Fazenda Serraria

Fazendas de Café do Vale do Paraíba Fluminense - 40

 13/12/2019     Historiador Sebastião Deister      Edição 272
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Titulado em 2 de dezembro de 1854, Hilário Joaquim de Andrade (o barão de Piabanha, talvez a mais benemérita figura da história gaspariense) nasceu em Paraíba do Sul, na antiga Província do Rio de Janeiro, em 13 de janeiro de 1796 e faleceu em 17 de abril de 1865 na Fazenda da Serraria, de sua propriedade, localizada nas atuais terras do município de Levy Gasparian, sendo filho do Capitão-mor Cristóvão (ou Christóvam) Rodrigues de Andrade, natural da freguesia de Cota, Viseu, Portugal, e de Ana Esméria de Pontes França, natural de Paty do Alferes. Durante o ano de 1824 exerceu as funções de Presidente da Câmara Municipal de Paraíba do Sul, ocupando ainda o cargo de Presidente do Partido Conservador que mantinha sérias divergências com o Partido Liberal comandado pelo visconde da Paraíba (João Gomes Ribeiro de Avelar). Anteriormente, ocupara ainda o nobre cargo de Coronel da Guarda de Honra de Sua Majestade D. Pedro I. Além de se eleger como Deputado à Assembleia Provincial do Rio de Janeiro, presidiu a Comissão Sanitária de 1855, quando prestou serviços de enorme relevância durante o violento surto de cólera daquele ano, chegando inclusive a montar em sua fazenda, por conta própria, um hospital especializado para atendimento dos doentes afetados pelo mal. Recebeu do Império as honras de Dignatário da Imperial Ordem da Rosa e Comendador da Imperial Ordem de Cristo.

Hilário - casado com Matilda Rosa da Veiga - foi um notável senhor de fazenda e grande exemplo de cafeicultor na zona periférica às terras de Três Rios, destacando-se ainda como produtor de açúcar e de madeiras beneficiadas, estas aparelhadas em sua vasta propriedade, daí a designação de Fazenda da Serraria. Em 1860 - quando proliferavam as melhores safras de café pelo vale do Paraíba - o precioso grão já figurava como uma das mais lucrativas lavouras em suas amplas terras. Tanto isso é verdade que, nos meses finais daquele ano auspicioso, o barão administrava em sua fazenda um total de 340.000 pés de café, todos em franca produção.

Na Fazenda da Serraria destacou-se bastante a senhora Ana Esméria de Pontes França, mãe do visconde e sogra de Laureano Correia e Castro, o barão de Campo Belo, vindo assim a ser bisavó da famosa Eufrásia Teixeira Leite, de Vassouras.

Sobre a personalidade e os feitos do visconde, a História Geral dos Homens Vivos e dos Homens Mortos do século XIX - editada em Genebra publicou um longo artigo elogiando suas qualidades, lembrando que "(...) a Fazenda da Serraria, de sua propriedade, era um verdadeiro templo de hospitalidade: Saint-Hilaire, Selleau e Castelnau, além de outros eminentes naturalistas que por lá passaram, o atestam em suas obras (...)"

O território hoje compreendido pelo Município de Comendador Levy Gasparian foi desbravado nos últimos anos do século XVII e nas primeiras décadas do século seguinte pelo bandeirante paulista Garcia Rodrigues Paes, quando da abertura do Caminho Novo entre o Rio de Janeiro e as Minas Gerais. Em recompensa pelos serviços prestados nesta empreitada, recebeu larga extensão de terras entre os rios Paraíba do Sul e Paraibuna, onde fundou, dentre outras, uma fazenda com o nome de Parahybuna.

Em 1805, o Capitão Christóvão Rodrigues de Andrade adquiriu as terras da Fazenda de Parahybuna de descendentes de Garcia Rodrigues Paes, logo iniciando o rentável plantio de largas roças de cana-de-açúcar. Mais tarde, foi aberta a Fazenda de Serraria, em parte desmembrada das terras de Parahybuna, que então seria herdada pelo barão de Piabanha. Importante recordar, novamente, que durante a epidemia de cólera de 1855, o Barão do Piabanha fez construir com os seus próprios recursos dois hospitais para atendimento da população pobre da região. Já em 1861 doou toda a extensão de terras necessárias à passagem da Estrada União e Indústria pelo hoje território do município, bem como a área necessária para a construção da Estação de Mudas de Cavalos da Serraria, origem do atual centro de Monte Serrat, onde hoje se encontra o abandonado Museu Rodoviário.

Na verdade, no ano de 1884 foi criado o distrito de Mont Serrat, pertencente ao Município de Paraíba do Sul que, em 1938, viu-se administrativamente anexado ao recém-criado Município de Três Rios. Por outro lado, pelo desenvolvimento alcançado pelo povoado de Serraria este ganhou a categoria de distrito no ano de 1955, alterado em 1963 para Comendador Levy Gasparian, em homenagem ao industrial de igual nome e de origem armênia que, em 1953, ali instalara um vasto parque industrial fabril. Todavia, no final da década de 1980 a insatisfação da população local era grande com o descaso das autoridades de Três Rios para com seus anseios. Assim, logo foi criada a Comissão Pró-Emancipação de Comendador Levy Gasparian, que no ano de 1991 resultou na criação do município.

Importante centro de produção e distribuição de madeira para as áreas irrigadas pelo rio Paraibuna ao longo de decênios do século XIX (daí seu título), a fazenda da Serraria despareceu por completo, havendo pelas cercanias apenas uma depauperada estação ferroviária que atendia as composições destinadas ao sul de Minas Gerais.