Fazenda Cachoeira Grande, Vassouras
Poucos meses após o falecimento do barão - seus herdeiros ofereceram um lauto banquete ao Conde d'Eu e à Princesa Isabel, além de outros convidados ilustres
12/04/2019
Historiador Sebastião Deister
Edição 237
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A Fazenda Cachoeira Grande surgiu em função das amplas atividades
desenvolvidas em Vassouras pela família Teixeira Leite, capitaneada a princípio
pelo barão de Ayuruóca (Custódio Ferreira Leite) e posteriormente pelo seu
sobrinho, o barão de Vassouras (Francisco José Teixeira Leite). De fato,
Francisco José, contando apenas 16 anos, fora contratado na Vila de Vassouras
para comandar a abertura da Estrada da Polícia em 1820, às margens da qual a
freguesia fora fundada. Ao se casar com sua prima Maria Esméria Teixeira Leite
em 1830, Francisco recebeu, como dote, parte das terras que logo iriam integrar
o patrimônio da Fazenda Cachoeira Grande.
Ativo e dono de rara disposição para o trabalho, Francisco de pronto deu
início à plantação do já valorizado café, mas com isso se obrigando a derrubar
grandes extensões das matas que revestiam os morros periféricos. Todavia, num
trabalho bastante racional, ordenou que se utilizassem as madeiras extraídas
dos bosques para com elas construir a casa grande de família, as senzalas, os
engenhos e outras dependências da fazenda.
Ao mesmo tempo, o futuro barão dedicava grande parte de seu tempo às
negociações financeiras em Vassouras, capitalizando, com parte de sua fortuna,
outros agricultores e colaborando com as causas sociais que aos poucos
transformavam aquela vila em um ponto de referência social, cultural, econômica
e agrícola na Província do Rio de Janeiro. Membro importante de uma das
famílias mais respeitáveis e ricas do lugar, Francisco José adquiriu, no
coração da cidade, um belíssimo e amplo palacete onde passava grande parte dos
seus dias envolvido pelos negócios referentes à cafeicultura e às casas
financeiras do Rio de Janeiro. Nessa época, a Fazenda Cachoeira Grande era
utilizada mais como residência de descanso de Francisco do que propriamente
como empreendimento agrícola, embora nela se encontrassem algumas interessantes
plantações de subsistência.
Francisco José recebeu o título de barão em 1871 e faleceu aos 80 anos
de idade em 1884, deixando um vasto patrimônio em imóveis e uma considerável
fortuna para os 18 filhos que gerou em dois casamentos. A despeito do declínio
da cafeicultura em Vassouras, a Cachoeira Grande logrou viver alguns anos mais
da pompa e do requinte que desfrutava ao longo do áureo ciclo agrícola que
abraçou Vassouras. Tanto isso é verdade que em 1884 - poucos meses após o
falecimento do barão - seus herdeiros ofereceram um lauto banquete ao Conde
d'Eu e à Princesa Isabel, além de outros convidados ilustres, como o barão de
Santa Mônica (Francisco Nicolau Carneiro Nogueira da Costa Gama, respeitável
latifundiário em terras de Valença) e o visconde de Ibituruna (João Batista dos
Santos).
Segundo o historiador Adriano Novaes,
"(...) esse talvez tenha sido o último festim de uma era de riquezas (...)"
No século XX, a Cachoeira Grande deixou de pertencer à família Teixeira
Leite. Já nos anos quarenta foi adquirida por Mário Mondovo, italiano de origem
judaica que viera para o Brasil a fim de se livrar da perseguição nazista. A
fazenda então prosperou e lançou-se a diversas atividades agrícolas, mas foi na
pecuária que ela encontrou seu fulcro maior de trabalho. Em 1987, Mondovo
repassou a propriedade para o também italiano Francesco Vergara Caffarelli que,
auxiliado pela esposa Núbia Vieira Monteiro Caffarelli, dedicou-se a um amplo
processo de restauração do casarão, cujos trabalhos se estenderam por quatro
anos.
Embora a área atual esteja reduzida em relação à sua época de fausto e
alegria, a Fazenda Cachoeira Grande ainda se dedica às atividades pecuárias e
ao turismo cultural, uma vez que Núbia e sua cunhada participam do Instituto
PRESERVALE.
O conjunto atual é formado
pela casa-sede, anexo de lazer, ruínas do antigo engenho e um museu com uma
coleção de automóveis antigos. No jardim próximo à piscina, encontramos um
vagão de trem como elemento de composição do paisagismo. Os remanescentes da
antiga fazenda são as ruínas do engenho e do trapiche. Além da casa grande, o
restante construído data de 1992.
O casarão é uma edificação
térrea com planta em forma T, porém teve sua composição alterada quando foi
reconstruída. A casa divide-se em duas alas, sendo uma longitudinal e maior
relativa ao lazer e serviços - que possui ainda alguns quartos na parte
posterior -, por onde também se faz o acesso nobre através de hall que se abre
a outras duas salas: uma de estar, outra de festas.
Nesta ala, tem-se ao centro
uma grande sala de jantar e à direita a cozinha-copa e uma sala de refeições
avarandada, com vista para um pátio com um tanque de cantaria. Na extremidade
desse anexo, há uma sala de descanso e de música. A ala íntima, transversal,
conta com seis suítes e tem acesso pela sala de jantar.
Nas fachadas, temos janelas de
guilhotina envidraçadas, com vergas retas e, na ala íntima, foram acrescidas
janelas almofadadas que abrem à francesa (para dentro). Para entrarmos na
residência, atravessamos o jardim por um passeio em pedras até uma escada de
cinco degraus. O acesso principal é por uma bela porta almofadada e emoldurada
(ombreira e verga) por peças de granito serrado, que não se integram ao
conjunto. Outro acesso é feito através do pátio, dando na sala de refeições
avarandada. Pela fachada posterior, temos um acesso de serviço.
Os beirais acachorrados (elementos expostos que suportam os beirais de um telhado ou outro corpo saliente de um edifício, como arcos, arquitraves e cornijas) remetem à tipologia original da residência,
recebendo forro com pintura na cor das molduras das janelas. Internamente,
também houve preocupação quanto ao revestimento dos forros, que, em sua
maioria, recebem encabeçamento e roda-teto nas cores branco, sangue de boi e
azul.