Fazenda Três Poços - Volta Redonda
Estavam por trás desta grande produção, 627 escravos
12/07/2019
Historiador Sebastião Deister
Edição 250
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Situada na
margem direita do Rio Paraíba, entre as antigas estações ferroviárias de
Pinheiral e Jorge Rademaker, a Fazenda Três Poços, outrora de grande extensão territorial,
abrange hoje a várzea que margeia aquele curso d'água até a altura do casario
urbano, nos fundos do qual se inicia o característico mar de morros.
As terras que
deram origem a esta fazenda tiveram como primeiro proprietário o sesmeiro
Mateus Pereira de Araújo e Oliveira, cujas terras de meia légua em quadra foram
concedidas em 1784. Por venda, passaram a outros proprietários, entre eles José
Gonçalves de Moraes, futuro barão de Piraí. Por volta de 1834, Três Poços foi
doada por José Gonçalves de Moraes ao seu genro, comendador Lucas Antônio
Monteiro de Barros, filho do visconde de Congonhas do Campo, casado com D.
Cecília Gonçalves de Moraes, da família Breves por parte de mãe.
O casal teve
seis filhos, entre eles Maria Eugênia, nascida na fazenda, e que mais tarde
viria a ser a condessa Monteiro de Barros, título a ela concedido pelo
Vaticano. Além dela, entre tantos netos e bisnetos do casal pioneiro -
considerando apenas os nascidos em Três Poços -, sete ostentaram títulos de
nobreza, também de origem estrangeira, a saber: um conde, quatro condessas, um
visconde e uma baronesa.
Com o casal
Lucas Antônio e Cecília, Três Poços alcançou grande prosperidade, atingindo no
ano de 1860 a produção de 22.000 arrobas e 330 toneladas de café em grão.
Estavam por trás desta grande produção, 627 escravos, havendo somente em Três
Poços 313 cativos. Havia mais outras fazendas anexas a Três Poços, entre elas a
Santa Cecília, berço da Companhia Siderúrgica Nacional, Brandão e Volta
Redonda.
A sede da
fazenda, construída provavelmente na década de 1840, recebeu, em 1859, a visita
do viajante português Augusto Emílio Zaluar que almoçou com o proprietário
antes de seguir viagem para Barra Mansa.
Com a morte
do comendador Lucas Antônio Monteiro de Barros, ocorrida em 1864, assumiu tanto
a casa quanto os negócios a viúva Cecília de Moraes Monteiro de Barros, que
sobreviveu ao marido por longos 56 anos, dando à fazenda um impulso notável.
Após sua morte em 1918 (quando já contava 98 anos), cerca de 100 alqueires de
terras, o solar e as instalações da vasta propriedade, voltadas então à
pecuária leiteira, foram doadas em testamento aos monges Cistercienses, mais
conhecidos como Trapistas.
A Fazenda Três
Poços, depois de passar por administrações não muito proveitosas de outras
congregações religiosas, como, por exemplo, os Beneditinos, foi desapropriada
em 1967, passando a abrigar a Fundação Oswaldo Aranha (FOA).
Depois do ano
de 1871, um trecho do complexo fazendário viu-se servido pelo transporte
ferroviário através da Estação Três Poços. Atualmente, o histórico solar
(tombado pelo decreto municipal 2.117, de 23 de dezembro de 1985), ainda mantém
externamente grande parte de sua configuração original, estando ocupado pela
Escola de Engenharia Civil da Fundação Oswaldo Aranha.
Algumas
frações das antigas instalações da antiga unidade de produção de café de Três
Poços resistem ao lado da sede como, por exemplo, um interessante moinho
estruturado em madeira acionado por força hidráulica fornecida pela roda d'água
(esta não mais existente) que fazia girar, através de um inteligente sistema de
eixos, polias e engrenagens, duas pesadas pedras de moer em formato de queijo
no interior de um recipiente circular também de madeira.
O altar da
capela desta fazenda foi transferido para a Fazenda Feliz Remanso, cujos
proprietários atuais são descendentes do casal Lucas Antônio e Cecília de
Moraes Monteiro de Barros. Em tempo, Feliz Remanso localiza-se cerca de 21
quilômetros partir de Barra do Piraí em direção a Volta Redonda, com entrada a
poucos metros do asfalto e nas proximidades do Posto da Polícia Rodoviária.
A casa grande
apresenta dois pavimentos, mas é caracterizada por possuir um corpo único, de
fachadas retangulares e de iguais dimensões, com a planta tendendo à dimensão
retangular para manter o pátio interno. O telhado em duas águas, com cumeeiras
paralelas às fachadas, é recoberto em telhas capa e canal, terminando em beiral
com cimalha simples de madeira. Existe, ainda, uma pequena água-furtada que se
abre para o pátio interno, enquanto a varanda se estende por uma longa fachada
lateral.
O acesso
principal da casa apresenta uma bela escada em forma de leque, com balaustrada
de ferro e proteção dada por um pequeno alpendre. Seu interior foi modificado
para acomodar salas de aula e laboratórios da FOA. A planta original destaca-se
pela ausência de alcovas, faro bem raro em construções da época. Os ângulos da
construção terminam nos característicos cunhais em forma de pilastras de
alvenaria com capitel simples distante do entablamento.
Os vãos das
paredes externas são mais numerosos no sobrado, enquanto que no térreo só há
janelas na fachada voltada à estrada de acesso. Todos os vãos apresentam vergas
e sobrevergas retas em estuque, guarnecidas por esquadrias com venezianas
externas (modificadas) e guilhotinas internas originais, com reticulados
simples na folha móvel e nas bandeiras, apresentando desenhos em losangos
arqueados, que se repetem nas bandeiras das portas internas.
A histórica casa-sede
foi demolida e reconstruída sobre os alicerces de pedra originais, mantendo-se,
desde então, em bom estado de conservação. Assim, fundações, paredes de
vedação, cobertura e as condições gerais da estrutura de madeira acham-se sem desgastes
ou deteriorações perceptíveis.