Fazenda São Joaquim da Grama
Município de Rio Claro - RJ
13/09/2019
Historiador Sebastião Deister
Edição 259
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A Fazenda São Joaquim
da Grama foi edificada em terras do atual Município de Rio Claro, estando bem
assentada em uma elevação do terreno junto a uma das vertentes do rio Piraí. Na
verdade, tal propriedade constituiu - juntamente com a famosa fazenda Olaria - a
maior e talvez a mais importante de todas as fazendas que surgiram nas
proximidades da extinta Vila de São João Marcos, especialmente no que concerne
à dimensão de terras, à qualidade de culturas agrícolas e pecuárias e à
quantidade de casas e anexos. Sede de numerosas outras propriedades pastoris,
era um centro de intensa atividade social e fazendária até 1889, quando o
advento da Abolição relegou seu proprietário a um esquecimento imerecido.
O casarão
O casarão está distribuído sobre um platô com portentoso muro de arrimo
em pedra e ocupa parcialmente dois níveis do terreno, apresentando o chamado
partido mineiro de meia encosta. A casa sofreu alterações para uso como
hotel-cassino na década de 1950. O quarteirão suspenso que forma o platô, hoje
ocupado por casas, mantém as características peculiares ao quadrado funcional
de produção do café. Abaixo do platô, do lado oposto da rua, há uma antiga peça
do engenho e, distante da casa-grande, no alto de uma colina e dominando a paisagem
circundante, há uma interessante capela - a Capela da Grama - em precário
estado de conservação.
O típico casarão assobradado que determina em planta baixa a figura de
um L compõe o tradicional sistema que agrupa dois pavimentos na fachada
principal (porão e andar nobre) e somente um na área de fundos. Mantém muitas
portas e janelas, apresentando sólida e equilibrada composição arquitetônica,
excêntrica em relação ao acesso principal, provavelmente alterado. Pilastras,
faixa horizontal intermediária e a cimalha fazem a trama de linhas-de-força da
composição da fachada, com maior eloquência nos cunhais. Destoa do sóbrio
conjunto da casa-sede a porta de acesso principal, levantada em arco pleno e
antecedida por escadaria em pedra São Tomé.
Os beirais possuem cimalha de madeira escalonada e telhas de ponta nos
extremos, à chinesa, prenunciando o característico telhado de ponto elevado,
quatro águas e telhas capa e canal.
No pavimento principal as janelas são de verga em arco pleno, com
ombreiras e cercaduras em madeira, com sobreverga em estuque acompanhando a
curvatura do vão. São guarnecidas por esquadrias externas em guilhotinas de
caixilhos de vidro - algumas com arcos flamejantes inscritos -, com folhas
internas em madeira enrelhada. No porão, os vãos apresentam-se em verga reta.
Casa preferida do comendador
Joaquim José de Souza Breves e de sua esposa Maria Izabel de Moraes Breves, lá
se encontravam em alegres reuniões inúmeras e ilustres famílias do Rio de
Janeiro e de outras cidades próximas, sempre acolhidas com prazer e rara
hospitalidade por aquele que passou à História com o título de Rei do Café.
A residência principal
apresentava um apurado estilo colonial, ficando a cavaleiro de muralhas postas
em anfiteatro. O prédio - dominando o vale do Piraí - mostrava-se
permanentemente rodeado de jardins floridos e decorados com estatuetas e
azulejos coloniais e pomares convidativos que permitiam a contemplação da vasta
e azulada serrania lançada em direção Oeste. Com 45 metros de frontaria e
12 janelas superiores, a casa-grande foi estrategicamente construída com duas
alas postas em dois pavimentos, numa perfeita e harmônica simetria com seus
pátios amplos e arejados.
6.000
escravos
Trabalhavam para o Comendador cerca de 6.000 escravos, espalhados por
suas inúmeras propriedades. Em São Joaquim da Grama, a quantidade de gente que
morava nos arredores da casa-sede fazia a fazenda parecer um povoado no meio
das montanhas da Serra do Mar. Ao redor da sede, jardins e pomares
complementavam a exuberância da casa.
A socialite Danna de Tefé
A imensa e austera
capela de São Joaquim da Grama serviu de túmulo para o Rei do Café e sua
esposa. Contudo, após o caso do assassinato da socialite Danna de Tefé, a polícia carioca recebeu uma denúncia
dando conta de que o corpo fora enterrado junto às sepulturas da igreja. Por
conseguinte, os túmulos dos Breves foram revirados e o espaço ficou amaldiçoado
pelo povo local. Chocados e ofendidos, os parentes transferiram então os corpos
de Joaquim de Souza Breves e Maria Isabel de Souza Breves para Barra do Piraí
para que não ficassem à mercê de novas violações.
A igreja, situada num
belo altiplano, domina toda a área de São Joaquim da Grama e encontra-se hoje
totalmente destruída. O sino foi roubado, a escada em caracol confeccionada com
madeirame de lei por anos serviu de pasto para os cupins e seus altares
trabalhados já não exibem nem sombra de sua beleza dourada de outrora. É
verdade que ainda se consegue visualizar parte da pintura do seu teto e restos
do mármore do assoalho, mas o templo agora é um espaço triste e abandonado que
serve apenas como abrigo de animais e bois errantes.
Fonte
Principal: Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba