Marquês (e barão com grandeza) de Valença
Em maio de 1822, acompanhou D. Pedro I em sua célebre viagem a Minas Gerais, desempenhando junto ao Imperador as funções de Ministro de todas as Repartições Públicas
31/01/2020
Historiador Sebastião Deister
Edição 279
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Nascido
na Fazenda da Cachoeira em 20 de julho de 1777, no Arraial dos Prados, na
Comarca de Rio das Mortes, em Minas Gerais, faleceu em Valença a 8 de setembro
de 1856, deixando uma numerosa prole pelo Brasil. Estêvão Ribeiro de Resende,
proprietário da famosa Fazenda das Coroas, era filho do Coronel Severino
Ribeiro, natural de Lisboa e descendente de uma nobre família daquela cidade, e
de D. Josefa Maria de Resende, oriunda de rica família de Prados (MG). Fluente
em latim, francês, italiano, retórica e filosofia, seguiu bem jovem para
Coimbra, cidade em que, no ano de 1802, formou-se com louvor em Leis. Na mesma
ocasião foi nomeado como Juiz de Fora da pequena cidade de Palmila, nas
vizinhanças de Lisboa. Anteriormente, em 1801, fizera uma rápida viagem ao
Brasil a fim de participar do enterro do pai. Retornando a Lisboa, recebeu o
hábito da Ordem de Cristo como recompensa pelos serviços que seu pai prestara
ao Reino Português. Estêvão enfrentou sérios problemas com a invasão de
Portugal comandada pelo rude General francês Junot, que passou a persegui-lo, alegando
que ele não cumpria as determinações e ordens emanadas pelas autoridades
francesas. Estêvão, entretanto, conseguiu escapar dessa perigosa situação em
função do auxílio recebido do amigo Gomes Freire de Andrade e ainda da proteção
que lhe dispensava o general francês Degrandorge que, ao contrário do implacável
Junot, admirava-o profundamente pela sua erudição e pela sua lealdade à Corte
Portuguesa. Sagaz e extremamente fiel ao Reino de Portugal, em 1808 ele ocultou
todos os dinheiros públicos e os dos órfãos debaixo do Altar de São Pedro ao
mesmo tempo em que preparava sua fuga de Portugal. Depois, disfarçou-se da
melhor maneira possível e clandestinamente rumou para Lisboa, onde permaneceu em
segurança até 1810, ano da fuga da Corte Portuguesa.
De volta
ao Brasil, Estêvão foi de pronto nomeado por D. João VI para o cargo de Juiz de
Fora da cidade de São Paulo. Em seguida, desempenhou diversas funções públicas,
entre as quais a de Fiscal de Diamantes no Serro Frio, em Minas Gerais, em
1816; Desembargador da Casa de Suplicação e da Casa de Relação da Bahia, também
em 1816; Deputado à Assembleia Constituinte por Minas Gerais em 1823; Ministro
do Império no 3º Gabinete em 10 de novembro de 1823; Senador do Império, cargo
que exerceu por mais de 30 anos; Desembargador do Paço em 1824; Deputado Geral
por Minas Gerais em 1825; Senador por Minas Gerais e São Paulo em 1826;
Ministro da Justiça no 6º Gabinete de 15 de janeiro de 1827; Conselheiro
Honorário de Estado em 1827 e Presidente do Senado em 1844. Em maio de 1822,
acompanhou D. Pedro I em sua célebre viagem a Minas Gerais, desempenhando junto
ao Imperador as funções de Ministro de todas as Repartições Públicas.
Em
1826, recebeu os títulos de barão com Grandeza e de conde de Valença, já no
reinado de D. Pedro I. Em 1848, viu-se agraciado com a elevação a marquês, por
deferência de D. Pedro II. A propósito, nesse mesmo ano D. Pedro II, em visita
aos municípios fluminenses, recebeu opulenta hospedagem na cidade de Valença,
onde o barão possuía rico e confortável palacete na área localizada nos fundos
da Catedral daquela cidade.
O marquês era ainda Grande do Império,
Cavaleiro Fidalgo, Cavaleiro da Grã Cruz da Ordem Imperial do Cruzeiro,
Cavaleiro da Ordem de Cristo de Portugal e sócio do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro.
O barão de Resende casou-se com D. Ilídia
Mafalda de Souza Queirós, irmã do barão de Limeira (Vicente de Souza Queirós) e
do barão Souza Queirós com Honras de Grandeza (Francisco Antônio de Souza
Queirós) e filha do brigadeiro e fidalgo português Luiz Antônio de Souza
Queirós (1760-1819) - possivelmente a maior riqueza de São Paulo em finais do
século XVIII - e de D. Genebra de Barros Leite. D. Ilídia nascera em São Paulo
em 14 de maio de 1805, vindo a falecer no Rio de Janeiro em 24 de julho de
1877. Após sua titulação como marquesa de Valença exerceu as funções de Dama de
Honra de Sua Majestade, a Imperatriz Teresa Cristina. Do casal nasceram 11
filhos, porém o marquês legitimou mais cinco filhos bastardos, nascidos antes
de seu enlace com D. Ilidia, entre eles o 2º barão de Lorena com Grandeza
(também batizado como Estêvão Ribeiro de Resende).
Todas as fazendas do marquês
localizavam-se na área do município de Valença. Nelas, além de proporcionar
trabalho a inúmeros colonos portugueses, Estêvão mantinha cerca de 500
escravos.
O marquês
faleceu no dia 8 de setembro de 1856, aos 79 anos, deixando alguns filhos ainda
menores. Um deles, batizado como Estêvão Ribeiro de Souza Resende, chegou a ser
titulado como 2ª barão de Resende e se transformou em grande fazendeiro em
Piracicaba. Por sua vez, a marquesa morreu em 24 de julho de 1877, com 72 anos.
Ambos foram sepultados no Cemitério São Francisco de Paula, no Catumbi.
Já uma
de suas netas - Maria de Souza Resende -, filha do 2° barão de Valença,
tornou-se condessa de Serra Negra após a morte do marido, o barão Francisco
José da Conceição. Outro ramo da família, também agraciado pelo Império com
Honras Nobiliárquicas, foi comandado pelo Coronel Geraldo Ribeiro de Resende,
irmão do marquês, cujo filho José de Souza Resende se tornou o barão de Juiz de
Fora. Os filhos desse barão, por sua vez, foram titulados como barão do Retiro
(Geraldo Augusto de Resende) e 3° barão do Rio Novo, com Grandeza (José Augusto
de Resende).
BRASÃO DE ARMAS: Escudo partido em azul e ouro: no primeiro, as Armas de Damião Dias
Ribeiro, que são um leopardo de prata passante e um chefe de ouro com três
estrelas em vermelho; no segundo, as Armas dos Resende, que são duas cabras de
prata, tingidas de ouro. O Brasão foi passado em 29 de novembro de 1829, com
Registro no Cartório da Nobreza, Livro VI, Folha 1.
TIMBRE: O leopardo das Armas, com uma estrela de goles
na espádua e, por diferença, uma brica com uma flor.