brasil pelos engenheiros André Gustavo Paulo de Frontin,
Francisco Bicalho e Conrado Niemeyer, entre outros engenheiros e membros do
Governo Provincial. No dia 15 de fevereiro de 1893, deu-se então partida à
construção da ferrovia na Estação de Alfredo Maia, na Mangueira (Rio de
Janeiro). Em 1 de novembro de 1895, os
trilhos já atingiam Honório Gurgel (km 17), destacando-se daí um ramal com 3
quilômetros em linha reta até a estação de Sapopemba (hoje Deodoro da Fonseca).
Já em 29 de março de 1898, a Estrada de Ferro Melhoramentos do Brasil promoveu
uma série de inaugurações pela Serra do Tinguá, abrindo para o tráfego as
estações de Sertão (hoje Conrado), Bomfim (agora Arcádia), Vera Cruz e o seu
famoso viaduto, Conrado Niemeyer (depois batizada como Francisco Fragoso),
Governador Portela, Estiva (ex-Barreiros e atual Miguel Pereira), Paty do
Alferes, Arcozelo, Avelar, Andrade Costa, Cavaru e Barão de Werneck, além de
diversas paradas de reabastecimento de locomotivas, entre as quais Paes Leme,
Santa Branca, Engenheiro Adel, Monte Líbano, Barão de Javary, Monte Alegre, Pau
Grande, Mestre Xisto, Bueno de Andrade e Taboões. A partir daquele auspicioso
dia, passou a circular pela serra a fumacenta Maria Fumaça, que por muitos anos
foi motivo de alegria e prosperidade para todas as emergentes cidades do vale
do rio Santana.
A Linha Auxiliar da Serra do Tinguá, assim
chamada por servir de apoio à Rede de Campos dos Goytacazes, ou SR-8 (Superintendência
Regional 8) no Norte do Estado, cobria as secções de Mangueira (Alfredo Maia ?
Rio de Janeiro) ao Sertão (Conrado), com 85 km; Sertão à Governador Portela,
com 25 km; Portela à Paraíba do Sul, com 55 km. Na realidade, considerava-se
como Linha Auxiliar o leito ferroviário que partia da Estação de Alfredo Maia
até a cidade de Três Rios, num total de 176,300 quilômetros, correndo então os
trilhos dessa cidade até Porto Novo do Cunha, já na linha limítrofe com Minas
Gerais.
Em 2 de julho de 1903, a ferrovia serrana
conectando Japeri à Três Rios foi incorporada à Estrada de Ferro Central do
Brasil (EFCB) e, por determinação expressa do ofício nº 835, datado de 16 de
julho do mesmo ano, passou a ser definitivamente conhecida como Linha Auxiliar,
apresentando em seu complexo um total de 61 unidades de trabalho, entre paradas
de reabastecimento e estações para embarque e desembarque de passageiros e de
cargas diversas.
Entre julho e dezembro de 1903 circularam
pela Serra 181 trens mistos, 75 trens especiais de carga e 4 trens especiais
diversos, sendo todo esse material rodante composto de 10 locomotivas a vapor, 2
carros especiais de inspeção, 1 carro de 1ª classe, 2 carros de 2ª classe, 4
carros de 1ª e 2ª classe, 2 vagões para transporte de animais, 4 vagões para
transporte de lastro, 1 vagão para transporte de leite, 15 vagões para
transporte de lenha e 18 vagões para mercadorias diversas. Já o quadro
principal de funcionários administrativos, totalizando 52 pessoas ? não se considerando
aqui maquinistas, foguistas, trabalhadores de soca e outros profissionais ?,
compunha-se de 1 inspetor, 1 subinspetor, 1 agente de 5ª classe, 19 conferentes
de 3ª classe, 4 guardas de armazéns, 15 guarda-chaves, 1 guarda-rodante, 4
trabalhadores, 3 guarda-freios e 3 guarda-fios.
Em 1957, com a criação da Rede Ferroviária
Federal S/A ? que unificou 19 estradas de ferro brasileiras ?, a Linha Auxiliar
passou a ser administrada pela Estrada de Ferro Leopoldina, pelo fato de seu
trecho ser em bitola métrica (1 metro de largura), cuja gerência, até dezembro
de 1986, ficou a cargo da Superintendência Regional de Juiz de Fora, esta
subordinada a CSP-3/Campos.
A velha e admirada Maria Fumaça ainda
tentou resistir ao repto de um eclipse social tão melancólico, circulando pela
malha ferroviária de Miguel Pereira como trem turístico no ano de 1986, até ser
aposentada em face de problemas conjunturais e econômicos alegados pela direção
da RFFSA. Por sua vez, entre 1993 e 1995, a empresa Montemar Turismo, após
investir milhares de dólares na reforma de vagões e trilhos, fez circular entre
Conrado e Miguel Pereira o chamado Trem Azul, promovendo viagens que,
semanalmente, atraíam para nossa terra centenas de turistas e levas de saudosos
ex-ferroviários. Também a derrocada econômica levou a empresa à falência, e o
que resta hoje das gloriosas épocas da ferrovia são poucas estações reformadas
e apenas antigas fotografias nas quais podemos admirar a elegância dos
nostálgicos trens que diariamente alegravam nossos vales e nossas montanhas.