Fazenda Boa Vista

Toda a produção de açúcar era vendida para o exterior e levada em suas próprias embarcações que navegavam até as Índias e a África. No retorno, traziam negros escravizados, o que aumentou em muito a riqueza do capitão.

 03/01/2020     Historiador Sebastião Deister      Edição 275
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Localizada em Paraíba do Sul, a Fazenda Boa Vista foi, por longos anos, o solar preferido do visconde da Paraíba (Joaquim Gomes Ribeiro de Avelar). Apesar da incúria do tempo, a estrutura da casa não sofreu qualquer modificação mais expressiva, a despeito de o revestimento das paredes ter sido alterado por uma obra realizada há cerca de 50 anos.

Uma das características mais cativantes da Fazenda Boa Vista é o fato de suas portas e janelas envidraçadas se abrirem para o lado de fora, ao passo que aquelas confeccionadas em madeira voltam-se para dentro da casa. Sua fachada apresenta ainda balcões com grades de ferro trabalhado apoiados em grandes pedras de cantaria. Os suportes desses balcões sustentavam, em tempos idos, as luminárias alimentadas por óleo de azeite de mamona, especialmente quando da realização de grandes festas na propriedade.

A fazenda tem acesso pela rodovia BR 393. A casa grande acha-se circundada por jardins com repuxos, arborização e pomar com árvores de frutas diversas, este localizado à frente e junto à sua lateral direita.

Nos fundos, a propriedade é emoldurada por morros do tipo meia laranja, arborizados ou não, aspecto geomorfológico característicos nas áreas paraibanas. Nota-se ainda o curso d'água que percorre a propriedade paralelamente à casa principal, aproveitado para gerar energia em usina própria encravada no fundo do vale.    Datada de 1834, Boa Vista recebeu, em 1932, uma grande reforma que incorporou à casa a construção de repuxos, novos jardins murados, acréscimo de construção nos fundos, varanda lateral, grades e novo acesso, além de outras particularidades decorativas.

A fazenda surgiu da união de duas sesmarias concedidas pela Coroa Portuguesa em 1811. Ali, seus dois sesmeiros já cultivavam alimentos antes de receber as terras e, nas requisições das sesmarias, este foi o motivo usado para convencer o Rei de Portugal de que eles mereciam as terras. As sesmarias chamavam-se Cachoeira da Boavista e Surubiquara. Um dos sesmeiros, o capitão Manuel Joaquim de Azevedo, logo comprou do outro sesmeiro as suas terras, formando assim a Fazenda Boavista.

Nesta época, construiu um grande engenho de açúcar e cultivou cana. Toda a produção era vendida para o exterior e levada em suas próprias embarcações que navegavam até as Índias e a África. No retorno, traziam negros escravizados, o que aumentou em muito a riqueza do capitão.

Após sua morte e da esposa, a fazenda ficou para seu genro, João Gomes Ribeiro de Avelar, titulado visconde da Paraíba, que transformou a fazenda em grande produtora de café. João foi homem público prestigiado na região, recebendo em seu palacete, que mandou construir em 1860, importantes figuras do Império, principalmente do Partido Liberal. Com a morte do visconde, em 1879, as terras passaram aos filhos. Como tinha fundado nas terras outras fazendas, como Santa Teresa e Conceição, coube a cada um deles uma propriedade. Boavista ficou com seu segundo filho, Joaquim de Azevedo Avelar, que a vendeu ao governo imperial, que tinha o projeto de ali instalar uma hospedaria para imigrantes, o que ocorreu após a Proclamação da República.

O casarão-sede é assobradado com dois pavimentos que comportam, na fachada principal, onze vãos cada, com cercaduras em madeira, vergas e sobrevergas retas, exceção feita, no térreo, à portada de acesso principal - no eixo de simetria da composição - com verga em arco abatido e, na qual se lê, entre a verga e a sobreverga, o dístico F. BOA VISTA.

A tipologia estilística alinha esta construção à vertente neoclássica rural, evidenciada por certa pureza formal e contenção decorativa. Na fachada lateral direita as janelas são em guilhotina com desenhos diferenciados, provavelmente posteriores à construção original, advindas de outras construções históricas. Elementos decorativos e ornatos dignos de nota são as sobrevergas suportadas por consoles decorados por losangos. Observa-se a presença de ornatos na cumeeira e extremos dos beirais da fachada frontal, além de estruturas metálicas apostas as sacadas do segundo pavimento, para suporte de iluminação a óleo. Provavelmente em 1932, foram incluídos balcões de ferro com grades na fachada frontal, no segundo pavimento, que não correspondem à tipologia original da fazenda. No balcão principal, também no segundo pavimento, as mãos-francesas de concreto, que dão sustentação a este balcão, são elementos que descaracterizam a obra. Há evidências de fundação de pedra, paredes de vedação em pau-a-pique e alguns trechos em adobe, bem como acréscimos em material convencional.

Na fundação verificou-se, tanto interna como externamente, a ausência de trincas, porém observou-se a presença de umidade ascendente controlada, pois, na reforma, a colocação de pedra no embasamento serviu de barreira física contra possíveis infiltrações.

Nas paredes de vedação observa-se, na parede interna do porão, umidade ascendente com perda de material decorrente da presença de sais. Há que se destacar a argamassa com baixa porosidade por conta da grande quantidade de cimento em sua composição.

Na cobertura algumas telhas de cerâmica (capa) estão corridas, deslocadas ou foram substituídas. Notam-se, também, manchas escurecidas em pontos da cimalha da fachada lateral esquerda, indicando a presença de infiltração (isto é, umidade descendente).

A estrutura de madeira apresenta boas condições gerais. Cunhais e pilares externos aparentes apresentam bom aspecto visual. Outros pilares, frechais e madres mostram bom estado de preservação pela não existência de resíduos trazidos pela ação de insetos xilófagos.

 

Fonte Principal: Inventário das Fazendas do Vale do Paraíba