Fazenda São Luiz da Boa Sorte
De fato, pelas quatro propriedades administradas pela família de Cláudio estavam listados 835 escravos: 444 na Guaribu, 305 na Antas, 80 na Encantos e 6 na Boa União. Esses escravos, em conjunto, representavam 62,1% de sua fortuna.
27/09/2019
Historiador Sebastião Deister
Edição 261
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A Fazenda São
Luiz da Boa Sorte localiza-se às margens da BR-393 (Rodovia Lúcio Meira) e do
Rio Boa Sorte, nas proximidades da localidade vassourense de Andrade Pinto. O
belo solar fica praticamente junto à estrada, tendo sido construída em um
grande platô elevado cerca de 5 metros em relação ao seu entorno, dominando,
desta forma, a visão de grande parte das terras formadoras da vasta propriedade
fazendária.
A atual
Fazenda São Luiz da Boa Sorte surgiu da aglutinação física das fazendas São
Luiz e Boa Sorte, ambas nascidas em terras de uma antiga sesmaria denominada
Pescado, parte de um complexo formado por 17 áreas concedidas aos sócios José
Rodrigues da Cruz e Antônio Ribeiro de Avelar. Com a morte de Antônio Ribeiro
de Avelar, seus bens passaram à administração de Luís Gomes Ribeiro de Avelar,
casado com Joaquina Matilde de Assumpção, cujo centro de atuação no Vale
encontrava-se estabelecido na famosa fazenda Pau Grande em terras da freguesia
de Paty do Alferes.
Importante
recordar que Luís Gomes Ribeiro
de Avelar e Joaquina Mathilde de Assumpção eram pais do barão de Guaribu
(Claudio Gomes Ribeiro de Avelar), do 1ª barão de São Luís (Paulo Gomes Ribeiro
de Avelar), do visconde da Paraíba (João Gomes Ribeiro de Avelar) e da baronesa
de Paty do Alferes (Maria Isabel Assumpção Ribeiro de Avelar Peixoto de Lacerda
Werneck), além de outros nove filhos, entre eles Quintiliano Gomes Ribeiro de
Avelar, cuja trajetória histórica iria se cruzar com os movimentos fazendários
na São Luiz da Boa Sorte.
Por seu
turno, Cláudio Gomes Ribeiro de Avelar, o barão de Guaribu, foi um dos grandes
senhores de terras, isto é, um megaproprietário de escravos quando morreu em
1863, época em que Vassouras vivia seu apogeu. De fato, pelas quatro
propriedades administradas pela família de Cláudio estavam listados 835
escravos: 444 na Guaribu, 305 na Antas, 80 na Encantos e 6 na Boa União. Esses
escravos, em conjunto, representavam 62,1% de sua fortuna. As terras
representavam 13,5%, os cafezais, 11,9% e cafés em coco, 5,7%. Já os poucos 7%
restantes estavam distribuídos em construções diversas, pratas, animais,
instrumentos de trabalho, máquinas e ferramentas.
Tempos
depois, por conta de desavenças com a sogra, Luís Gomes deixou a sociedade que
estabelecera na Pau Grande, fundando outra fazenda denominada Guaribu. Decisão
semelhante ocorreu com seus filhos, que, tendo em mãos a grande herança deixada
pelos pais, criaram suas próprias fazendas. Paulo Gomes Ribeiro de Avelar trouxe
ao Vale, em 1835, a Fazenda São Luiz e Quintiliano Gomes Ribeiro de Avelar,
poucos anos depois, a Fazenda Boa Sorte, ambas, a propósito, bem próximas.
Paulo foi
agraciado em 1861 com título de barão de São Luiz, ao passo que Quintiliano se
tornava Tenente-Coronel da Guarda Nacional. Com a morte de Paulo em 1870, a
viúva vendeu a fazenda ao Capitão João Barbosa dos Santos Werneck, que trocou o
nome da fazenda para São Luís de Ubá, diferenciando-a, assim de outra propriedade
sua batizada como São Luís de Massambará.
O Capitão
João Barbosa faleceu em 1874, tomando à frente dos negócios da fazenda a viúva Zeferina
Adelaide. Em 1877, na Fazenda Boa Sorte, Quintiliano promoveu grande reforma de
caráter estético. Acredita-se que tal reforma seria para atender à visita do
Conde d`Eu. Sabe-se que, inclusive, um aposento foi preparado e mobiliado
especialmente para o conforto do ilustre marido da Princesa Isabel.
Em 1891,
Zeferina resolveu dividir seus bens entre os filhos. Para a filha Francisca
Adelaide dos Santos, casada com Dr. João Gomes dos Reis, reservou-se a Fazenda
São Luís de Ubá, avaliada na época em Rs. 180:176$546 (cento e oitenta contos,
cento e setenta seis mil e quinhentos e quarenta e seis réis). Entretanto, neste
mesmo ano os herdeiros de Quintiliano perderam a Fazenda Boa Sorte para
credores que, após a execução judicial, promoveram leilão em hasta pública,
sendo a mesma arrematada pelo Dr. João Gomes dos Reis, ocorrendo então a fusão
das duas fazendas, passando a nova propriedade a ser denominada São Luiz da Boa
Sorte e seu grande solar constituindo a sede principal das duas fazendas.
A família Gomes
dos Reis reteve a fazenda até 1942, quando Orlando Gomes dos Reis resolveu vendê-la
a Rodrigo Ventura Magalhães. Rodrigo, que adquiriu a fazenda em ruínas e sem o
mobiliário original, promoveu uma primeira grande reforma, procurando manter as
características originais do solar. Entre 1973 e 1974, houve outra reforma na
fazenda, quando foi então substituída grande parte do madeiramento já
completamente destruído. Após o falecimento de Rodrigo Ventura, seus herdeiros
resolveram vendê-la ao empresário Ricardo Pimentel.
Infelizmente,
a casa viu-se, anos atrás, vandalizada com a retirada da quase totalidade de
suas esquadrias e serralherias para serem vendidas como material de segunda
mão. Atualmente, a enorme e requintada propriedade pertence ao Conselheiro do
Tribunal de Contas da Cidade do Rio de Janeiro, Nestor Martins Rocha, que ali
promoveu intensos trabalhos de recuperação do todo o conjunto arquitetônico da fazenda
e de seu entorno, espaço histórico e patrimonial hoje aberto para visitação
após agendamento prévio.
Atualmente, a fazenda São Luiz
da Boa Sorte trabalha com hotelaria especializada, possuindo um total de 21
suítes devidamente estruturadas e ambientadas com móveis de época, o que
torna a experiência de ali se hospedar algo único.