Casca de tomate para produzir embalagens antioxidantes
Pesquisa da Universidade Federal de Lavras usa materiais de fontes biodegradáveis e renováveis para desenvolver produto
01/11/2019
Planeta Colabora
Edição 266
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Pesquisadoras
da Universidade Federal de Lavras (UFLA), no sudeste de Minas Gerais,
desenvolveram uma embalagem que utiliza a casca de tomate para tornar a
embalagem antioxidante. "O objetivo deste trabalho é o reaproveitamento da
casca de tomate, que é um resíduo da produção de molhos de tomate, para a
obtenção de um filme biodegradável e antioxidante. A casca de tomate foi
adicionada ao amido de mandioca e as embalagens foram obtidas pelo processo de
extrusão", explica Laura Fonseca, doutoranda em Engenharia de Biomateriais.
As pesquisas
com embalagens no Laboratório de Embalagens do Departamento de Ciência dos
Alimentos (DCA) visam atender às demandas de produtos cárneos, derivados do
leite e frutas, considerados alimentos mais perecíveis. "Esses produtos
requerem embalagens convencionais mais caras, impermeáveis; então, se
colocarmos um filme contendo substâncias livres ou encapsuladas, um sachê no
interior da embalagem que tenha propriedades antimicrobiana e antioxidante, por
exemplo, é possível diminuir o custo daquela embalagem que vai por cima e
aumentar a vida útil daquele produto, garantindo também sua segurança
nutricional", explica a professora Soraia Vilela Borges.
"Foi
importante esse resultado com a casca de tomate: como é resíduo da indústria de
molho de tomate, nós queríamos mesmo reaproveitar as cascas. Agora nós vamos
testar com a castanha-do-pará, que tem alto valor agregado, para ver em quanto
tempo essa embalagem efetivamente vai retardar a oxidação" - Laura Fonseca, pesquisadora
do Laboratório de Embalagens do Departamento de Ciência dos Alimentos da UFLA
A professora
Marali Vilela Dias, que coordena o laboratório com a professora Soraia,
ressalta que os estudos utilizam também a nanotecnologia. "A incorporação
dessas nanopartículas contribui para reforçar esses materiais, melhorando suas
propriedades e colaborando também para deixar essas embalagens mais eficientes
em suas funções ativas ou inteligentes", comenta Marali. "Nós usamos materiais de
fontes renováveis, como proteína de soja, proteína de soro de leite e a
quitosana (derivada do esqueleto externo duro de crustáceos)", acrescenta a
professora.
A pesquisadora
Laura Fonseca explica que a casca de tomate é rica em licopeno, um poderoso
antioxidante responsável pela coloração avermelhada do tomate. "Nós testamos
dois processos para produzir a embalagem: um com a polpa de tomate e outro com
a casca de tomate, sempre misturados com amido. No fim do processo, fizemos uma
prensagem para chegarmos a esse filme, essa base para a produção da embalagem. Nos
testes iniciais, observamos que o filme com a casca de tomate obteve uma ação
antioxidante muito boa e agora vamos aplicar essa embalagem em castanhas",
conta Laura Fonseca, que desenvolve a pesquisa com apoio da Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - Fapemig.
As castanhas
possuem problemas com a oxidação lipídica, que provoca a deterioração das
propriedades do alimento (causando o chamado ranço). De acordo com Laura, o
próximo passo da pesquisa é o teste da embalagem nas castanhas para verificar o
tempo de armazenamento e a ação antioxidante da casca do tomate. "Foi
importante esse resultado com a casca de tomate: como é resíduo da indústria de
molho de tomate, nós queríamos mesmo reaproveitar as cascas. Agora nós vamos
testar com a castanha-do-pará, que tem alto valor agregado, para ver em quanto
tempo essa embalagem efetivamente vai retardar o oxidação", explica a
pesquisadora.
Na UFLA,
diversos laboratórios de diferentes cursos têm buscado em fontes renováveis
novas opções de embalagens biodegradáveis, sejam elas ativas, inteligentes ou
blendas. Há mais de 13 anos, novas embalagens para alimentos têm sido alvo de
diversas pesquisas no Laboratório de Embalagens do Departamento de Ciência dos Alimentos
(DCA). "Comecei a desenvolver as pesquisas de embalagens biodegradáveis na
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e depois prossegui os estudos aqui
em Lavras", recorda Soraia Borges, coordenadora do laboratório.
Para a
pesquisadora, no futuro, as embalagens deverão ser as "blendas ou compósitos
ativos e inteligentes", ou seja, embalagens que trazem consigo diversas funções
e materiais com propriedades antimicrobianas e resistência térmica, por
exemplo. "Nós estamos buscando desenvolver embalagens biodegradáveis e com
essas propriedades, que tenham uso comercial", acrescenta a professora Soraia.
Foto 1 - Material para produção de embalagem
feito a partir de casca de tomate (esquerda) e polpa de tomate (direita): filme
da casca teve efeito antioxidante maior (Reprodução/Núcleo de Divulgação
Científica da UFLA)
Foto 2 - A pesquisadora Laura Fonseca no
Laboratório de Embalagens do Departamento de Ciência dos Alimentos: "Como a
casca do tomate é um resíduo da indústria de molho de tomate, nós queríamos
reaproveitar" (Reprodução: Núcleo de Divulgação Científica da UFLA)
Foto 3 - A professora Marali Vilela Dias no
Laboratório de Embalagens da UFLA: uso de nanopartículas para melhorar a qualidade
do material (Foto: Núcleo de Divulgação Científica da UFLA)