Lições de sustentabilidade na horta
Uma experiência educativa inovadora de agroecologia urbana no Rio
13/10/2018
Planeta Colabora
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Foto 1 - Alunos do Colégio
Estadual Brigadeiro Schorcht, na Taquara, cuidam das verduras plantadas por
eles. Foto: Elizabeth Oliveira
Desde que um pequeno espaço
subaproveitado foi transformado em horta orgânica, em 2011, muita coisa mudou
no Colégio Estadual Brigadeiro Schorcht, localizado na Taquara, zona oeste do
Rio, onde uma experiência pedagógica inovadora vem sendo desenvolvida em
parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A fórmula de sucesso dessa
empreitada pode parecer simples, mas exige muita motivação e ações
ininterruptas. O tripé que sustenta a iniciativa é formado por professores e pesquisadores
apaixonados pelo que fazem, jovens estudantes que já conseguem compreender os
benefícios da agroecologia para a saúde humana e o meio ambiente, assim como
pelos esforços de um diretor considerado um visionário pela comunidade escolar.
?Gosto
de ver o envolvimento dos estudantes e de contribuir para que eles possam
compreender a importância do processo de produção agroecológica. Como geógrafa
trago conceitos da geografia para as aulas e, também, me esforço para quebrar o
estigma de que o trabalho com a terra é algo sem valor, uma ideia ainda muito
presente na percepção de parte da população urbana?
Priscilla Pedrestte - Educadora Ambiental da Fiocruz
A organização da horta
simbolizou um ponto de partida para incentivar grandes mudanças no comportamento
dos estudantes e introduzir melhores práticas de gestão ambiental na escola. Os
avanços incluíram a instalação de sistemas de coleta de água de chuva para
irrigar as plantas e de captação de energia solar para aquecimento de água dos
vestiários feminino e masculino.
Foi possível também mudar a
dinâmica da geração de lixo local, discernindo com mais clareza o que deve, ou
não, ser descartado como inservível. Os resíduos orgânicos são destinados à
composteira e garantem adubo de excelente qualidade para os vasos e canteiros
da horta. Além disso, a comunidade escolar já incorporou o hábito de separar
materiais recicláveis e óleo de cozinha saturado para doação a instituições
parceiras.
Foto 2 - O reaproveitamento da
água da chuva é uma das técnicas utilizadas pelos alunos. Foto: Elizabeth
Oliveira
Tecnologias
sociais fazem a diferença
Segundo acrescenta, a parceria
com a Fiocruz foi fundamental no apoio à elaboração e à submissão de um projeto
selecionado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do
Rio de Janeiro (Faperj), em 2012, que garantiu recursos financeiros para a
implementação das melhores práticas ambientais. Antes disso, a escola não tinha
sequer refeitório e os lanches consumidos pelos alunos eram industrializados,
realidade que também mudou com essa iniciativa conjunta.
A educadora popular e
pesquisadora da Fiocruz, Valdirene Militão, ressalta que o principal objetivo
do projeto é disseminar informações e técnicas para ampliar a soberania
alimentar e nutricional, tendo em vista que a instituição trabalha com enfoque
na promoção à saúde. Por esse motivo, as ações pedagógicas são voltadas a
despertar nos adolescentes o interesse pelo cultivo e consumo de alimentos
livres de agrotóxicos, além de facilitar o entendimento de que os princípios da
agroecologia também podem ser aplicados em pequenos ambientes urbanos, seguindo
uma tendência global.
Com uma folha de couve na mão,
onde aparece um casulo vazio, Valdirene explica a importância pedagógica de se
perceber o ciclo da vida a partir de exemplos como o de uma lagarta que se
transformou em borboleta e voou daquela horta. ?Os estudantes gostam de ver de
perto as mudanças que acontecem nesse pequeno espaço e eu me sinto muito
recompensada por poder contribuir para que eles percebam como ocorrem alguns
processos ambientais.? Segundo a educadora, os alunos sabem que em uma área
cultivada com agrotóxicos não seria possível assistir aquela ?aula de biologia
ao ar livre? já que os insetos e outras formas de vida se afastam das plantas
em contato com produtos químicos.
Foto 3 - O biólogo Marco
Aurélio Berão assumiu a direção da escola há um ano, depois de ter atuado como
professor de biologia desde 2011. Foto: Valdirene Militão/Fiocruz Mata
Atlântica
A educadora ambiental da
Fiocruz, Priscilla Pedrestte, esclarece que as hortaliças, os legumes e outros
ingredientes frescos retirados da horta são destinados à alimentação escolar,
embora esse não seja o principal objetivo das ações educativas. A proposta é de
discutir o ciclo de produção agrícola, os cuidados necessários para produzir
alimentos mais saudáveis a partir da adubação orgânica, além da importância da
presença de insetos, pássaros e outras formas de vida características da Mata
Atlântica para controlar, naturalmente, a qualidade daquele ambiente.
?Eu gosto de ver o
envolvimento dos estudantes e de contribuir para que eles possam compreender a
importância do processo de produção agroecológica. Como geógrafa eu trago
conceitos da geografia para as aulas e, também, me esforço para quebrar o
estigma de que o trabalho com a terra é algo sem valor, uma ideia ainda muito
presente na percepção de parte da população urbana,? observa Priscilla.
O estudante Midsu Kobayashi,
17 anos, também compartilha a sua motivação para participar das atividades da
horta. ?Desde criança eu gosto de estar em contato com as plantas e quando
soube desse projeto me interessei. Estou sempre aqui.? O jovem destaca que,
desde o ano passado, tem conseguido aprender muito sobre processos de plantio e
adubação.
?Gosto de tirar da terra o que
planto?, comenta Midsu com entusiasmo. Enquanto conversa ele retira de um
canteiro, com outros colegas, uma rama alta de mandioca que estava no ponto de
ser colhida. Partes da planta são quebradas e inseridas na terra pela educadora
Valdirene que estima uma nova colheita, naquele canteiro, em até três meses.
Quintais
produtivos em Jacarepaguá
A educadora ambiental
Priscilla Pedrestte destaca que, 30% dos recursos financeiros repassados à
gestão pública, pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), devem ser
destinados à compra de alimentos de produtores familiares. Considerando que no
passado, Jacarepaguá foi uma região de forte vocação agrícola, conhecida como
?sertão carioca?, uma das propostas da Fiocruz é de estimular a produção
agroecológica local visando à reconquista dessa tradição do bairro. Por isso, uma das ações da instituição
envolve o projeto Quintais Produtivos, desenvolvido na antiga colônia Juliano
Moreira, em Jacarepaguá, como parte das ações do Campus Fiocruz Mata Atlântica,
nas quais também se insere a parceria com a escola da Taquara.