Fazenda São Fernando de Massambará

Proprietário o banqueiro Ronaldo César Coelho - Vassouras

 16/08/2019     Historiador Sebastião Deister      Edição 255
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Localizada a 1 quilômetro do Distrito de Massambará, em Vassouras, São Fernando foi um dos arquétipos das grandes fazendas de café naquela fértil região ao longo do Segundo Império. Inteiramente restaurada com bom gosto e respeito às suas origens arquitetônicas e decorativas, assemelha-se muito a um grande museu de história.

A propriedade está situada numa área de aproximadamente 122 alqueires, com importante reserva natural remanescente da Mata Atlântica, dentro dos quais existe o plantio constante de mudas nativas em pastagens degradadas ou no enriquecimento da mata existente. Outras áreas são utilizadas na criação de gado e no desenvolvimento de plantio orgânico. O núcleo da fazenda é cercado por morros, com variação entre 520 e 600 metros de altitude. A sede está localizada à esquerda da estrada interna, assentada na encosta de uma colina, em local mais elevado em relação aos antigos pátios de café que estão à sua frente. A leste, encontram-se as ruínas da antiga senzala, a nordeste o curral e a oeste um grande lago. Num dossiê elaborado pela arqueóloga Marta Fonseca, ficamos sabendo que, diante da casa, estão situados os antigos terreiros de café, transformados hoje em grandes gramados. À sua direita, estão os remanescentes da senzala, em grande parte arruinada, porém conservando ainda os alicerces de pedra e as divisões dos lances. À frente, podem ser vistas a tulha, com as suas diversas repartições, e as ruínas das fundações do engenho. À sua esquerda, ergue-se o prédio da antiga enfermaria e, possivelmente entre esta e o engenho, deva ter existido outra edificação utilizada para serviços auxiliares ou como depósito, porém dela não restaram vestígios.

A propriedade compreende diferentes espaços, construídos e naturais. A distribuição do conjunto edificado, junto com as ruínas remanescentes no entorno dos antigos terreiros de café, forma o chamado quadrilátero funcional. Esta configuração espacial, em que a casa-sede situa-se num ponto mais elevado da topografia, evidencia a necessidade de controle e fiscalização, pelo proprietário, do processo produtivo.

Fundada por Fernando Luís dos Santos Werneck (daí sua titulação), então casado com Jesuína Policena de Oliveira, São Fernando apresenta um diferencial em relação à maioria das fazendas da região. A casa principal é formada por dois corpos que foram construídos em períodos distintos, mas interligados ao longo dos anos por um passadiço, fato que cria um interessante efeito em L no conjunto arquitetônico. Essas construções são marcadas por sua horizontalidade e pela influência neoclássica identificada nas fachadas e nos espaços internos.

No vértice desses segmentos desemboca uma pequena escada protegida por um alpendre que permite o acesso ao salão principal da residência. Os dez cômodos da casa principal, construída por volta de 1850, foram mobiliados com ricas peças dos séculos XVIII e XIX compradas em antiquários e leilões pelo seu restaurador e atual proprietário, o banqueiro Ronaldo César Coelho. A única relíquia que resta dos áureos tempos do café deixada pelo seu fundador é a imponente mesa de jantar com vinte lugares.

Em sua lateral direita, surge a capela e, à esquerda, uma sala de estar que possibilita o acesso a grande sala de jantar. Desse ponto, pode-se ter acesso à sala de almoço, cozinha e demais compartimentos de serviço, espaços construídos posteriormente, ou alcançar, à direita e já na parte posterior deste corpo, a área íntima que possibilita o acesso ao passadiço e a um jardim externo, localizado na parte de fundos da casa-sede. Alguns elementos existentes entre as duas edificações descritas são singulares, como um tanque e suas canaletas delicadamente executados em cantaria.

Amplos jardins decorados com estátuas elegantes e criteriosamente escolhidas complementam a área central da fazenda, em cuja capela casou-se Luiza Amélia d'Oliveira Werneck nascida em 12 de novembro de 1850 - filha de Fernando e Jesuína Policena -, com seu primo Inácio Barbosa dos Santos Werneck, filho de Antônio Luiz dos Santos Werneck e de D. Ana Maria d'Assunção, todos, a propósito, descendentes de Inácio de Souza Werneck, o Padre Werneck de Vera Cruz.

Após o matrimônio, o casal seguiu para a Fazenda Retiro, na localidade de Bemposta, no atual município de Três Rios, onde Inácio e Luiza Amélia foram agraciados com o título de barões de Bemposta. Registre-se que a Fazenda Retiro fora construída por Antônio Luiz dos Santos Werneck, o pai do noivo, constituindo um presente de casamento para a filha.

O prédio da Fazenda São Fernando apresenta alguns detalhes bem curiosos. No corredor que liga a sala de visitas à sala de jantar, há um trecho de pau-a-pique da parede à mostra, emoldurado como se fosse uma obra de arte para mostrar aos visitantes as técnicas de construção da época. Por outro lado, vários exemplares de arte sacra decoram as salas e a capela, como, por exemplo, a Santana Mestre esculpida em madeira, uma peça portuguesa provavelmente talhada em finais do século XVIII.

A Fazenda São Fernando está em excelente estado de conservação. Pequenos problemas já identificados relacionam-se com umidade descendente e ascendente, porém nada que comprometa a integridade da construção, pois sua conservação e manutenção são permanentes. As estruturas e vedações não apresentam trincas e fissuras e a cobertura não apresenta sinais de telhas quebradas, desalinhadas ou corridas.

Ao tempo de sua restauração, São Fernando passou por uma varredura arqueológica comandada por Marta Fonseca, trabalho que proporcionou o achado de interessantes peças de uso doméstico da fazenda, como pedaços de louças, potes de remédios e até mesmo cachimbos de escravos.