A balbúrdia na educação brasileira
#Colabora inicia série de reportagens sobre a relevância da pesquisa científica no Brasil
25/05/2019
Planeta Colabora
Edição 243
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Foto 1 - Estudantes protestam contra os cortes do governo nas verbas da
educação (Foto: Nelson Almeida/AFP)
Para o ministro da Educação Abraham Weintraub, as universidades federais
brasileiras são centros de "balbúrdia" que abrigam em suas instalações "gente
pelada, eventos ridículos e muita bagunça". Foi com base nessas certezas que o
governo justificou parte do contingenciamento de R$ 7,4 bilhões dos recursos do
MEC. Desse montante, cerca de R$ 2 bilhões são das universidades federais que,
no entanto, foram atingidas também pela redução nos recursos de órgãos de
financiamento como o CNPQ (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico), a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e o Fundo Nacional
do Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
No caso das universidades, como o pagamento do pessoal é obrigatório e
não pode ser reduzido, os cortes atingem as chamadas despesas discricionárias,
usadas para cobrir gastos como as contas de água, luz, limpeza, compras de
equipamentos de laboratórios e as bolsas de auxílio aos estudantes. Ao ser
criticado pelo corte de 30% nesses recursos de manutenção das universidades, o
ministro reagiu com uma pergunta: "Não podem economizar nem uma migalha?". No
último sábado, o #Colabora publicou a primeira de uma série de reportagens
mostrando que a realidade das universidades públicas no Brasil é bastante
diferente do que pensa o governo. Nesta série, que recebeu o nome de "Balbúrdia
Federal", vamos mostrar 100 exemplos de trabalhos feitos nessas universidades
em todo o Brasil que são reconhecidos mundialmente e vêm sendo fundamentais
para a sociedade. Entre eles, pesquisas como as do Zika Vírus, do Pré-Sal, na
área da agricultura e da preservação da biodiversidade na Amazônia.
"Se você acha que a educação é cara,
experimente a ignorância" - Derek
Bok, ex-diretor da Faculdade de Direito de Harvard
A primeira delas foi a história da reitora recém-eleita da UFRJ, Denise
Pires de Carvalho, que há anos tem que usar seus próprios recursos para custear
a sua pesquisa. Médica do instituto de Biofísica, Denise tem trabalhos
premiados no combate ao câncer de tireoide. O reconhecimento por uma pesquisa
tão importante, porém, não se traduz em mais verbas. "É muito comum os pesquisadores tirarem
dinheiro do bolso para manter seus trabalhos".
Para o professor Ildeu de Castro Moreira, presidente da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC), estes cortes recentes de verbas ameaçam,
antes de tudo, o direito à cidadania, à expressão e à liberdade acadêmica. Ele
cita, por exemplo, a redução de recursos da Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que financiam grande parte da
pós-graduação no país. "Esse corte ameaça não só a ciência e tecnologia nesse
momento - e ela faz isso -, mas também afasta os jovens da ciência por não
terem motivação. E isso pode afetar seriamente o futuro do país".
Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o ministro Weintraub citou
o baixo desempenho das universidades para justificar os cortes: "Universidades
que, em vez de procurar melhorar o desempenho acadêmico, estiverem fazendo
balbúrdia, terão verbas reduzidas". No entanto, a última pesquisa da revista
britânica Times Higher Education (THE) sobre reputação acadêmica mostrou que as
universidades brasileiras seguem entre as melhores da América Latina, ocupando
seis dos dez primeiros lugares, com a Unicamp e a USP ficando com as duas
primeiras colocações.
Quem quiser contribuir com a série de reportagens do #Colabora pode
enviar as suas sugestões para o e-mail contato@projetocolabora.com.br, sem
deixar de incluir no assunto o tema "Balbúrdia Federal". Pois, como já disse
Derek Bok, ex-reitor e ex-diretor da Faculdade de Direito da Universidade de
Harvard: "Se você acha que a educação é cara, experimente a ignorância".
#100diasdebalbúrdiafederal
Por: Agostinho
Vieira