Pesquisas da UFPR usam vespas para conter praga de lagartas
Pesquisadoras do Laboratório de Controle Integrado de Insetos foram premiadas por apontarem para controle biológico que pode até abolir uso de pesticidas
04/10/2019
Planeta Colabora
Edição 262
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Foto 1 - A pesquisadora Tamara Takahashi no Laboratório de Controle
Integrado de Insetos da UFPR: identificação de novas pragas de lagartas e novas
espécies de vespas (Foto: André Filgueiras/UFPR)
Amanda Miranda*
Duas pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório de Controle Integrado de
Insetos, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), identificaram soluções para
eliminar os problemas da lavoura sem abuso de pesticidas. Os estudos das
pesquisadoras Tamara Takahashi e Magda Fernanda Paixão, ambas do Programa de
Pós-Graduação em Agronomia - Produção Vegetal, foram premiados como destaques,
em primeiro e terceiro lugar, respectivamente, no Simpósio Nacional de Controle
Biológico. As pesquisas se alinham por apontarem para o futuro, buscando
soluções que deem conta de lidar com novas pragas e com a resistência ao gene
Bt, utilizado para eliminar as lagartas que danificam a produção agrícola: as
duas pesquisam vespas para reduzir o dano das pragas.
"Em alguns casos, com as técnicas de manejo
adequadas, o controle biológico pode abolir o uso de pesticidas" - Tamara Takahashi, pesquisadora da UFPR
De acordo com o professor Luís Amilton Foerster, que orienta as duas
pesquisas, a proposta é justamente se antecipar aos eventuais problemas que
devem aparecer com o uso, em larga escala, dos cultivos transgênicos. Ele
explica que o gene Bt, inserido em plantas como a soja e o milho, funciona
apenas em espécies suscetíveis à proteína tóxica. Para as lagartas naturalmente
tolerantes ou resistentes, portanto, seria necessário pensar em outra solução.
Segundo o professor, o uso de componentes químicos, além de mais caro,
representa um risco ambiental e à saúde. O controle biológico, ao contrário,
utiliza a própria natureza como matéria-prima para reduzir os danos das pragas.
Caso bem aplicado, ele pode reduzir em até 50% a necessidade de aplicação de
inseticidas. "Em alguns casos, com as técnicas de manejo adequadas, o controle
biológico pode abolir o uso de pesticidas", explica Tamara Takahashi.
Foto 2 - Magda Paixão no laboratório da UFPR: pesquisa usou microvespas
para obtenção de parasitoides mais eficientes, contra as larvas da lagarta, utilizando
como hospedeiros ovos de mariposas (Foto: André Filgueira/UFPR)
O estudo de Tamara envolveu a identificação de novas pragas em duas
safras de soja. A pesquisa registrou um aumento de 60 para 250 lagartas
coletadas de 2017 para 2018, mas também antecipou a solução. A pesquisadora
conseguiu identificar cinco novas espécies de vespas que parasitam os ovos das
lagartas, eliminando-os. Os dados de uma delas, ainda em fase de taxonomização
- descrever as espécies e catalogá-las para que outros cientistas possam
trabalhar com elas -, surpreenderam positivamente a equipe, que desenvolve essa
etapa da pesquisa em parceria com pesquisadores da Argentina e da Inglaterra.
"O que nós fazemos é inovador porque estamos
pensando lá na frente, em soluções que possam ser viáveis para um problema que
já está ocorrendo" - Luís
Amilton Foerster, professor da UFPR e orientador das pesquisas
Ovos mais produtivos e resistentes
O estudo de doutorado e pós-doutorado de Magda Paixão segue na mesma
direção: a busca de um controle biológico eficiente que ofereça soluções antes
que os danos e prejuízos aos produtores seja maior. No caso dela, o objeto
estudado são as microvespas de nome Trichogramma, e sua pesquisa
trabalhou com a obtenção de parasitoides mais eficientes, utilizando como
hospedeiros ovos de mariposas maiores, que se revelaram resistentes ao
armazenamento em nitrogênio líquido por até um ano.
Segundo a pesquisadora, com essa técnica de estocagem será possível
produzir, em larga escala, vespas com maior potencial de buscarem e se alojarem
nos ovos das lagartas, e com mais longevidade. Isso seria uma alternativa às
vespas produzidas em ovos de baixo valor nutricional obtidos de pequenas
mariposas, uma solução já em uso pela indústria.
Magda reforça que vespas de maior qualidade e longevidade favorecem à
adaptação ao ambiente, o que também contribui para a redução do uso de
pesticidas na agricultura. "O que nós fazemos é inovador porque estamos
pensando lá na frente, em soluções que possam ser viáveis para um problema que
já está ocorrendo", explica Foerster, que vai compartilhar o sobrenome com o da
nova espécie de vespa identificada no Laboratório. "É uma homenagem ao professor",
conta Tamara.
*Da Revista Ciência UFPR