24 de janeiro de 1835: acontece a Revolta dos Malês, levante de escravos em Salvador
Os escravos de origem muçulmana
25/01/2019
Escravidão
Edição 226
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No dia 24 de janeiro de 1835, ou
seja, há 184 anos, ocorreu a chamada ?Revolta dos Malês?, na cidade de
Salvador, na Bahia. Ela é considerada uma das maiores revoltas da história do
estado.
A Revolta dos Malês foi
resultado da instabilidade política do governo imperial brasileiro que teria
início a partir dos anos de 1830. Entre os acontecimentos desse período, estão
a renúncia de Dom Pedro I (1831) e a Regência Provisória que duraria até 1840,
quando Dom Pedro II recebe a Declaração de Maioridade e obtém, assim, o direito
a se tornar o imperador do Brasil daquela época.
Esse período também foi
marcado por uma série de transformações lentas e graduais na estrutura
política, econômica e social do país, bem como por uma série de revoltas que
tinham por objetivo derrubar o poder vigente e favorecer o movimento
republicano. As principais foram a Guerra dos Farrapos (1835-1845), na Região
Sul, a própria Revolta dos Malês (1835), na Bahia, a Cabanagem (1835-1840), na
província do Pará, a Sabinada (1837-1838), também na Bahia e a Balaiada
(1838-1841), no interior da província do Maranhão.
As principais
motivações para a Revolta dos Malês foram: a luta pela libertação do povo negro
de sua condição de escravos e a garantia da liberdade religiosa. Além disso, os
malês queriam derrubar o governo imperial para estabelecer o seu próprio
regime, que garantisse a eles melhores condições de vida se comparadas com as
condições deploráveis e indignas em que eles viviam.
Os envolvidos na
revolta eram chamados de "malês" porque a maioria deles eram negros praticantes
do islã, falantes de iorubá (a palavra ?malê? tem origem no termo em iorubá "imalê", que significa "muçulmano") e tinham chegado diretamente da África,
portanto, não tinham nascido no Brasil. Na Bahia, eles eram conhecidos como "nagôs" e o grupo de rebeldes contou com aproximadamente 600 homens.
O evento se inicia na
noite do dia 24, quando o então prefeito de Salvador, Francisco de Souza
Martins, recebe uma denúncia anônima sobre uma possível revolta planejada pelos
escravos. O prefeito, então, avisa ao chefe da polícia, Francisco Gonçalves,
para dobrar a quantidade de patrulhas que rondam os distritos da cidade,
ordenando que detivessem qualquer pessoa suspeita ou que estivesse em posse de
armas.
A revolta propriamente
dita começa no dia seguinte, quando a polícia tenta invadir uma casa suspeita.
60 homens dentre os rebeldes saem dessa casa e há um fogo cruzado entre os rebeldes
e a guarda do palácio do governo. Muitos rebeldes saem pelas ruas tentando
reunir o máximo de escravos possíveis para participarem do confronto. Outros
foram em direção à Câmara Municipal resgatarem um dos líderes da revolta,
Pacifico Licutan, mas acabam sendo detidos. Como ocorreram confrontos em
diversos pontos da cidade, Salvador tinha se tornado um verdadeiro caos.
A última batalha
aconteceu no momento em que os rebeldes se depararam com o quartel da cavalaria
na região de Água de Meninos. Desse momento em diante, os malês são derrotados.
A partir de então, a
repressão se tornou ainda mais dura. Os rebeldes sobreviventes receberam penas
de diversos tipos, entre elas a deportação forçada ao continente africano, 16
condenações à morte (apesar de apenas 4 pessoas terem sido executadas) e penas
de açoites que podiam variar entre 300 e 1.200 chibatadas.
Contudo, a Revolta dos
Malês, apesar de ter sido derrotada, gerou um forte temor em Salvador, e esse
clima de medo se espalhou por vários cantos do país. A revolta repercutiu na
imprensa da época em larga escala e incentivou o surgimento de outras lutas do
povo negro pela sua libertação. O fato é que os malês conseguiriam, de certo
modo, confrontar e ameaçar o regime político vigente naquele dado momento.
Essa é uma prova de
que, através dos movimentos de luta, de organização e de mobilização popular, é
que o povo negro no Brasil conseguiu, a duras penas, se livrar de uma condição
de vida escravizada, indigna e desumana. Hoje, a população negra precisa se unir
na luta para superarem outros tipos de contradições afetam diretamente suas
vidas, suas famílias e a sua qualidade de vida, como a questão do
encarceramento em massa de negros nos presídios, o extermínio nas favelas por
parte das forças repressivas do Estado burguês, a discriminação que é fruto do
sistema capitalista e que só pode ser superada através de uma política
revolucionária, os salários menores, menor nível de escolaridade, etc.
É através da
organização e mobilização política é que a população negra poderá superar as
condições de miséria que ainda afeta esse segmento da sociedade, por meio de um
movimento de massa revolucionário.